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Povos da floresta transformam saberes ancestrais em negócios sustentáveis na Amazônia

Indígenas, ribeirinhos e quilombolas mostram que desenvolvimento pode caminhar com preservação e garantem renda sem derrubar a floresta

Bioeconomia (Foto: Rio Terra/Divulgação )

247 - No Dia da Amazônia, celebrado em 5 de setembro, histórias de resistência e inovação ganham destaque. Povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas do bioma amazônico mostram, na prática, que preservação ambiental e desenvolvimento econômico não são caminhos opostos, mas aliados.

De acordo com reportagem divulgada pelo Sebrae, comunidades tradicionais têm transformado seus conhecimentos ancestrais em negócios sustentáveis que preservam a floresta, fortalecem a cultura e garantem renda. “Os povos da floresta são guardiões da Amazônia. Fortalecer o empreendedorismo dessas comunidades é fortalecer o futuro do planeta”, afirmou o presidente do Sebrae, Décio Lima.

O Brasil, segundo o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2024), é referência mundial em empreendedorismo sustentável. Entre os 120 países avaliados, ocupa posição de destaque: 90,2% dos negócios iniciantes já adotam práticas para reduzir impactos ambientais, com medidas como economia de energia e gestão adequada de resíduos sólidos. Esses dados refletem na vida de quem vive na Amazônia, onde empreendimentos comunitários provam que a floresta em pé gera mais prosperidade do que devastada.

Ribeirinhas extrativistas mantêm a floresta viva e produtiva

Na Ilha do Combu, região sul de Belém (PA), a rotina das mulheres ribeirinhas é marcada pelo extrativismo da andiroba. Na Associação de Mulheres Extrativistas da Ilha do Combu (AME), a produção artesanal do óleo — usado tradicionalmente por povos indígenas para tratar inflamações e problemas de pele — segue um ciclo de manejo consciente: parte das sementes é deixada no solo, garantindo a regeneração natural. A cada mês, o grupo produz entre 30 e 40 litros do óleo, valorizado pela indústria de biocosméticos.

Com apoio do Sebrae e da Universidade Federal do Pará, as extrativistas aprenderam a transformar a matéria-prima em sabonetes, repelentes e hidratantes. Os produtos, vendidos em parceria com empresas regionais como a Bioilha, não apenas geram renda, mas também fortalecem o protagonismo feminino e a preservação da floresta.

Indígenas fazem do artesanato vetor de desenvolvimento

Em Barcelos (AM), o artesanato indígena se transformou em motor de desenvolvimento sustentável. Por meio do Núcleo de Arte e Cultura Indígena de Barcelos (NACIB), artesãos de diversas etnias do Alto Rio Negro preservam saberes ancestrais enquanto conquistam mercados no Brasil e no exterior.

A coleta de matéria-prima respeita os ciclos da natureza, evitando impactos na biodiversidade. Em parceria com o Sebrae, os artesãos participam de feiras e exposições, inclusive no Centro de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB). Mais do que uma atividade econômica, o artesanato é resistência cultural e reafirmação da identidade dos povos da floresta.

Quilombolas de Moju-Miri geram renda com açaí beneficiado e conquistam mercados

Na comunidade quilombola de Moju-Miri, no Pará, o açaí é símbolo de resistência e futuro. Suely Cardoso, 47 anos, lidera 75 famílias que transformam o fruto em pilar de renda, preservação cultural e agroecologia. Durante a safra, a produção pode chegar a 100 latas por dia, garantindo em média R$ 3 mil mensais por família.

Além do açaí, a comunidade cultiva cacau e outras frutas regionais em sistema diversificado e sustentável. Com apoio de instituições como Senar e Sebrae, a Associação de Moradores Quilombolas de Moju-Miri (AQMOMI) criou uma miniagroindústria para beneficiar e comercializar o produto. Desde 2019, a iniciativa tem impulsionado a economia local e aberto novas perspectivas para os jovens, mais de 20 deles já cursando graduação na Universidade Federal do Pará (UFPA).

Empreendedorismo sustentável no Brasil

O relatório GEM 2024 confirma o protagonismo brasileiro: há três anos o país ocupa a primeira posição mundial na adoção de medidas para reduzir impactos ambientais, superando potências como China, Canadá e Estados Unidos.

O levantamento também revela que 91,1% dos empreendedores iniciais brasileiros consideram os aspectos ambientais em suas decisões, enquanto 86,2% priorizam impacto social e ambiental acima do lucro imediato. “Eles, que já atuam de forma sustentável pelo próprio modo de fazer, necessitam de apoio técnico e soluções de inovação para serem ainda mais aprimorados”, destacou Décio Lima.

Na prática, 86,5% dos novos negócios investem em economia de energia, enquanto 81,1% dos empreendedores estabelecidos focam no cuidado com resíduos sólidos. Esses números refletem a força das iniciativas que brotam no coração da floresta e se espalham como exemplo para o mundo.

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