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Cachaça conquista novos mercados e fortalece tradição de alambique no Brasil

Pequenos produtores ampliam visibilidade, aliam sustentabilidade ao turismo e lutam pelo reconhecimento da cachaça como patrimônio cultural

Cachaça brasileira (Foto: Agência Brasil )

247 - No próximo sábado (13), o Brasil celebra o Dia Nacional da Cachaça, bebida tipicamente brasileira que ultrapassou a condição de símbolo popular para se firmar como produto de alto valor agregado e de crescente aceitação internacional. De acordo com o Anuário da Cachaça 2025, divulgado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o país registrou 1.266 cachaçarias em 2024 — crescimento de 4% em relação ao ano anterior, consolidando o terceiro ano seguido de alta. Minas Gerais lidera o ranking, com 501 estabelecimentos, o equivalente a 39,6% do total.

Para Carmen Sousa, analista da Unidade de Competitividade do Sebrae Nacional, os produtores de alambique são fundamentais na preservação da identidade cultural e econômica da bebida. “A produção é marcada por uma forte ligação com a história, pela sucessão familiar e pela preservação de técnicas tradicionais. Esses elementos são fundamentais para conferir ao produto um diferencial competitivo no mercado”, afirma. Ela acrescenta que a cachaça fomenta o turismo, gera emprego e contribui para a permanência de famílias no campo.

A tradição também é defendida por Sérgio Maciel, presidente da Associação Nacional da Cachaça de Alambique (Anpaq), que há cinco décadas atua no setor. Ele ressalta que ainda há desconhecimento sobre o potencial da bebida, tanto no Brasil quanto no exterior. “Estou falando da cachaça de alta qualidade que não vai te dar dor de cabeça. É produzida exclusivamente em alambique de cobre com fermentação natural da levedura da própria cana de açúcar. É o destilado com maior sustentabilidade do mundo, desde a muda até o envasamento, com reaproveitamento do bagaço, do vinhoto e da água”, diz.

Em maio deste ano, a Anpaq, em parceria com o Instituto Brasileiro de Integração: Cultura, Turismo e Cidadania (IBI), lançou um manifesto pelo reconhecimento da produção em alambique como Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Brasil. A mobilização vem na esteira da Portaria 539/2022 do Mapa, que definiu padrões de identidade e qualidade da cachaça, extinguindo a nomenclatura “artesanal” e consolidando a denominação “cachaça de alambique”.

O setor também aposta na sustentabilidade e no turismo. Em Chã Grande (PE), a cachaçaria Sanhaçu, produtora de cachaça orgânica há 18 anos, foi reconhecida nacionalmente em 2024 quando a Sanhaçu Soleira foi eleita a melhor do Brasil pela Cúpula da Cachaça. A proprietária Elke Barreto destaca que o alambique recebe mais de 800 visitantes por mês. “Parece algo impensável falar de uma bebida alcoólica de forma educativa, inclusive para crianças, mas essa atividade representa hoje 40% do faturamento”, afirma.

No Rio de Janeiro, a cachaça Magnífica mantém a tradição da família Faria há quatro décadas e já foi homenageada no Carnaval carioca. O produtor Raul de Faria ressalta que, assim como no uísque escocês, o consumidor precisa aprender a diferenciar a cachaça de alambique. A marca, que produz 100 mil litros anuais, é exportada há mais de 20 anos para Europa, Estados Unidos e Singapura, e prepara sua entrada no mercado japonês.

Histórias de superação também marcam o setor. Em Dores do Turvo (MG), a cachaça Sô Nicó, conduzida por Douglas de Resende, precisou se formalizar após ter sua produção interrompida em 2019. Hoje, acumula prêmios nacionais e internacionais, como na Expo Cachaça e no mundial de Bruxelas. “Melhorou nossa visibilidade e nosso poder de negociação para entrar em outros mercados. Quando não éramos registrados nem sabíamos do tamanho do potencial que tínhamos para crescer”, afirma o produtor, que mantém produção enxuta e aposta na qualidade como diferencial.

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