Poema charada convida foliões para o carnaval em Brasília
Os foliões foram às ruas brincar junto com o bloco Vai Quem Fica, na capital federal
Gilberto Costa - Repórter da Agência Brasil
“Se um dia nóis se encontrasse
Se um dia nóis se queresse
Se um dia nóis se Savassi”
Os foliões brasilienses souberam pelas redes sociais e por mensagens no celular quando e onde o bloco Vai Quem Fica iria iniciar o cortejo de carnaval.
“Savassi” não é uma referência ao bairro de Belo Horizonte, mas a uma padaria com esse nome na área comercial da 307 norte em Brasília, decifrou o “poema-charada” a socióloga e economista Luana Simões Pinheiro. A linguagem cifrada é para despistar fiscais e policias e, assim, evitar eventual proibição do bloco sair.
“Um tanto de fiscalização tudo bem, mas que não se impeça o bloco de passar. Esse bloco se preocupa em não fazer sujeira e orienta os participantes a carregarem seu lixo. É um bloco cheio de criança, um bloco super tranquilo. Nunca teve nenhum problema”, garante uma foliã que acompanhava os dois filhos.
À sombra das árvores
O fotógrafo Patrick Grosner faz coro com Luana e diz que o que o agrada no bloco Vai Quem Fica é poder brincar carnaval com a filha de 6 anos nas áreas verdes das superquadras do Plano Piloto.
“A gente anda no meio da quadra, nas calçadas, à sombra das árvores. A gente usa a cidade, usa Brasília como ela deve ser usada. E é um carnaval super de boa, super limpo. E ainda é de manhãzinha, cedo”, disse mostrando o relógio para o repórter da Agência Brasil.
Morador da 307 norte, o publicitário Guilherme Armani ficou contente quando percebeu o “inusitado” cortejo passando debaixo de sua janela, tocando marchas antigas como As Pastorinhas (Noel Rosa e Braguinha), Aurora (Mário Lago e Roberto Roberti) e A Jardineira (Benedito Lacerda e Humberto Porto).
"Isso deixa a gente feliz. Cria um clima gostoso. É um tipo de festa para mim”, descreve ao contar que está voltando para casa após passar alguns anos fora de Brasília.
Vizinha de Guilherme, a dona de casa Ruth Silva de Souza interrompeu o café para ver a banda passar.
“Desci direito, engoli um leite com aveia e vim dar uma olhada aqui, prestigiar. Que barulho é esse? Nunca tinha visto isso aqui na nossa quadra. Isso aí é maravilhoso, isso é ótimo. Estou adorando!”.
No centro
A folia também caiu no gosto da engenheira civil Mariana Martino Caldeira. “Muita gente daqui vai para o Rio de Janeiro ou mesmo para São Paulo e fala ‘ah, que ótimo, tem cultura, tem teatro, tem música na rua!’, mas aqui essas pessoas querem silêncio. Em qualquer lugar, quem mora no centro convive com o barulho. O Plano Piloto é o centro de Brasília.”
O Plano Piloto foi concebido pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa (1902-1998) em concurso público realizado em 1957 para escolha do projeto da nova capital federal. Na apresentação da proposta, Costa disse que Brasília seria uma “cidade planejada para o trabalho ordenado e eficiente”, mas também vocacionada para ser uma cidade “viva e aprazível, própria ao devaneio e à especulação intelectual.”
O músico e professor de história Ramon Barroncas não crê que “Lúcio Costa seria contra o carnaval nas superquadras do Plano Piloto” e imagina ser possível conciliar os espíritos dos foliões com quem não gosta de carnaval. Para ele, “Brasília é uma cidade viva. As pessoas se encontram na rua e ocupam os espaços. São espaços grandes que devem ser preenchidos com cultura, com arte, e com silêncio às vezes.”
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