Pessoas com deficiência enfrentam barreiras para trabalhar e empreender
Apesar de avanços legais, falta de acessibilidade, capacitação e preconceito ainda impedem a inclusão plena de pessoas com deficiência no mercado
247 - Mesmo com avanços sociais e leis voltadas à inclusão, as pessoas com deficiência ainda encontram grandes obstáculos para ingressar no mercado de trabalho e empreender no Brasil. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 26,6% das pessoas com algum tipo de deficiência em idade para trabalhar estão empregadas. O número é ainda menor entre as pessoas com deficiência que buscam empreender, diante de entraves que vão desde a falta de acessibilidade até a escassez de crédito e capacitação. As informações foram publicadas originalmente pelo portal Empreender Goiás.
Além das barreiras estruturais, o preconceito e a informalidade continuam sendo grandes desafios. Mesmo entre os profissionais com ensino superior completo, apenas 51,2% conseguem uma colocação no mercado formal. A diferença em relação à média nacional de empregabilidade revela o tamanho da exclusão e mostra que a inclusão vai muito além da legislação.
Obstáculos à inclusão e ao empreendedorismo
Empreender no Brasil já é uma tarefa difícil — e para as pessoas com deficiência, o caminho é ainda mais árduo. Segundo o presidente do Conselho Consultivo do Grupo Farmácia Artesanal, Evandro Tokarski, que é cadeirante, as dificuldades se multiplicam quando a infraestrutura e as políticas de apoio não acompanham as necessidades desse público.
“Para ter uma empresa no Brasil existe uma série de dificuldades, agora você multiplica isso inúmeras vezes. Um dos aspectos mais importantes é a acessibilidade física e digital, além da capacitação profissional. Como é que você vai empreender se você não sabe o que fazer? Preconceitos existem ainda. São situações que acontecem todos os dias”, afirma.
Tokarski ressalta que essa parcela da população representa uma força de trabalho valiosa, mas ainda marginalizada.
“Setenta por cento dessas pessoas são menos abastadas, que sequer tiveram oportunidade de possuir trabalho, pois não concluíram o segundo grau ou a faculdade, o que seria o desejado. Os empregos existem, mas a dificuldade de capacitação é bastante”, observa.
Inclusão depende de valorização e políticas públicas
A falta de acessibilidade urbana e de campanhas de valorização das pessoas com deficiência também limita a inserção social e profissional. Para Tokarski, mostrar exemplos de quem conseguiu superar as barreiras e se destacar no mercado é essencial para inspirar novas trajetórias.
O empresário, que lidera um grupo com mais de 130 unidades em 12 estados e no Distrito Federal, destaca que até mesmo cidades consideradas mais acessíveis ainda estão longe de garantir igualdade de condições.
“Goiânia ainda é uma cidade, em tese, acessível. Agora, a realidade, como deficiente físico, é muito complicada. Para quem precisa pegar dois ônibus, por exemplo, que não estão alinhados dentro do contexto de acessibilidade. Muitas vezes existe uma boa vontade em apoiar as pessoas, mas é ruim para quem está nessa situação. ‘Pode deixar que eu te carrego’. Eu não quero ser carregado, ninguém quer ser carregado, eu quero ter a liberdade de ir e vir garantida pela própria Constituição”, diz.