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      "Minha mãe me reconheceu em festa anos depois de eu ter sido dada como morta em um incêndio": o sequestro que surpreendeu os EUA

      Uma das histórias mais impressionantes de sequestro e reencontro familiar dos anos 2000 voltou a comover o público

      Recém-nascido (Foto: Agência Brasil)
      Laís Gouveia avatar
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      247 - Uma das histórias mais impressionantes de sequestro e reencontro familiar dos anos 2000 voltou a comover o público após ser contada em detalhes na BBC. Delimar Vera foi dada como morta após um incêndio devastador em sua casa na Filadélfia, nos Estados Unidos, mas seis anos depois foi reconhecida por sua mãe, Luz Cuevas, em uma festa de aniversário infantil — e esse momento marcou o início de uma revelação surpreendente e dolorosa.

      Na noite de 15 de dezembro de 1997, um incêndio destruiu a casa onde Luz vivia com o então marido, Pedro Vera, e os três filhos — dois pequenos e a recém-nascida Delimar, de apenas 10 dias. O fogo começou no quarto onde a bebê dormia. Segundo os bombeiros, a causa teria sido uma falha elétrica. Nenhum vestígio do corpo foi encontrado. As autoridades concluíram que Delimar havia sido totalmente consumida pelas chamas, encerrando o caso como uma tragédia doméstica.

      Seis anos depois, em janeiro de 2004, Luz acompanhou sua irmã a uma festa de aniversário e viu uma menina que lhe chamou a atenção. Tinha o rosto familiar, as mesmas covinhas de Delimar. “Tatita, essa é minha filha!”, disse à irmã. Em seguida, com um gesto instintivo e determinante, Luz arrancou um tufo do cabelo da menina para realizar um teste de DNA. A menina se chamava Aaliyah, mas o resultado confirmou o que Luz sempre soube: era sua filha, Delimar Vera, dada como morta anos antes.

      Aaliyah havia sido criada por Carolyn Correa, mulher com laços familiares distantes com Pedro Vera. Após o incêndio, Carolyn passou a apresentar a menina como sua filha biológica, afirmando ter dado à luz em casa com a ajuda de uma amiga. Ela conseguiu forjar todos os documentos legais da menina — certidão de nascimento, cartão da previdência social — e levou uma vida aparentemente normal com seus outros filhos e a recém-chegada bebê.

      “Carolyn me levava para audições de comerciais, concursos e sessões de fotos. Em um primeiro momento eu gostava disso, adorava estar sob holofotes e era uma criança muito extrovertida”, contou Delimar à BBC. Segundo ela, a mulher era carismática, engraçada e extrovertida. Mas algo sempre pareceu estranho. “Ela trabalhava à noite e eu via pouco ela de dia. Fui criada principalmente pelos meus irmãos, minha tia e meu tio.”

      O dia da festa de aniversário mudou tudo. Luz Cuevas, convencida de que aquela era sua filha, entregou a amostra do cabelo da menina às autoridades e insistiu num exame de DNA. Enquanto isso, Carolyn, já alertada de que estava sendo investigada, tentou sabotar o teste. “Ela borrifava um líquido na minha boca e dizia, 'não engula'. Depois descobri que era a própria saliva dela”, relatou Delimar. O objetivo era interferir nos resultados do teste genético, o que, felizmente, não funcionou.

      Carolyn foi presa e acusada de sequestro. Ela não contestou o veredito de culpada, o que significa que não admitiu nem negou o crime, e foi condenada a pelo menos nove anos de prisão.

      O reencontro entre mãe e filha aconteceu uma semana após a descoberta. “Quando minha mãe entrou, eu estava escondida embaixo da mesa. Nos abraçamos e ela estava chorando. Eu perguntei: 'por que você está chorando? Você não está feliz em me ver?' E ela respondeu: 'Não é isso, são lágrimas de alegria’.”

      Apesar do reencontro emocionante, a adaptação de Delimar à nova realidade não foi simples. “Mesmo com todo afeto, todo o amor que eu recebia, eu continuava me sentindo como se fosse uma estranha ali. Eu ansiava por afeto e aceitação. Mas ainda sentia falta da primeira família. Achava que uma parte de mim tinha ficado com eles.”

      A adolescência foi marcada por conflitos e tristeza. Aos 12 anos, Delimar começou a compreender o impacto psicológico do sequestro. “Eu me lembro de googlar e ler esse artigo sobre mim. Era um psiquiatra falando sobre meu caso, e ele dizia: ‘ela está tão feliz agora que é criança, mas não me surpreenderia nem um pouco se um dia, de repente, começar a passar por um tempo bem difícil’. E era exatamente isso que estava acontecendo comigo.”

      Houve fugas de casa, isolamento, depressão e, aos 14 anos, ela deixou de viver com a mãe e passou a morar com o pai. Mais tarde, acabou sob tutela do Estado. A relação com os pais só começou a melhorar quando ela já era adulta. “Foi só quando eu tinha 18 ou 19 anos que eu reapareci e visitei minha mãe. [...] Acho que nunca estivemos tão próximas como agora. Honestamente, ela é minha melhor amiga.”

      Delimar também buscou compreender o que, de fato, aconteceu naquela noite de dezembro de 1997. Sua mãe revelou que Carolyn havia visitado a casa pouco antes do incêndio, com o pretexto de oferecer um trabalho a Pedro. Em seguida, alegando ter esquecido a bolsa, Carolyn voltou sozinha à residência e teve acesso ao andar de cima, onde o bebê dormia. “Um pouco depois, minha mãe ouviu um barulho forte, subiu correndo e encontrou o quarto em chamas. [...] Agora sabemos que alguém me tirou do berço, me levou pela janela e sumiu noite adentro.”

      Uma imagem captada por equipes de TV no momento do incêndio mostra Pedro Vera em desespero na rua, ao lado de Carolyn. “Acho que isso foi bem inteligente da parte dela. Ela estava ali, consolando o primo, fazia todo sentido. Se tivesse sumido naquele momento, poderiam suspeitar dela.”

      Apesar da condenação de Carolyn, um mistério permanece: quem foi seu cúmplice? Quem, de fato, retirou o bebê do berço? “Sabemos que ela tinha um cúmplice. E eu acho que é alguém que ela protegeria com sua vida. Infelizmente, não sabemos quem é essa pessoa. Isso é frustrante.”

      Hoje, Delimar Vera tenta reconstruir sua história e curar as feridas. Casada, ela mantém uma relação próxima com sua mãe biológica e compartilha sua experiência para que outras vítimas possam encontrar esperança. “Acho que nunca estivemos tão próximas como agora. [...] Somos daquelas pessoas que ligam uma pra outra só para fazer companhia.”

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