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      “Trump quer trazer o Brasil de volta pro quintal dos EUA”, afirma Valter Pomar

      Para o dirigente petista, tarifaço é ofensiva geopolítica contra o Brasil soberano, revela submissão da elite local e exige resposta estrutural do governo

      (Foto: Brasil247 | REUTERS/Jonathan Ernst)
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      247 - O tarifaço anunciado por Donald Trump contra produtos brasileiros não é apenas uma medida comercial. Trata-se, segundo o dirigente petista Valter Pomar, de um ataque direto à soberania nacional com motivações políticas e geopolíticas. Em participação no programa Contramola da TV 247, Pomar afirmou que o verdadeiro objetivo do presidente norte-americano é minar a política externa independente do Brasil, enfraquecer seu protagonismo no Sul Global e interferir nas eleições presidenciais de 2026.

      “O objetivo principal do Trump não é tarifa, não é big tech, não é defender o cavernícola. O objetivo é trazer o Brasil de volta pro quintal. É uma ofensiva geopolítica”, declarou Pomar, usando o apelido irônico para se referir a Jair Bolsonaro.

      Segundo ele, o anúncio das tarifas ocorreu logo após a cúpula dos BRICS, como represália à postura autônoma do governo Lula. “Trump e os Estados Unidos não toleram um Brasil que atue de forma soberana, que se articule com China, Rússia, África do Sul e outras nações do Sul Global. Querem nos recolocar na posição subalterna que ocupávamos na lógica da Guerra Fria”, afirmou.

      Crítica à reação institucional e à elite empresarial

      Pomar avalia que a resposta do governo brasileiro à ofensiva norte-americana foi correta no curto prazo, com articulação política e diplomática para isolar a extrema direita e barrar os efeitos mais imediatos da medida. No entanto, ele considera que isso não basta: “Sem soberania alimentar, energética, digital, produtiva e militar, o Brasil seguirá vulnerável”, alertou.

      “O Centrão pode até ajudar na contenção inicial do tarifaço, mas não será aliado quando o debate for sobre reforma agrária, regulação da mídia, industrialização ou criação de redes sociais nacionais. Eles não estão com a gente nas reformas estruturais”, disse.

      Pomar também criticou a postura das entidades empresariais brasileiras, que, em sua avaliação, preferem negociar em silêncio com os EUA mesmo em condições desvantajosas. “Essa elite quer vender barato sua lealdade, aceita perder margem de lucro para manter privilégios. Não tem projeto de país”, afirmou.

      Tarifaço como pretexto: o alvo é 2026

      Para Pomar, a carta de Trump é uma peça de interferência explícita no processo político brasileiro. Ele vê no gesto uma tentativa de pavimentar a candidatura de um nome alinhado à Casa Branca em 2026 — possivelmente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que se apressou em endossar as críticas de Trump à aproximação do Brasil com o Sul Global.

      “O Tarcísio sabia da operação. Ele disse que era ‘perigosa a aproximação com o Sul Global’. Ele quer ser o candidato da Casa Branca e prometeu indultar o cavernícola se for eleito. Votar nele é votar pelo regresso do Fred Krueger”, ironizou.

      Pomar denunciou também a postura de Eduardo Bolsonaro, que do exterior chegou a insinuar apoio a uma intervenção norte-americana no Brasil. Para ele, esse tipo de declaração deveria resultar em cassação imediata do mandato.

      “Não se trata de liberdade de opinião. É articulação com uma potência estrangeira contra a soberania nacional. Isso exige resposta dura, cassação e processo criminal”, afirmou.

      Falta de soberania militar e o papel das Forças Armadas

      Ao abordar a questão da segurança nacional, Valter Pomar foi categórico ao afirmar que as Forças Armadas brasileiras ainda funcionam como uma extensão da doutrina militar dos Estados Unidos.

      “A maior parte dos nossos oficiais é formada com base no pensamento estratégico do Pentágono. Participam de exercícios da OTAN, fazem cursos nos EUA. Adotam a concepção de defesa hemisférica, que coloca o Brasil como aliado subordinado dos EUA”, criticou.

      Ele defendeu uma reformulação profunda nas escolas militares, com foco em uma política de defesa verdadeiramente nacional. “Não se pode falar em soberania mantendo essa estrutura militar que não serve aos interesses do povo brasileiro”, disse.

      Mobilização e comunicação direta com o povo

      Pomar destacou que a reação popular ao tarifaço, com manifestações em diversas capitais, mostrou que há campo para ampliar a disputa política em defesa do Brasil soberano. No entanto, ele cobrou mais protagonismo do presidente Lula, especialmente na comunicação direta com a população.

      “Não basta dar entrevista para a Globo e para a Record. Lula precisa convocar cadeia nacional de rádio e TV, falar ao povo sobre o que está em jogo. Estamos diante de um ataque estrangeiro, não é uma crise qualquer”, afirmou.

      Ele defende que a denúncia da submissão da direita brasileira ao governo dos EUA seja amplificada nas redes e nas ruas: “Eles falam de pátria, mas estão vendendo a pátria. Estão agindo como traidores. E é isso que temos que dizer com todas as letras.”

      A crise da direita e o esgotamento da frente ampla

      Na análise de Pomar, o episódio expôs as contradições da direita brasileira. Tarcísio de Freitas, antes cotado como alternativa “civilizada” ao bolsonarismo, saiu chamuscado ao se alinhar aos EUA. E a própria frente ampla que sustenta o governo Lula estaria, segundo ele, com os dias contados.

      “A frente ampla se justificava quando havia o risco de Bolsonaro voltar. Mas com ele caminhando para o xilindró, e a direita dividida, esse pacto perde sentido. A gente precisa polarizar mais, disputar ideias, mobilizar.”

      Pomar acredita que as maiores vitórias do governo Lula vieram justamente quando houve confronto político: “Foi assim com a taxação dos super-ricos. Foi assim agora, contra o tarifaço. Ganhamos na opinião pública porque politizamos. Isso é o que precisamos fazer cada vez mais.”

      Valter Pomar sustenta que o tarifaço de Trump é apenas a face visível de uma tentativa mais ampla de recolonizar o Brasil. Para resistir, afirma, é preciso ir além do pragmatismo de curto prazo. A hora, segundo ele, é de retomar um projeto nacional de desenvolvimento com soberania real — econômica, política, comunicacional e militar — e romper com a dependência estrutural em relação ao imperialismo norte-americano.

      “Se não enfrentarmos os interesses que nos mantêm acorrentados, vamos perder mais uma vez. A soberania não se constrói com palavras bonitas. Se constrói com força. E força se conquista com povo mobilizado, governo corajoso e projeto de país.”

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