Edinho Silva aposta na recuperação da popularidade de Lula para manter a frente ampla até 2026
Novo presidente do PT afirma que reeleição é prioridade absoluta, critica privilégios e juros altos, e diz confiar no crescimento da aprovação do governo
247 – Na primeira entrevista concedida após ser eleito presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Edinho Silva afirmou ao jornal Valor Econômico estar “confiante” de que a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva crescerá já no segundo semestre, o que consolidaria a perspectiva de reeleição e desestimularia qualquer debandada da base aliada. “O mundo político se move pela perspectiva de vitória”, disse.
Alinhado ao ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira, e próximo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Edinho reconheceu o momento de desgaste do governo, mas acredita que a entrega de resultados será decisiva. “A comparação dos resultados do governo Lula com o governo Bolsonaro é uma coisa impressionante. A gente tem que fazer a sociedade enxergar esses resultados”, declarou.
Defesa da democracia e combate ao fascismo
Para Edinho, o PT tem como missão enfrentar a extrema direita e o avanço do pensamento fascista, que, segundo ele, tem se espalhado globalmente. “A tentativa de golpe no 8 de janeiro teve concepções fascistas, uma organização planejou matar o presidente da República, o vice e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral”, afirmou. O novo presidente do PT defende um partido forte e organizado para garantir a consolidação da democracia.
Construção da frente ampla para 2026
Edinho já articula os palanques estaduais para 2026. A estratégia, segundo ele, é ouvir aliados e estabelecer um diagnóstico “Estado por Estado”, visando à manutenção da frente ampla que elegeu Lula em 2022. “Onde o PT tiver condições de fazer disputa, teremos candidatos. Onde não tiver, temos que priorizar o diálogo com nossos aliados históricos”, afirmou. Sobre a vice-presidência, fez questão de elogiar Geraldo Alckmin, mas apontou a necessidade de dialogar com o novo presidente do PSB, o prefeito do Recife, João Campos.
Edinho também descartou qualquer plano B à reeleição de Lula: “Sem a reeleição de Lula, o retrocesso para o Brasil será gravíssimo”.
Críticas aos privilégios e à política fiscal
O petista rebateu críticas ao que seria um discurso de “ricos contra pobres”. Segundo ele, o debate é sobre privilégios: “Por que tem servidor público recebendo R$ 100 mil, enquanto a maioria dos brasileiros não ganha nem R$ 2 mil? A gente vai continuar desonerando setores da economia que não precisam ser desonerados?”
Edinho defendeu que a política de desonerações seja repensada. “Hoje você tem grandes corporações sendo desoneradas, mas o pequeno e o médio empresário, o empreendedor e o assalariado pagando impostos. Não pode existir setores beneficiados sem um limite temporal.”
Sobre o caso do IOF, que foi suspenso pelo Congresso, Edinho classificou a reação de Lula como legítima: “Achar que impõem uma derrota ao Lula e que isso não teria reação é muita ingenuidade”.
Semipresidencialismo informal e necessidade de pacto político
Ao comentar a atual crise entre o Executivo e o Congresso, Edinho criticou o desequilíbrio institucional: “Quando o Congresso Nacional executa R$ 52 bilhões do Orçamento, isso não é mais presidencialismo”. Ele defende um pacto entre lideranças para criar uma agenda de interesse nacional. “Ou a gente tem lideranças que sentem à mesa, ou o país vai mostrar limites de instabilidade que vão afetar até a economia.”
Entre as propostas para enfrentar essa crise, está a reforma política. Edinho sugeriu o debate sobre o voto em lista e a necessidade de fortalecer os partidos. “É melhor para a estabilidade democrática fortalecer os partidos do que pulverizar o poder na individualidade do parlamentar.”
Relação com Haddad, Galípolo e a política monetária
Com bom trânsito no governo, Edinho promete manter alinhamento com Fernando Haddad, mas sem abrir mão da autonomia política do partido. “O PT tem que ter proposta, mas não significa que vai trabalhar contra o governo.” Sobre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, Edinho foi crítico aos juros altos, mas defendeu um “voto de confiança”.
Ele também propôs mais transparência sobre os dados da inflação, sugerindo que o IBGE explicite o peso do núcleo da inflação e dos fatores sazonais: “Não digo para alterar a forma de cálculo do índice, mas dizer para a população que aqui tem 2%, 3% do que é núcleo, e 1,5% do que é sazonal.”
Regulação das redes sociais e comunicação
Questionado sobre a atuação digital do governo e do partido, Edinho negou que a direita tenha superioridade inata nas redes: “Virou um dogma: a direita é boa de rede, a esquerda é ruim. Mas abre o algoritmo para eu saber por que se impulsiona mais a fala de A do que a fala de B.”
Ele defendeu a regulação das redes sociais, deixando claro que não se trata de censura: “Censura é quando você controla o conteúdo. Isso eu sou contra. Mas quem produz ‘fake news’ tem que responder por isso.”
Transição no comando do PT
Edinho Silva, que já foi ministro da Secretaria de Comunicação Social no governo Dilma Rousseff e prefeito de Araraquara (SP) por quatro mandatos, assume o partido após a gestão de oito anos de Gleisi Hoffmann e o curto mandato de transição do senador Humberto Costa. Ele é filiado à corrente interna Construindo um Novo Brasil (CNB) e assume a presidência nacional do PT em meio a disputas internas, especialmente pelo controle da Secretaria de Finanças.
A posse está marcada para o início de agosto. Até lá, Edinho pretende intensificar as articulações para unir o partido e garantir sustentação à candidatura de Lula em 2026. “Não tenho nenhuma dúvida de que vamos chegar na virada do ano com a aprovação do governo Lula muito melhor. As nossas perspectivas de vitória em 2026 são reais.”
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