“Do zero, criamos um sítio ecológico que combate as mudanças climáticas com soluções naturais”, diz empreendedor

Beatriz Bevilaqua, 247 - No episódio desta semana do programa “Empreender Brasil”, em parceria com o Sebrae, entrevistamos Emmanuel Kirlian, engenheiro ambiental que trocou o universo corporativo pela terra vermelha do cerrado tocantinense. Fundador do Sítio Seis Pétalas, Emmanuel construiu do zero, ao lado da esposa e do filho pequeno, um negócio que une sustentabilidade verdadeira, geração de renda e educação ambiental.

A decisão de mudar radicalmente de vida surgiu em meio ao desgaste com o ambiente hostil das grandes obras e ao desejo por um cotidiano mais coerente com seus valores. “Minha esposa e eu, ambos engenheiros, atuávamos em grandes construtoras, viajando por diferentes estados. Com a chegada do nosso filho, decidimos abandonar a CLT e buscar outra forma de viver, mais conectada com a natureza e com a nossa própria saúde mental”, conta.

Instalados em Palmas, no Tocantins, o casal iniciou em 2019 a construção do sítio com técnicas sustentáveis, como bioconstrução, agroflorestas e sistemas de captação de água da mina. “Foi uma mudança radical, mas feita com muito planejamento. Estudamos permacultura, yoga e agroecologia. Queríamos fazer diferente e com responsabilidade.”

Entre as diversas iniciativas do Sítio Seis Pétalas, que também atua com hospedagens ecológicas e trilhas pedagógicas, um produto ganhou destaque nacional: o repelente 100% natural, formulado com óleos de andiroba, alfazema, manjericão e citronela.

“Nosso repelente respeita o corpo, a saúde das pessoas e o meio ambiente”, afirma Emmanuel. A fórmula foi testada em laboratório e aprovada pela ANVISA, com eficácia comprovada contra o Aedes aegypti e o Anopheles, vetores de doenças como dengue e malária. “Com o aumento da temperatura, o número de insetos cresce e esse produto surgiu justamente como resposta às mudanças climáticas.”

O repelente natural se tornou carro-chefe da produção local e tem sido aceito, inclusive, em áreas sensíveis como o Jalapão, onde repelentes químicos são proibidos. A boa aceitação impulsionou o pequeno negócio, que já foi selecionado para quatro programas de inovação na bioeconomia promovidos por instituições como o Sebrae.

Negócio com propósito e desafios reais

A trajetória não foi fácil. A família enfrentou desde a instabilidade financeira do início até três anos sem energia elétrica na propriedade. “Ficamos 3 anos sem energia elétrica, com um bebê em casa, e pensamos seriamente em desistir. Mas resistimos. A conexão com a terra, o tempo com a nossa criança, a possibilidade de comer orgânicos e viver em harmonia com a natureza pesaram mais.”

Com uma atuação multifacetada, o sítio também recebe visitantes para experiências imersivas. Trilhas ecológicas sinalizadas, banho de mina, vivências com agrofloresta e hospedagem em casas construídas com materiais reciclados, como tijolos ecológicos e telhas feitas de caixinhas longa-vida, completam a oferta. “Já recebemos desde grupos escolares até famílias em busca de refúgio e reconexão. O sítio é um espaço de aprendizado e de cura.”

O empreendedor enfatiza que o segredo da resiliência está na diversidade de atividades. “O repelente é nosso destaque, mas não colocamos todos os ovos na mesma cesta. Temos produtos de higiene natural, experiências pedagógicas, hospedagem. Isso garante nossa sustentabilidade econômica sem perder o propósito.”

Emmanuel é direto ao aconselhar quem deseja seguir por um caminho semelhante: planejamento e capacitação. “Muita gente larga tudo no impulso e se arrepende. É preciso estudar, desenhar um plano de negócio e entender que o retorno não é imediato. Mas o que você ganha em qualidade de vida e coerência não tem preço.”

Hoje, ele e a esposa dizem não ter qualquer arrependimento. “Arrependimento é zero. A gente trocou a estabilidade de um salário fixo por algo que faz sentido, que deixa um legado e que, de fato, ajuda a construir um mundo melhor.”

Assista a entrevista na íntegra aqui: