Crise do metanol afeta bares e restaurantes com queda de quase 5% em setembro
Setor registra retração após casos de intoxicação e inflação elevada pressionar consumo
247 - A crise do metanol, que estourou no final de setembro, já impacta diretamente o desempenho dos bares e restaurantes no Brasil. Segundo o Índice Abrasel-Stone, divulgado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em parceria com a Stone e publicado pelo InfoMoney, o setor registrou uma queda de 4,9% nas vendas em relação a agosto e de 3,9% em comparação ao mesmo mês de 2023.
O recuo surpreendeu o mercado porque interrompeu uma sequência de recuperação. Em agosto, havia sido registrada alta de 2,2%, e em julho, de 0,4%, após a forte retração de 3,7% em junho. De acordo com Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, parte da desaceleração já era esperada, uma vez que setembro não conta com datas relevantes para o setor após o Dia dos Pais em agosto e ainda sofre os efeitos da inflação sobre o poder de compra da população.
Temor do consumidor e reflexos econômicos
Para Solmucci, o maior agravante foi o impacto da crise do metanol, que levou ao fechamento temporário de estabelecimentos e à redução na procura por bebidas alcoólicas diante de casos de intoxicação que resultaram em mortes e casos de cegueira. “As vendas de bares e restaurantes sofreram com a queda na movimentação causada pelo temor dos consumidores diante dos casos de intoxicação por metanol”, destacou.
O economista da Stone, Guilherme Freitas, reforça que o cenário se mostra mais desafiador para o setor. Segundo ele, apesar da baixa taxa de desemprego, a criação de novas vagas formais perdeu força, enquanto o endividamento das famílias continua alto. “Esse quadro limita a renda disponível para consumo e afeta especialmente itens não essenciais, como refeições e bebidas fora de casa. Além disso, a inflação específica do setor continua pressionada, com alta acumulada em 12 meses, o que encarece o tíquete médio e aumenta o preço. Por fim, a recente crise do metanol adicionou um fator pontual de incerteza e pode ter contribuído para a retração observada no mês”, afirmou.
Inflação e custos pressionam preços
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,48% em setembro, revertendo a deflação de 0,11% de agosto. No acumulado de 12 meses, a alta foi de 5,17%. Dentro desse cenário, a categoria “alimentação fora do domicílio” teve aumento de 8,24% em um ano e de 0,11% apenas em setembro, tornando as refeições mais caras para os consumidores.
Panorama regional
Dos 24 estados analisados, apenas Maranhão (2,6%) e Mato Grosso do Sul (1%) tiveram crescimento anual nas vendas. Entre os que registraram as maiores quedas estão Roraima (11,5%), Pará (9,9%), Rio de Janeiro e Santa Catarina (7,6%).
Freitas explicou que o Norte do país foi especialmente afetado por seu mercado menor e mais sensível a variações de renda e custos. “Além disso, o Norte foi uma das regiões mais impactadas pela alta de custos de insumos e pela menor circulação de renda informal. Esses fatores, combinados com a desaceleração da economia local, ajudam a explicar a queda mais acentuada”, analisou.
Resiliência em São Paulo
Mesmo sendo o epicentro da crise do metanol, São Paulo apresentou uma das menores quedas, de 2,7%. O estado mostrou resiliência devido à diversidade do mercado, com maior presença de bares e restaurantes formais e estruturados, além da força do delivery, que dilui o impacto da queda nas vendas de bebidas alcoólicas. Outro fator é que a crise se intensificou apenas no final do mês, fazendo com que seus efeitos completos só sejam capturados nos dados de outubro.
Expectativas para os próximos meses
Freitas aponta que os números de outubro devem refletir de forma mais clara os efeitos da crise, já que as primeiras semanas foram marcadas por ampla cobertura midiática e maior cautela do público. “No entanto, o impacto tende a ser pontual e de curta duração, já que a fiscalização e as medidas de controle rapidamente restabeleceram a confiança do público”, afirmou.


