"Queremos construir um espaço unificado de confiança", diz embaixador do Cazaquistão sobre cúpula com China

247 - Desde a realização da primeira Cúpula China-Ásia Central, em maio de 2023 na cidade chinesa de Xi’an, a cooperação entre a China e os países da Ásia Central tem avançado com vigor, inaugurando uma nova etapa nas relações multilaterais.

A expectativa é que a segunda edição do encontro, desta vez sediada em Astana, no Cazaquistão, represente um novo salto qualitativo nessa relação. A avaliação é do embaixador cazaque em Pequim, Shakhrat Nuryshev, em entrevista concedida ao Global Times.

Para Nuryshev, a primeira cúpula “estabeleceu um novo padrão para a colaboração regional”, enquanto a segunda “injetará forte impulso para aprofundar a cooperação multifacetada entre os membros do mecanismo”. Segundo ele, o formato de diálogo se baseia em princípios de igualdade, boa vizinhança e benefícios mútuos, consolidando um espaço comum de confiança e desenvolvimento na Eurásia.

Projetos estratégicos e prioridades da nova cúpula

Como anfitrião do evento, o Cazaquistão pretende dar continuidade às iniciativas lançadas em Xi’an, com foco na implementação de mecanismos concretos de cooperação. “Vamos priorizar o fortalecimento da conectividade logística e de transportes, a colaboração industrial e a promoção da transformação verde e digital”, destacou Nuryshev. Também estão no centro da agenda as trocas educacionais, científicas, culturais e entre jovens.

O diplomata ressalta que a construção de uma arquitetura regional baseada no respeito mútuo e em interesses equilibrados é essencial em um cenário geopolítico desafiador. “Este mecanismo abre perspectivas genuínas para o desenvolvimento sustentável, o bem-estar dos nossos povos e a estabilidade regional.”

Laços bilaterais como modelo de parceria

Embaixador em duas ocasiões — a primeira em 2015 — Nuryshev acompanha de perto a transformação das relações sino-cazaques. Ele vê avanços expressivos tanto na modernização interna da China quanto na diversificação das parcerias com o Cazaquistão. “Hoje, a relação China-Cazaquistão é um exemplo de amizade entre vizinhos, respeito mútuo e desenvolvimento conjunto.”

A relação econômica ilustra essa parceria robusta: “Em 2024, nosso comércio bilateral atingiu o recorde de US$ 43,8 bilhões. Trabalhamos para dobrar esse valor nos próximos anos”, afirmou. Para isso, a sinergia entre a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) e a nova política econômica cazaque é apontada como chave estratégica.

Corredor logístico e papel do Cazaquistão na BRI

O diplomata enfatizou o papel central do Cazaquistão na proposta da Nova Rota da Seda, destacando sua localização estratégica na conexão entre a China e a Europa. O país responde por mais de 80% do transporte de contêineres por via terrestre entre os dois continentes.

Dentre os projetos implementados no âmbito da BRI, estão a Base de Cooperação Logística China-Cazaquistão (Lianyungang), o hub de contêineres do porto de Aktau e a rodovia Europa Ocidental-China Ocidental. Um terminal de cargas conjunto também entrou em operação após a primeira cúpula.

Além da infraestrutura física, há investimento em soluções logísticas eficientes, tecnologias digitais e energia verde. “A BRI adaptou-se aos desafios da era atual e passou a promover também a confiança mútua, o estímulo a investimentos e o fortalecimento das conexões entre os povos.”

Compromisso multilateral com governança justa

Segundo Nuryshev, Cazaquistão e China compartilham valores essenciais em fóruns multilaterais como ONU, Organização de Cooperação de Xangai (SCO) e Conferência sobre Medidas de Construção de Confiança na Ásia (CICA). “Defendemos uma ordem internacional justa e sustentável, baseada na igualdade e no benefício mútuo.”

O alinhamento se reflete em posições comuns sobre a importância do direito internacional, da não interferência em assuntos internos e da resolução pacífica de conflitos. “Não há contradições nem questões pendentes entre nossos países, o que favorece a ampliação da parceria em todas as áreas.”

O apoio do Cazaquistão às iniciativas globais chinesas — como a de Desenvolvimento, a de Segurança e a de Civilização — também é destacado como pilar da coordenação política bilateral.

Intercâmbio cultural e aposta nas novas gerações

Comemorando em 2024 o “Ano do Turismo do Cazaquistão na China”, as trocas culturais, educacionais e turísticas entre os países ganham força. “Essas trocas são uma parte indispensável da nossa parceria estratégica permanente”, afirmou Nuryshev.

Um Centro Cultural Cazaque será inaugurado em Pequim este ano, enquanto Astana receberá um Centro Cultural Chinês. Em paralelo, universidades dos dois países aprofundam colaborações, como a criação de workshops Luban e a abertura de um campus da Universidade de Língua e Cultura de Pequim na capital cazaque.

O número de estudantes cazaques na China ultrapassa 4 mil. “É na juventude, nos estudantes, nos acadêmicos e nas indústrias criativas que reside o verdadeiro núcleo dos intercâmbios entre povos”, declarou o embaixador, chamando atenção para a importância desse investimento de longo prazo na confiança e cooperação bilateral.

Com 280 mil turistas chineses visitando o Cazaquistão entre janeiro e maio de 2025 — um aumento de 42% em relação ao mesmo período do ano anterior —, novas rotas aéreas estão previstas para ampliar ainda mais o fluxo entre os dois países.