Consumo de streaming e IA explode no Brasil e amplia saída de dólares para big techs
Remessas cresceram 24% no semestre, somando US$ 9,94 bi, e refletem dependência do país de plataformas estrangeiras
247 - O apetite dos brasileiros por streaming de séries, filmes, música, games e serviços baseados em inteligência artificial (IA) nunca foi tão grande — e o impacto já aparece nas contas externas do país. Segundo dados do Banco Central, divulgados pelo O Globo, as despesas com computação em nuvem e plataformas digitais, majoritariamente contratadas de big techs estrangeiras, elevaram o déficit nas rubricas de propriedade intelectual e telecomunicações.
No primeiro semestre de 2025, o saldo negativo dessas contas chegou a US$ 9,94 bilhões, alta de 24% sobre o mesmo período de 2024. A cifra reforça o peso do Brasil no faturamento de empresas como Google, Apple, Microsoft, Netflix, Meta, OpenAI, Amazon e IBM, quase todas sediadas nos Estados Unidos. “É um fluxo estrutural que veio para ficar, com penetração nas diferentes camadas sociais e que vai se manter nos próximos meses e anos”, avalia Felipe Kotinda, economista do Santander.
O fenômeno traduz mudanças no hábito de consumo: plataformas digitais deixaram de ser apenas fontes de cinema estrangeiro e softwares corporativos para se tornarem parte da rotina doméstica. Serviços de nuvem, armazenamento de dados, motores de IA e streaming alimentam o crescimento dessas despesas. Segundo a consultoria PwC, os brasileiros devem gastar US$ 39,4 bilhões em assinaturas digitais em 2025, alta de 4,6% sobre o ano passado, ritmo acima da média mundial prevista de 3,9%.
Casos individuais mostram a força desse mercado. A fotógrafa Beatriz Kalil Othero relata que sua família assina seis serviços, entre música e filmes, gastando cerca de R$ 150 por mês. Já o editor de vídeos Manuel Victor optou por um pacote de jogos digitais que dá acesso a centenas de títulos, em vez de comprar cada jogo separadamente. “Vale mais a pena pagar a assinatura, que me dá mais opções por um preço único”, afirma.
No setor corporativo, empresas investem pesado em IA e computação em nuvem. A Gerdau destina 5% da receita líquida à transformação digital e grandes bancos devem gastar R$ 47,8 bilhões em tecnologia este ano, segundo a Febraban. Mas essa modernização tecnológica aumenta a saída de dólares, já que muitos serviços e equipamentos são produzidos fora do país.
Esse crescimento no déficit de serviços coincide com um momento delicado para as contas externas. O saldo em transações correntes saltou de 1,1% do PIB em maio de 2024 para 3,4% em junho deste ano, com projeções de chegar a 4%. A Capital Economics alertou que, sem investimentos externos de longo prazo suficientes, o Brasil fica mais vulnerável à volatilidade cambial, o que pode pressionar ainda mais o real frente ao dólar.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: