Jean-Luc Mélenchon critica governo francês e alerta para hipocrisia sobre conflito em Gaza
Deputado francês denuncia covardia do governo e falta de princípios da esquerda diante de genocídio e crimes de guerra em Gaza
247 - O deputado francês Jean-Luc Mélenchon acusou nesta sexta-feira o governo de seu país de agir com covardia e hipócrita diante da crise em Gaza. “Os covardes do governo francês fazem a França ser desprezada. Nosso povo continua na prisão. Os deputados são ignorados por suas assembleias. Lembremo-nos todos disso. Os valores e as grandes palavras dos moralistas que nos governam são posturas hipócritas”, afirmou Mélenchon em declaração pública.
Segundo ele, a esquerda também falha ao abordar a violência israelense: “Muitos mudos. Glucksmann diz ser capaz de reconhecer uma ditadura. Mas, aparentemente, não um genocídio, nem mesmo um crime de guerra, nem mesmo um massacre, nem um sequestro. Para alguns, quando se trata de Netanyahu, os grandes princípios são rapidamente esquecidos”.
A crítica de Mélenchon ocorre em meio à crescente tensão internacional provocada pela interceptação israelense da flotilha humanitária Global Sumud, que levava ajuda a Gaza. A Reuters informa que a ação de Israel resultou na detenção de ativistas de diversos países, incluindo quatro portugueses, 11 brasileiros e 10 franceses, além de cidadãos da Espanha, Turquia, Estados Unidos e Alemanha. A lei israelense prevê que os detidos podem ser deportados em até 72 horas ou aceitar expulsão voluntária.
O episódio gerou repercussão global, com protestos em cidades europeias. Em Portugal, manifestantes pró-palestinos se concentraram no Museu de Design de Lisboa e em frente à embaixada de Israel, enquanto no Porto mais de mil pessoas protestaram contra a detenção dos ativistas. Na Itália, uma greve geral convocada por sindicatos afetou transportes em Milão e em outras grandes cidades, causando atrasos e congestionamentos. O vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, alertou que “hoje, um milhão de italianos vão ficar parados nas estações”.
O contexto mais amplo do conflito é a ofensiva terrestre iniciada por Israel em 16 de setembro contra Gaza, justificada pelo país como uma ação para eliminar o último reduto do Hamas, responsável por ataques que mataram cerca de 1.200 pessoas em Israel em 2023. Desde então, mais de um milhão de palestinos foram deslocados e o número de mortos ultrapassou 66 mil, incluindo mulheres e crianças, segundo dados do Hamas.
Mélenchon, que vem se posicionando de forma crítica contra a política externa francesa, utiliza o episódio para questionar a coerência e os valores de políticos e governantes europeus diante de uma crise humanitária e de graves violações de direitos humanos.