Cláudio Castro usa retórica de Trump e defende enquadrar Comando Vermelho como grupo terrorista
Governador do Rio cita decisões de Argentina e Paraguai e afirma que o Brasil precisa “encarar a realidade” diante do avanço do narcoterrorismo
247 - O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, voltou a defender neste fim de semana que o Brasil reconheça o Comando Vermelho (CV) como grupo terrorista. Em publicação na rede social X (antigo Twitter), o governador compartilhou trecho de reportagem do jornal O Globo sobre como diferentes países da América do Sul vêm classificando facções criminosas brasileiras e estrangeiras como organizações terroristas.
Segundo a reportagem, tanto a Argentina quanto o Paraguai já incluíram o CV e o Primeiro Comando da Capital (PCC) em suas listas de grupos terroristas, decisão que reacendeu o debate sobre segurança e soberania na região. O governo brasileiro, por outro lado, tem evitado seguir o mesmo caminho, alegando risco de intervenção internacional e de equiparação indevida entre crime organizado e terrorismo.
Para Cláudio Castro, o problema ultrapassa fronteiras. “A discussão desta semana vai muito além da segurança pública do Rio de Janeiro. O que estamos enfrentando é um problema internacional”, afirmou. O governador ressaltou que o reconhecimento internacional das facções demonstra a gravidade da situação: “A Argentina e o Paraguai já classificaram o Comando Vermelho como grupo terrorista. E não é por acaso.”
Castro reforçou que o CV atua como uma organização narcoterrorista, com estrutura e métodos que desafiam o poder do Estado. “O mundo inteiro enxerga no CV uma organização narcoterrorista, que usa a violência, o medo e a dominação territorial para impor seu poder. O domínio de comunidades é uma afronta direta à democracia e ao Estado de Direito. Nenhuma polícia do mundo enfrenta terroristas sozinha”, escreveu.
O governador defendeu ainda uma resposta mais dura do governo federal. “É hora de o Brasil encarar a realidade e decretar o CV como grupo terrorista”, declarou. Segundo ele, a hesitação em classificar as facções dessa forma enfraquece o combate ao crime organizado e alimenta uma visão distorcida sobre o papel do Estado. “Enquanto alguns insistem em tratá-los como vítimas da sociedade, nós continuaremos chamando pelo nome certo: narcoterroristas.”
O debate ocorre em meio a uma escalada de tensão no Rio de Janeiro, após recentes confrontos entre forças de segurança e traficantes em comunidades dominadas pelo Comando Vermelho. Para Castro, o enfrentamento não deve ser reduzido a uma questão local, mas visto como parte de um desafio continental, que exige cooperação entre países e novas estratégias de combate às facções.
Na América do Sul, medidas semelhantes vêm sendo adotadas por governos de diferentes orientações políticas. A Argentina, sob Javier Milei, e o Paraguai, sob Santiago Peña, classificaram o Comando Vermelho e o PCC como organizações terroristas. Já o Chile e o Equador também discutem endurecer suas leis antiterrorismo diante da expansão do narcotráfico regional.
No Brasil, entretanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem manifestado preocupação com o que considera uma “equiparação perigosa” entre terrorismo e criminalidade comum. Em discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro, Lula alertou para o risco de “abrir brecha a intervenções externas” ao adotar esse tipo de enquadramento.
Enquanto os países vizinhos buscam respostas conjuntas, o tema segue polarizando o debate político brasileiro. A fala de Cláudio Castro insere o Rio de Janeiro no centro dessa discussão, reforçando o argumento de que o enfrentamento ao narcotráfico, mais do que uma questão de segurança pública, tornou-se um desafio à soberania nacional e à própria democracia.