Empreendedores das favelas transformam comunidades em polos de negócios
Com mais de 12 mil favelas no país, 5,2 milhões de moradores têm negócios próprios, movimentando R$ 300 bilhões e impulsionando o desenvolvimento local
247 - No dia 4 de novembro é comemorado o Dia da Favela, data que celebra a força, a criatividade e o protagonismo dos territórios populares brasileiros. Segundo reportagem divulgada pela Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), o Brasil possui mais de 12 mil favelas — termo que voltou a ser adotado pelo IBGE no Censo de 2022, após 52 anos sem uso oficial. Para especialistas, a retomada da palavra “favela” representa um movimento de reafirmação identitária, que reconhece esses espaços como territórios potentes, diversos e economicamente relevantes, afastando o tom pejorativo historicamente associado ao termo.
De acordo com o Instituto Data Favela, cerca de 17 milhões de brasileiros vivem em comunidades, sendo que 5,2 milhões são empreendedores. Juntos, eles movimentam mais de R$ 300 bilhões por ano, e outros 6 milhões de moradores sonham em abrir o próprio negócio.
Bares e restaurantes impulsionam o empreendedorismo local
O setor de alimentação fora do lar é uma das principais expressões desse dinamismo econômico, respondendo por 15% dos empreendimentos abertos nas favelas. Bares, lanchonetes e restaurantes tornaram-se espaços de convivência, oportunidades e geração de renda, fortalecendo vínculos entre os moradores e contribuindo para o desenvolvimento local.
Em São Paulo, o empreendedor Rodrigo Chad, dono do restaurante a quilo Delícias da Tia Cida, localizado no Campo Limpo, destaca o valor dos negócios nas periferias. “Muitas vezes a gente fala de ir em um restaurante ‘top’ cruzando a ponte. Mas eu não vejo dessa forma. Existem lugares, inclusive que já frequentei, muito melhores aqui no bairro”, afirma.
Da pandemia ao protagonismo
A trajetória de muitos empreendedores reflete a capacidade de inovação e resiliência desses territórios. Foi o caso de Val Cabral, proprietária da Le Gateau Confeitaria e coordenadora do Núcleo Abrasel no Jardim Vitória, em Cuiabá (MT). Ela iniciou seu negócio durante a pandemia, apostando na qualidade e na conexão com sua comunidade.
“No começo era tudo novo e assustador, só que consegui criar um produto para a minha realidade, para a realidade da minha favela. Hoje eu faço uma coxinha de qualidade em que as pessoas veem valor”, conta Val.
Para ela, empreender na favela é mais do que uma estratégia de sobrevivência — é um ato de protagonismo. “A favela é lugar de oportunidades. Quem consegue enxergar isso vai muito além, vai derrubar muros, atravessar pontes, fazer conexões. É isso que nós queremos: ter a favela como protagonista”, afirma.
Conexão e pertencimento fortalecem os negócios
Além do impacto econômico, empreender dentro da própria comunidade transforma as relações sociais. “A gente é morador do bairro e passou a trabalhar com a porta aberta. Como morador a gente não conhecia tanta gente, hoje aprendemos a viver o dia a dia do bairro”, complementa Rodrigo Chad, reforçando como o negócio se tornou um ponto de encontro e convivência no Campo Limpo.
Reconhecendo a potência e a criatividade desses empreendedores, a Abrasel mantém seis núcleos de atuação em favelas do país: Aglomerado da Serra (MG), Bairro da Paz (BA), Campo Limpo (SP), Jardim Vitória (MT), Morro da Mariquinha (SC) e Vergel do Lago (AL).