Tarifas de Trump afetam metade das exportações do Brasil para os EUA e atingem com força Norte e Nordeste
Sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros impacta 22 estados, com incidência de até 100% das vendas externas para o mercado americano
247 - As novas tarifas impostas pelo governo Donald Trump sobre produtos importados do Brasil afetam duramente a balança comercial de várias unidades da federação, com impacto desproporcional sobre estados do Norte e Nordeste. Levantamento da Folha de S.Paulo, com base em dados de 2024 do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), mostra que 22 estados brasileiros terão ao menos metade de suas exportações para os Estados Unidos sujeitas à sobretaxa. Em oito deles, a incidência chega a mais de 95% das vendas.
O decreto da Casa Branca, em vigor desde a última quarta-feira (6), acrescenta uma tarifa de 40% sobre os produtos brasileiros, elevando a carga total a 50%. Apesar de uma lista com 694 isenções, unidades como Tocantins, Alagoas, Acre, Amapá, Ceará, Rondônia, Paraíba e Paraná terão praticamente todas as suas vendas para os EUA tributadas. Apenas cinco estados –Mato Grosso do Sul, Pará, Rio de Janeiro, Sergipe e Maranhão– terão menos da metade de sua pauta exportadora afetada.
Em termos absolutos, o maior peso recai sobre o Sudeste, principal polo exportador do país. No entanto, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, o efeito econômico tende a ser mais severo no Nordeste e no Sul, devido à concentração da produção em bens de baixo valor agregado e de mão de obra intensiva, justamente os mais atingidos pelo tarifaço.
O estudo do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) aponta que Sudeste e Centro-Oeste conseguem amortecer parte dos impactos graças à inclusão de produtos estratégicos na lista de isenções, como aviões, petróleo e suco de laranja no caso de São Paulo. Ainda assim, o estado terá 56% das exportações aos EUA taxadas, o equivalente a US$ 7,5 bilhões.
Minas Gerais, por sua vez, terá 63% de seu comércio com os americanos sobretaxado, com destaque para o café, produto no qual o Brasil é líder no fornecimento ao mercado dos EUA. Já no Norte e Nordeste, há casos de impacto total, como Tocantins, que exporta carne bovina, peptona, sebo animal, ossos, gelatina e derivados –todos sujeitos à nova tarifa.
O Ceará enfrenta um desafio maior: 98,6% dos produtos vendidos aos americanos serão sobretaxados, e quase metade de toda a exportação do estado vai para aquele país. “No Nordeste, grande parte dos produtos –frutas, pescados, calçados, vestuário– será taxada. No geral, são itens de baixo valor agregado, com mão de obra pouco qualificada, grande parte é perecível”, explica o economista Flávio Barreto, do FGV Ibre, destacando a vulnerabilidade de cooperativas e pequenos produtores.
No Sul, a média de incidência é de 88% sobre as exportações para os EUA, com destaque para madeira, móveis, calçados e têxteis. O Paraná lidera a lista regional, com 96% do valor exportado (US$ 1,5 bilhão) atingido. Marcos Lélis, professor da Unisinos, alerta que o impacto pode parecer baixo no PIB total, mas será intenso para polos específicos, como o de armas e calçados em São Leopoldo (RS), que exportam quase exclusivamente para os EUA. No Centro-Oeste, a pressão é menor. Em Mato Grosso do Sul, metade das exportações aos americanos será atingida, sobretudo carnes e couro, mas a China continua como principal mercado.
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