Nepal dissolve parlamento e marca eleições após semana violenta
Presidente nomeia Sushila Karki como primeira-ministra interina em meio a protestos anticorrupção
247 - O Nepal anunciou neste sábado (13) a dissolução do parlamento e a convocação de eleições antecipadas para 5 de março de 2026, após uma semana de protestos que deixaram mais de 50 mortos e mais de 1,3 mil feridos. A decisão foi divulgada pelo gabinete do presidente Ramchandra Paudel, conforme noticiou a agência Reuters.
A medida foi tomada poucas horas depois de Paudel anunciar a nomeação da ex-presidente da Suprema Corte, Sushila Karki, como primeira-ministra interina. Ela se torna a primeira mulher a ocupar o cargo no país. A escolha ocorreu após intensas negociações entre o presidente, o chefe do Exército Ashok Raj Sigdel e líderes das manifestações anticorrupção, que tiveram como principal força jovens da chamada "Geração Z".
O impacto dos protestos e a renúncia de Oli
Os protestos ganharam força depois que o governo tentou impor uma proibição às redes sociais — medida rapidamente revogada. A violência, no entanto, só arrefeceu após a renúncia do então primeiro-ministro KP Sharma Oli, na última terça-feira.
Durante os confrontos, manifestantes acusaram o governo de corrupção sistêmica e exigiram reformas profundas. A crise culminou na maior onda de violência política desde a abolição da monarquia, em 2008.
Reações regionais e o posicionamento da Índia
A nomeação de Sushila Karki recebeu apoio imediato da Índia, principal vizinho do Nepal. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, publicou uma mensagem no X (antigo Twitter) reforçando o compromisso de Nova Délhi com a estabilidade regional.
"Meus sinceros parabéns à Honorável Sushila Karki Ji por assumir o cargo de Primeira-Ministra do governo interino do Nepal. A Índia está totalmente comprometida com a paz, o progresso e a prosperidade dos irmãos e irmãs do Nepal", escreveu Modi.
Pressão das famílias das vítimas
Enquanto a situação começava a se normalizar em Katmandu, familiares das vítimas mantinham protestos diante da residência oficial da nova primeira-ministra. Eles exigem que os mortos sejam reconhecidos como “mártires”, título que garante benefícios e reconhecimento estatal, além de indenizações.
Alguns parentes recusam-se a retirar os corpos do necrotério até que suas reivindicações sejam atendidas.
"Meu irmão deve ser declarado mártir, pois morreu pelo país, e o governo deve dar compensação aos meus pais", declarou Sumitra Mahat, irmã de Umesh Mahat, jovem de 21 anos morto durante os protestos.
Cartazes com fotos das vítimas foram erguidos diante da sede do governo, a maioria delas baleada durante os confrontos com as forças de segurança.
Um país em busca de estabilidade
O Nepal, com cerca de 30 milhões de habitantes e localizado entre China e Índia, enfrenta uma prolongada instabilidade política e econômica desde o fim da monarquia. A falta de empregos e oportunidades tem levado milhões de jovens a buscar trabalho no Oriente Médio, Coreia do Sul e Malásia.
Apesar da tensão, neste sábado o comércio e o transporte começaram a retomar gradualmente suas atividades em Katmandu, após a suspensão das ordens de restrição impostas no auge da violência.
As eleições marcadas para março de 2026 serão um teste decisivo para a consolidação da democracia no país e para a resposta às demandas de uma população cada vez mais jovem e mobilizada.