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      Tarifaço de Trump atinge setor químico brasileiro e ameaça integração com empresas estadunidenses

      Com alíquota total de 50%, medida compromete exportações de US$ 1,7 bilhão e preocupa indústrias e cadeias produtivas integradas entre os dois países

      (Foto: Freepik)
      Aquiles Lins avatar
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      247 - A indústria química brasileira reagiu com forte preocupação ao novo decreto dos Estados Unidos, que impõe uma tarifa adicional de 40% sobre a maioria dos produtos importados do Brasil, a partir de 6 de agosto. A decisão foi divulgada em 30 de julho e, somada à alíquota de 10% já vigente desde abril, eleva a carga total a 50%. A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) classificou a medida como unilateral e descolada das práticas tradicionais de comércio, alertando para sérias consequências econômicas. A informação foi divulgada pela própria entidade em comunicado oficial.

      “O impacto será expressivo sobre as exportações brasileiras de produtos químicos, comprometendo cadeias produtivas, empregos e investimentos no Brasil e nos EUA”, afirmou André Passos Cordeiro, presidente-executivo da Abiquim. A entidade pede uma solução diplomática imediata para evitar prejuízos duradouros à parceria comercial com os Estados Unidos — considerada estratégica e histórica.

      Segundo a Abiquim, o setor químico tem forte integração produtiva com o mercado norte-americano. Hoje, mais de 20 empresas químicas de capital dos EUA operam no Brasil, espalhadas por diversos segmentos da indústria. Apesar da interdependência, o saldo comercial anual entre os dois países favorece amplamente os norte-americanos, com superávit de cerca de US$ 8 bilhões. Em 2024, o Brasil aplicou, em média, uma alíquota de 7,7% sobre produtos químicos industriais vindos dos EUA — patamar bem inferior à nova taxação de Washington.

      As exportações brasileiras de produtos químicos aos EUA totalizaram US$ 2,4 bilhões em 2024, concentradas majoritariamente (82%) em 50 códigos NCM, que incluem petroquímicos básicos, intermediários orgânicos e resinas termoplásticas. Com a nova tarifa, apenas cinco desses itens — como silício, alumina calcinada e algumas misturas de hidrocarbonetos — permanecerão isentos da sobretaxa. Esses produtos representaram US$ 697 milhões no último ano; o restante, cerca de US$ 1,7 bilhão, será diretamente atingido pela nova alíquota.

      Além das exportações diretas, a Abiquim expressa preocupação com os efeitos indiretos sobre cadeias produtivas que dependem da química industrial. Indústrias brasileiras que atuam como fornecedoras de insumos para setores exportadores — como têxteis, calçadistas, móveis e borracha — já relatam cancelamentos de encomendas por parte de clientes norte-americanos, indicando que os reflexos da tarifa podem se espalhar por toda a economia.

      A entidade afirmou que apoia a atuação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e de outros órgãos do governo brasileiro na tentativa de resolver o impasse. “É essencial reforçar a governança do sistema multilateral de comércio e evitar retrocessos que fragilizem relações estratégicas entre os países”, declarou Cordeiro.

      Em nota conjunta com o American Chemistry Council (ACC), a Abiquim defendeu medidas de facilitação de comércio e cooperação regulatória para preservar a resiliência das cadeias produtivas. Também apresentou ao governo federal um conjunto de propostas emergenciais, como a aplicação de direitos antidumping provisórios, devolução imediata de créditos de ICMS, ampliação e reformulação do programa Reintegra — com alíquota de 7% estendida a empresas de todos os portes — e criação de novas linhas de financiamento à exportação.

      A Abiquim reforçou que continuará dialogando com autoridades brasileiras e internacionais para mitigar os danos à indústria nacional. “Nossa expectativa é de que as negociações avancem com base em critérios técnicos e econômicos, distantes de motivações geopolíticas ou medidas arbitrárias, respeitando a lógica da integração produtiva entre Brasil e Estados Unidos”, concluiu Cordeiro.

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