“As Forças Armadas estão na gênese do golpismo”, diz Valter Pomar

247 - Durante participação no programa Contramola, da TV 247, o historiador e dirigente político Valter Pomar defendeu que o envolvimento das Forças Armadas na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 não pode ser reduzido à atuação de indivíduos isolados. Segundo ele, o problema é institucional e histórico. “As Forças Armadas estão na gênese do golpismo”, afirmou.

Pomar argumentou que o comportamento político das Forças Armadas brasileiras tem raízes que remontam ao pós-Segunda Guerra Mundial, quando setores internos da corporação se alinharam aos interesses dos Estados Unidos e de forças conservadoras no país. “As Forças Armadas se tornaram um poder moderador que se via no direito de intervir na política brasileira quando e como quisesse, para restaurar a ordem”, declarou.

O dirigente político afirmou que, se não houver uma reforma estrutural da instituição, novos episódios de intervenção militar na política brasileira poderão ocorrer. “Ou você muda a instituição do alto a baixo, para que a instituição Forças Armadas deixe de ser um ninho de golpismo, ou mais cedo ou mais tarde vão aparecer novos brotos”, alertou.

Pomar também enfatizou a responsabilidade dos militares na ascensão de Jair Bolsonaro ao poder. Para ele, a candidatura do ex-capitão contou com apoio direto de setores militares. “É o Villas Bôas e sua turma que abrem caminho para que o Bolsonaro saísse de uma figura representante dos interesses sindicais da caserna para condição de mito”, afirmou. Ele lembrou ainda a influência do então comandante do Exército sobre o STF em 2018, quando foi feito um alerta público para evitar a candidatura de Lula, preso na Lava Jato.

Ao analisar o governo Bolsonaro, o historiador apontou que o papel das Forças Armadas foi além do apoio político: elas também integraram e ocuparam diversas estruturas do Estado, em especial durante a pandemia. “As Forças Armadas colonizaram o aparelho de Estado, ocuparam áreas as mais variadas e reproduziram no trato da COVID o que elas fizeram na época da epidemia de meningite. O efeito foram centenas de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas”, disse.

No que diz respeito aos eventos de 8 de janeiro, Pomar criticou a tentativa de dissociar a instituição militar dos atos golpistas. Para ele, a omissão diante da escalada antidemocrática também configura responsabilidade. “Aqueles que sabendo do golpe nada fizeram, cumpriram o seu dever? Na minha opinião, não. Têm que ser responsabilizados”, afirmou. E completou: “O tal exército que não se envolveu no golpe deixou que as pessoas acampassem em frente [aos quartéis] durante semanas, deram guarida, deram proteção para uma operação que visava acumular força para a ação golpista”.

Pomar ainda criticou a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de manter José Múcio Monteiro à frente do Ministério da Defesa, considerando-a um erro estratégico. Segundo ele, “essa escolha vai deixar o golpismo incubado na instituição e será uma espada sobre a nossa cabeça daqui para frente”.

Ao defender punição não apenas para os militares diretamente envolvidos no golpe fracassado, mas também para os que foram passivos diante da conspiração, Pomar concluiu: “É preciso entender isso como uma oportunidade para passar a limpo a história recentíssima do Brasil. E isso inclui rever a instituição Forças Armadas”. Assista: