EUA planejam usar IA para revogar vistos estudantis de supostos apoiadores do Hamas
Organizações de direitos civis denunciam riscos à liberdade de expressão e privacidade com adoção da tecnologia na vigilância de estudantes estrangeiros
247 - Um plano do governo norte-americano de utilizar inteligência artificial para analisar redes sociais e revogar vistos estudantis de estrangeiros suspeitos de apoiar o grupo palestino Hamas gerou alerta entre defensores dos direitos civis. A iniciativa foi divulgada pela agência Reuters.
De acordo com as informações, o Departamento de Estado dos EUA estaria implantando um sistema chamado internamente de "Catch and Revoke" ("Capturar e Revogar"), que emprega ferramentas de inteligência artificial para monitorar perfis online de milhares de estudantes estrangeiros. O objetivo seria identificar manifestações consideradas favoráveis ao Hamas, organização classificada por Washington como terrorista desde 1997.
O anúncio provocou reações imediatas de grupos de defesa da liberdade de expressão e associações pró-Palestina. Para esses críticos, o uso de tecnologias automatizadas é inadequado para avaliar posicionamentos individuais em um tema tão complexo como o conflito israelo-palestino.
Sarah McLaughlin, pesquisadora da Fundação para os Direitos Individuais e a Expressão (FIRE), destacou os perigos de se confiar nesse tipo de análise tecnológica: “Ferramentas de IA não podem ser confiadas para interpretar as nuances de expressão sobre questões complexas e disputadas, como o conflito entre Israel e Palestina”.
O Comitê Antidiscriminação Árabe-Americano (American-Arab Anti-Discrimination Committee) afirmou que o uso da inteligência artificial na vigilância de estudantes representa "uma erosão alarmante dos direitos constitucionalmente protegidos à liberdade de expressão e à privacidade".
Embora o Departamento de Estado não tenha comentado diretamente as reportagens sobre o uso de IA, o secretário de Estado, Marco Rubio, declarou em uma rede social que os EUA têm "tolerância zero com visitantes estrangeiros que apoiam terroristas". Rubio alertou ainda que estudantes internacionais que violarem as leis do país terão os vistos revogados e poderão ser deportados.
O contexto das ações é marcado por um aumento significativo das tensões internas nos Estados Unidos desde que o presidente Donald Trump anunciou medidas rigorosas contra protestos pró-Palestina nas universidades norte-americanas. Trump, que já assinou uma ordem executiva contra o antissemitismo, prometeu cortar fundos de instituições acadêmicas que permitirem protestos que ele classifica como ilegais e ameaçou deportar participantes não cidadãos dessas manifestações.
Em meio às críticas, houve o primeiro registro prático da medida. Segundo a Fox News, um estudante teve seu visto revogado após supostamente participar do que o Departamento de Estado chamou de "ações de apoio ao Hamas". O estudante, que não teve sua identidade revelada, agora enfrenta um processo de deportação pela Agência de Imigração e Alfândega (ICE).
Protestos relacionados ao conflito no Oriente Médio têm sido frequentes nos Estados Unidos desde o ataque do Hamas contra Israel, em outubro de 2023, que deixou 1.200 mortos e mais de 250 reféns, segundo dados israelenses. Em resposta, Israel iniciou bombardeios intensos na Faixa de Gaza, resultando em mais de 48 mil palestinos mortos, segundo autoridades locais, além de acusações internacionais de genocídio e crimes de guerra — que o governo israelense nega categoricamente.
Para grupos defensores dos direitos civis, o governo americano estaria, ao mesmo tempo, promovendo uma política seletiva ao não abordar o aumento da islamofobia com a mesma seriedade dispensada ao combate ao antissemitismo. Até o momento, o Departamento de Justiça e o Departamento de Segurança Interna dos EUA não comentaram oficialmente o uso da IA nessa iniciativa.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: