Avanço da extrema direita em eleições municipais gera dor de cabeça para coalizão na Alemanha
AfD triplica votação em estado mais populoso e testa força do governo de Friedrich Merz
COLÔNIA (Reuters) – O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) conquistou avanços significativos nas eleições municipais realizadas no domingo (14) na Renânia do Norte-Vestfália (NRW), o estado mais populoso do país. Pela primeira vez, a legenda chegou ao segundo turno em disputas para prefeituras, consolidando seu apelo além dos redutos tradicionais no leste alemão.
Embora a União Democrata-Cristã (CDU), partido conservador do chanceler Friedrich Merz, tenha se mantido como a força mais votada, seu parceiro na coalizão nacional, o Partido Social-Democrata (SPD), registrou queda de apoio. A AfD quase triplicou seu desempenho em relação a cinco anos atrás, alcançando 14,5% dos votos no estado, que tem mais de 18 milhões de habitantes.
“Já não há como evitar a AfD na NRW”, comemorou a líder da sigla, Alice Weidel, em uma publicação nas redes sociais.
Primeiro teste para a coalizão
O pleito foi visto como um primeiro teste para a difícil aliança entre a CDU de Merz e o SPD, criticada pela incapacidade de reverter a estagnação econômica e responder às preocupações da população com a imigração.
O combate à imigração é prioridade da AfD, que em fevereiro tornou-se a segunda maior força política do país nas eleições federais e recebeu apoio público do bilionário Elon Musk. Embora a votação da legenda tenha sido um pouco inferior à registrada no início do ano, seus candidatos a prefeito avançaram para o segundo turno em três cidades do Vale do Ruhr — Gelsenkirchen, Duisburg e Hagen.
SPD em queda
A Renânia do Norte-Vestfália, que abriga quase um quarto da população alemã, é um mosaico eleitoral: antigas regiões mineradoras, cidades universitárias criativas, polos de alta tecnologia e vinhedos. Por isso, o resultado é visto como termômetro político nacional.
A CDU somou 33,3% dos votos, cerca de um ponto a menos que em 2020. Já o SPD caiu para 22,1%, após ter alcançado 24,3% na última eleição. As perdas aumentam a pressão sobre Lars Klingbeil, ministro das Finanças e líder do SPD, para fortalecer a imagem do partido e se impor como parceiro relevante na coalizão com a CDU.
“Soeren Link, prefeito social-democrata de Duisburg, que enfrentará a AfD no segundo turno, criticou a direção do partido. “Algo está errado na estratégia”, disse, defendendo uma postura mais firme em relação a temas centrais da extrema direita, como a imigração. Sua cidade, antes potência siderúrgica e portuária, é hoje uma das mais pobres da Alemanha.
Para Hendrik Wuest, primeiro-ministro conservador da NRW, o avanço da AfD deve servir de alerta. “Este resultado deve nos fazer refletir. Não podemos dormir tranquilos – nem mesmo meu próprio partido, que venceu com clareza”, afirmou.
Apesar do aumento do desemprego e da instabilidade econômica, a leve perda de votos da CDU no estado pode fortalecer as chances de Wuest, de 50 anos, suceder Merz, de 69, caso ele não dispute a chancelaria nas eleições de 2029.
(Reportagem de Thomas Escritt; reportagem adicional de Erol Dogrudogan; edição de Alexandra Hudson)