HOME > Meio Ambiente

Entenda o "Fundo Florestas Tropicais para Sempre" proposta do Brasil que promete mudar lógica econômica da conservação ambiental

A iniciativa propõe criar um sistema permanente de remuneração para países que mantêm suas florestas tropicais em pé

Entenda o "Fundo Florestas Tropicais para Sempre" proposta do Brasil que promete mudar lógica econômica da conservação ambiental (Foto: Gisele Federicce)

247 - O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) tornou-se uma das principais apostas do governo brasileiro na agenda climática internacional. A iniciativa, detalhada em reportagem do G1, propõe criar um sistema permanente de remuneração para países que mantêm suas florestas tropicais em pé, transformando a conservação em uma atividade economicamente vantajosa.

Embora o TFFF não esteja na pauta formal da Conferência do Clima de Belém, o governo pretende lançar oficialmente o mecanismo durante a Cúpula de Líderes da COP30, que começa nesta quinta-feira (6). O fundo coloca o Brasil na liderança de uma articulação inédita: um consórcio internacional que busca captar recursos privados e públicos para financiar a proteção de mais de um bilhão de hectares de florestas tropicais em países do Sul Global.

A seguir, veja os principais pontos sobre o funcionamento do fundo, seus objetivos e as controvérsias que despertou.

1. O que é o TFFF e qual é a proposta

A premissa do TFFF parte de um diagnóstico duro: destruir floresta ainda é mais lucrativo do que preservá-la. A extração de madeira, a abertura de áreas agrícolas e a expansão urbana seguem gerando retorno econômico rápido, enquanto manter a floresta em pé continua sem oferecer receita direta aos países detentores desses biomas.

O fundo busca inverter essa lógica. A ideia é remunerar anualmente países tropicais que comprovem, por monitoramento por satélite, que mantiveram o desmatamento abaixo de 0,5% ao ano. Cada hectare preservado renderia um valor anual, que diminuiria caso houvesse perda de vegetação.

Diferentemente de mecanismos anteriores, como o REDD+, o TFFF não paga apenas por emissões evitadas. Ele valoriza a floresta como um ativo contínuo, criando o que autoridades chamam de “renda florestal global”.

O diretor executivo do WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, afirmou que o fundo marca um novo momento da diplomacia ambiental brasileira:

 “A COP30 deve ser lembrada como a COP da implementação, aquela que transformou compromissos em ação, consolidou novas formas de cooperação e promoveu mecanismos de financiamento inovadores, como o Fundo Floresta Tropical para Sempre.”

2. Como funcionará o pagamento

O plano é ambicioso: captar até US$ 125 bilhões, tornando o TFFF o maior fundo de preservação florestal do mundo.

Desse total:

  •  US$ 25 bilhões viriam de países parceiros e grandes fundações;
  •  US$ 100 bilhões seriam atraídos do mercado financeiro, com risco reduzido pelo aporte público inicial.

Os recursos serão aplicados em títulos de baixo risco, excluindo investimentos ligados a petróleo e carvão. O rendimento anual — estimado em até US$ 4 bilhões — bancará os pagamentos aos países participantes.

Cada país precisará apresentar dados de monitoramento que comprovem índices mínimos de conservação. O Banco Mundial administrará os recursos, enquanto o TFFF fará a supervisão técnica e a distribuição dos pagamentos.

O modelo determina que ao menos 20% dos valores recebidos sejam repassados diretamente a povos indígenas e comunidades locais.

3. Quem participa e quando será lançado

A iniciativa pode envolver até 74 países tropicais e subtropicais. A Indonésia já confirmou adesão, e outros governos negociam a participação.

O Brasil anunciou o primeiro aporte de US$ 1 bilhão e tenta ampliar o grupo de financiadores, que inclui Noruega, Alemanha, França, Reino Unido e Emirados Árabes Unidos — todos com histórico de apoio ao Fundo Amazônia.

Durante a Cúpula de Líderes da COP30, o presidente Lula apresentará o projeto oficialmente. Em setembro, ao anunciar a participação brasileira, ele disse:

 “O Brasil vai liderar pelo exemplo e se tornar o primeiro país a se comprometer com investimento no fundo, com 1 bilhão de dólares.”
“O TFFF não é caridade, é um investimento na humanidade e no planeta contra a ameaça de devastação pelo caos climático.”

4. Quais são as principais críticas

Apesar da projeção internacional, o TFFF enfrenta questionamentos de ambientalistas e movimentos sociais.

Entre as principais críticas estão:

  •  dependência excessiva de capital privado, que poderia subordinar a proteção florestal à lógica de retorno financeiro;
  •  risco de concentração de poder nas mãos de países e investidores desenvolvidos;
  •  pouca clareza sobre a governança e sobre os mecanismos que garantiriam repasses diretos às comunidades locais.

Organizações como o Greenpeace apontam lacunas importantes no desenho do fundo. A ONG alerta para a possibilidade de o TFFF direcionar recursos de forma desigual ou financiar projetos com impacto ambiental indireto, caso não haja critérios robustos.

Outro ponto sensível é a execução do compromisso de destinar pelo menos 20% dos repasses a povos indígenas: especialistas temem que, na prática, o dinheiro fique retido em estruturas intermediárias, sem chegar a quem realmente protege a floresta.

5. Por que o fundo é estratégico para o Brasil e a COP30

O TFFF se tornou uma das principais vitrines diplomáticas brasileiras na COP30. Ao defender o fundo, o governo busca reforçar a noção de que florestas tropicais prestam um serviço ambiental global e, por isso, devem ser remuneradas de maneira permanente.

O fundo também se alinha à narrativa histórica brasileira de que países ricos — maiores responsáveis pelas emissões acumuladas — devem contribuir para que nações do Sul Global possam promover uma transição justa e sustentável.

A ministra Marina Silva resumiu a importância do mecanismo ao dizer, em setembro:

“Já exploramos demais a natureza para gerar recursos financeiros e bens materia

Artigos Relacionados

Tags