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Ocidente exalta Dia D e rebaixa papel da URSS na derrota do nazismo, aponta Breno Altman

Em artigo, jornalista critica revisionismo histórico e lembra que Exército Vermelho foi decisivo para o fim da Alemanha nazista

Bandeira da URSS hasteada no Reichstag, sede do parlamento em Berlim, depois do suicídio de Hitler e a tomada da cidade pelo Exército Vermelho - 2.mai.45 (Foto: Reprodução)
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247 - O papel da União Soviética na vitória contra o nazismo segue sendo minimizado por potências ocidentais e por grande parte da historiografia dominante, segundo artigo do jornalista Breno Altman publicado nesta quinta-feira (1) na Folha de S.Paulo. No texto, Altman aponta como o revisionismo histórico da Guerra Fria persiste até os dias atuais, promovendo uma exaltação desproporcional do Dia D — o desembarque aliado na Normandia, em 1944 — em detrimento do esforço e das perdas colossais sofridas pelo povo soviético durante o conflito.

“Quando ocorreu o desembarque na França, em junho de 1944, a sorte dos alemães já estava selada”, escreve Altman. Segundo ele, a virada decisiva se deu ainda em fevereiro de 1943, com a vitória soviética na Batalha de Stalingrado, que fraturou de forma irreversível a força militar da Alemanha nazista. O autor observa que, àquela altura, o Exército Vermelho já marchava rumo a Berlim — onde, pouco mais de um ano depois, içaria sua bandeira no prédio do Reichstag, marcando simbolicamente a queda do Terceiro Reich.

Altman destaca que, mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tentavam equilibrar a narrativa: reconheciam o protagonismo soviético, mas buscavam dar ênfase às batalhas travadas contra o Japão no Pacífico e às operações na Europa Ocidental. “Poucos meses após a derrocada do Eixo, tudo mudou: uma escalada de filmes, livros e estudos acadêmicos foi desatada para reescrever a história e torná-la útil na nova jornada anticomunista”, analisa.

Os números reforçam a tese: enquanto mais de 25 milhões de soviéticos morreram no conflito, somando soldados e civis, os EUA e o Reino Unido tiveram perdas em torno de 1 milhão. Ainda que a ajuda logística americana tenha contribuído com o esforço soviético — com caminhões e locomotivas fornecidos por meio da Lei de Empréstimos e Arrendamentos —, o volume dessa colaboração representou entre 4% e 10% da produção industrial da URSS entre 1941 e 1945.

No entanto, a narrativa ocidental passou a consagrar feitos como a retirada de Dunquerque, em 1940, e o Dia D, em 1944, como pilares centrais da derrocada nazista. Ao mesmo tempo, a contribuição soviética foi sendo empurrada para segundo plano ou reinterpretada à luz de uma lógica que visava igualar o comunismo ao nazismo. Nesse contexto, destaca Altman, o Pacto Molotov-Ribbentrop, firmado em 1939 entre Moscou e Berlim, tornou-se o principal argumento para sustentar a teoria dos “dois totalitarismos”.

“O Parlamento Europeu decidiu, em 2009, consagrar a data desse acordo como dia da memória das vítimas de todos os regimes totalitários”, escreve Altman, criticando a visão de que esse tratado teria sido o verdadeiro gatilho da Segunda Guerra Mundial. Para ele, essa leitura omite que, desde 1933, a URSS buscava construir uma coalizão com os países liberais contra o avanço de Hitler — sem sucesso.

Altman recupera episódios fundamentais para demonstrar a hesitação ocidental em combater o nazismo antes de 1939. Cita o Acordo de Munique, firmado em 1938 entre Reino Unido, França, Alemanha e Itália, que autorizou a anexação da Tchecoslováquia por Hitler, e as recusas sucessivas de França, Reino Unido, Polônia e Romênia a formar uma aliança com Moscou. Isolada, a URSS buscou garantir tempo e segurança por meio do pacto com a Alemanha.

“Stálin sentiu cheiro de traição no ar. Aos seus olhos, França e Reino Unido estavam empurrando a Alemanha para cima da União Soviética. Virou o jogo e mudou de tática”, resume Altman. Segundo ele, o líder soviético aceitou o pacto com Hitler como forma de ganhar tempo para preparar a defesa do país, enquanto as potências ocidentais hesitavam em encarar o nazismo como inimigo comum.

O artigo conclui que a tentativa de apagar ou minimizar o papel da URSS na vitória contra o nazismo cumpre função política: transformar a democracia liberal ocidental no único bastião legítimo contra a barbárie. Ao fazer isso, reescreve-se a história e oculta-se que, sem o esforço soviético, a derrota de Hitler teria sido improvável — senão impossível.

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