Endividamento recorde compromete renda e afeta bares e restaurantes no Brasil, aponta levantamento
Dívida média do brasileiro supera o salário mínimo; inadimplência, apostas online e crédito caro agravam crise no setor de alimentação fora do lar
247 - O número de brasileiros inadimplentes atingiu a marca de 77 milhões em maio, de acordo com dados divulgados pelo Serasa. Mas não é apenas a quantidade de endividados que preocupa: o valor médio da dívida por pessoa ultrapassou o salário mínimo, saltando de R$ 1.489,90 em janeiro para R$ 1.558,68 em maio. Segundo o relatório Indicadores de Mercado, da plataforma Pagou Fácil, o volume total das dívidas cresceu 4,62% no primeiro semestre, passando de R$ 419 bilhões para R$ 465 bilhões.
A origem das dívidas continua concentrada nos bancos e cartões de crédito (27,85%), contas básicas como água e luz (20,17%), financeiras (19,38%) e serviços diversos como TV e internet (11,94%). Já os principais motivos que levam à inadimplência são atraso no recebimento de salários (40,8%), endividamento excessivo (22,3%) e desemprego (20,3%).
Esse cenário de fragilidade financeira tem reflexos diretos sobre o setor de alimentação fora do lar. Segundo o índice Abrasel-Stone, bares e restaurantes registraram queda real de 3,7% no faturamento em junho. A retração ocorre em um contexto de renda comprimida, crédito mais caro e aumento dos custos operacionais. “O consumidor está mais endividado e inseguro, o que impacta a frequência em bares e restaurantes. O setor sente isso no caixa, especialmente os pequenos negócios, que têm menos reservas", afirma Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.
A situação pode se agravar com a elevação da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para as fintechs, anunciada pelo governo federal em julho. A alíquota subiu de 9% para 15% — um aumento de 70% — e deve tornar mais caros os serviços financeiros usados pelos pequenos empreendedores, como maquininhas de cartão, contas digitais e antecipações de recebíveis. Tais ferramentas são essenciais para manter o fluxo de caixa dos estabelecimentos e garantir acesso a crédito em um ambiente bancário tradicional ainda restritivo.
As fintechs, além disso, têm papel relevante na inclusão financeira no país. Dados do IBGE mostram que, em dois anos, 22,5 milhões de brasileiros passaram a usar a internet para realizar transações bancárias, totalizando um recorde de 119,6 milhões de usuários.
Outro fator que preocupa especialistas e entidades do setor produtivo é o crescimento acelerado das plataformas de apostas esportivas. Com campanhas publicitárias agressivas e facilidade de acesso, essas plataformas têm captado recursos que antes circulavam na economia real. Segundo estimativas do Banco Central, o setor movimenta mais de R$ 360 bilhões por ano, com grande parte desses valores sendo remetida ao exterior, sem gerar empregos ou investimentos no país. “Soma-se a isso o aumento de custos com serviços financeiros e a fuga de recursos para as apostas online, que drenam dinheiro da economia real", alerta Solmucci.
O agravamento do endividamento das famílias — potencializado por empréstimos feitos para sustentar vícios em apostas — fecha um ciclo de dificuldades que impacta diretamente o consumo e enfraquece setores inteiros da economia, sobretudo os mais dependentes da renda disponível e da circulação de dinheiro local. Para os pequenos negócios, o momento exige resiliência e, cada vez mais, apoio de políticas públicas que ajudem a preservar empregos e a sustentabilidade financeira.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: