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      Suspeita sobre piloto da Air India reacende debate sobre um tabu

      O acidente com o voo 171 da Air India matou 241 das 242 pessoas a bordo

      Avião caiu com 242 pessoas a bordo (Foto: Reuters/Amit Dave)
      Laís Gouveia avatar
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      247 - O acidente com o voo 171 da Air India, que caiu logo após a decolagem em junho, matando 241 das 242 pessoas a bordo e outras 19 em solo, reacendeu uma discussão antiga na aviação civil: a necessidade de instalar câmeras de vídeo na cabine de comando das aeronaves comerciais. A reportagem é da Reuters.

      Hoje, os principais instrumentos utilizados na investigação de acidentes aéreos são os gravadores de voz e de dados — as conhecidas caixas-pretas. No entanto, o presidente da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), Willie Walsh, ex-piloto e uma das vozes mais influentes do setor, defendeu nesta quarta-feira (16), durante evento em Cingapura, a instalação de câmeras como um recurso complementar para elucidar falhas e comportamentos de pilotos.“Com base no pouco que sabemos até o momento, é bem possível que uma gravação em vídeo, além da gravação de voz, poderia auxiliar significativamente os investigadores na condução da investigação sobre a questão da saúde mental [dos pilotos]”, disse Walsh, referindo-se à possibilidade levantada por investigadores indianos de que um dos pilotos tenha cortado o combustível dos motores do Boeing 787 segundos após a decolagem.

      O relatório preliminar divulgado pelo Departamento de Investigação de Acidentes Aeronáuticos da Índia (AAIB) ainda não traz conclusões definitivas, mas levanta suspeitas de falha humana intencional. A Air India não comentou o caso, e o órgão indiano também não respondeu às solicitações da imprensa. 

      O relatório final deve ser divulgado dentro de um ano, conforme determinam normas internacionais.

      A defesa das câmeras de vídeo não é nova. Em 2000, após o copiloto de um voo da EgyptAir derrubar intencionalmente o avião, matando 217 pessoas, o então presidente do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA (NTSB), Jim Hall, pediu à FAA (Administração Federal de Aviação) a obrigatoriedade de gravadores de imagem na cabine.

      Casos recentes reforçam esse apelo. Um relatório do Departamento de Segurança dos Transportes da Austrália (ATSB) sobre a queda de um helicóptero Robinson R66 em 2023 destacou que as imagens captadas pela câmera interna — instalada de fábrica — foram “inestimáveis” para entender o acidente. O vídeo mostrou que o piloto estava distraído com celular e alimentos, comportamento que contribuiu para a perda de controle da aeronave.

      A fabricante Robinson foi elogiada pelo ATSB, que sugeriu que outras empresas adotem a mesma medida. “Isso incentivou outros fabricantes e proprietários a considerarem os benefícios contínuos de segurança oferecidos por dispositivos semelhantes”, aponta o relatório.Apesar dos argumentos a favor, sindicatos de pilotos comerciais nos Estados Unidos mantêm forte resistência. Para entidades como a Associação de Pilotos de Linha Aérea (ALPA) e a Associação de Pilotos Aliados (APA), a gravação em vídeo seria uma violação de privacidade e poderia ser usada indevidamente, inclusive com risco de vazamentos para o público.

      “Eu entendo a reação inicial de que quanto mais informações, melhor”, disse Dennis Tajer, porta-voz da APA e piloto da American Airlines. “Mas os investigadores já têm dados suficientes para determinar adequadamente a causa de um acidente, não havendo necessidade de câmeras.”O ex-piloto e especialista em segurança John Cox também aponta para riscos emocionais e éticos: “A morte de um piloto transmitida no noticiário das 18h não é algo pelo qual a família do piloto deva passar”.

      A Federação Internacional das Associações de Pilotos de Linha Aérea (IFALPA) também se posiciona contra, alegando que a confidencialidade das gravações de vídeo dificilmente seria garantida. “Dada a alta demanda por imagens sensacionais, a IFALPA não tem absolutamente nenhuma dúvida de que a proteção dos dados (do gravador de imagens aéreas), que podem incluir imagens identificáveis de tripulantes de voo, também não estaria garantida”, afirmou a entidade em comunicado.

      Atualmente, a divulgação de gravações de voz da cabine já é restrita, com preferência por transcrições parciais ou completas nos relatórios finais. Ainda assim, não há consenso sobre como lidar com o uso ético de imagens de vídeo, especialmente em casos de tragédias que envolvem erros ou decisões humanas críticas.

      A Airbus não respondeu às solicitações sobre o tema, e a Boeing se recusou a comentar se oferece a instalação de câmeras nas cabines de seus aviões.

      Enquanto o setor discute a adoção do recurso, especialistas em segurança como Anthony Brickhouse, que atua na investigação de acidentes aéreos, apontam para o potencial do vídeo como ferramenta de esclarecimento. “Um vídeo do voo 171 da Air India teria respondido a muitas perguntas”, afirmou.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

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