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Startups brasileiras usam tecnologia para enfrentar crises ambientais e miram a COP 30 como vitrine global

Quiron Digital, Biosolvit e WasteZero mostram como inovação verde já é realidade no Brasil e defendem políticas que garantam escala e sustentabilidade

(Foto: Reprodução/Sebrae )
Aquiles Lins avatar
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247 - Com a realização da COP 30 em Belém (PA), em novembro deste ano, o Brasil terá pela primeira vez a oportunidade de sediar uma conferência da ONU sobre mudanças climáticas no coração da Amazônia. A informação é da Agência Sebrae de Notícias. O evento representa um marco geopolítico e simbólico para o país, ao colocar a floresta no centro das decisões sobre o futuro climático do planeta. Nesse contexto, iniciativas sustentáveis desenvolvidas localmente ganham holofotes, especialmente as green techs — startups que unem ciência, tecnologia e propósito ambiental.

Três dessas empresas, apoiadas pelo Sebrae Startups, ilustram não apenas a força da inovação verde brasileira, mas também os desafios que o setor enfrenta para se consolidar no mercado. Quiron Digital, Biosolvit e WasteZero atuam em áreas distintas, mas compartilham a mesma missão: demonstrar que é possível aliar impacto positivo ao desenvolvimento econômico. E todas elas pretendem usar a COP 30 como uma plataforma de visibilidade e articulação internacional.

“Estamos falando de soluções que não são apenas promessas para o futuro. Elas já existem, já funcionam, mas precisam de apoio para ganhar escala e se manter”, afirma Monique Santos, fundadora da WasteZero, uma das startups envolvidas. Assim como Monique, outros empreendedores do setor destacam a necessidade de políticas públicas estáveis, incentivos financeiros e maior integração com grandes empresas para que a inovação verde floresça no Brasil.

Quiron Digital aposta em dados para evitar incêndios

Criada em 2018 em Lages (SC), a Quiron Digital é um exemplo de como a ciência acadêmica pode se transformar em negócio de impacto. “Um dos nossos sócios, o professor Marcos Chimalski, já trabalhava há décadas com sensoriamento remoto via satélites. Quando nos conhecemos, vimos a chance de transformar isso em produto”, explica Gil Pletsch, fundador da startup.

A empresa desenvolveu uma tecnologia capaz de prever incêndios florestais antes mesmo dos primeiros sinais visuais. “A gente atua na predição, não na detecção. Trabalhamos para que o incêndio nem comece. É prevenção pura, baseada em dados”, resume Gil.

Apesar do reconhecimento internacional — a Quiron foi a única startup brasileira entre as 200 selecionadas para o TechCrunch Disrupt em 2022 —, Gil ressalta que startups de base tecnológica mais complexa enfrentam longos ciclos de maturação. “Startups como a nossa precisam de anos até estarem prontas para o mercado. E o mercado também precisa amadurecer para nos entender. Sem políticas claras, muitas não resistem.”

Biosolvit transforma resíduos em soluções com base científica

No interior do Rio de Janeiro, em Barra Mansa, a Biosolvit surgiu de uma inquietação com o desperdício de matéria-prima. “Eu trabalhava com palmito e descobri que 97% da planta era descartada no processo industrial. O Brasil produz alimentos para bilhões e desperdiça uma biomassa imensa. Era preciso aplicar ciência nisso”, relata o fundador, Guilhermo Queiroz.

A partir dessa constatação, nasceu uma startup de biotecnologia que transforma resíduos orgânicos em materiais sustentáveis. Entre os produtos desenvolvidos estão absorventes naturais para conter derramamento de petróleo e substratos biodegradáveis para jardinagem. “É ciência aplicada à sustentabilidade”, define Guilhermo.

Ele alerta, no entanto, para a dificuldade de startups que atuam no modelo B2B se manterem em um mercado ainda pouco receptivo. “Grandes empresas muitas vezes nos colocam em testes sem compromisso, as chamadas POCs gratuitas, que não viram contrato. Isso desestimula. O Brasil não precisa competir em IA ou software, mas pode ser protagonista em sustentabilidade. Temos biodiversidade, biomassa, ciência. Falta escalar.”

WasteZero combate o desperdício com engajamento e tecnologia

Foi durante um intercâmbio na Irlanda que Monique Santos, de Salvador (BA), teve o insight que daria origem à WasteZero. “Trabalhei em uma fábrica de frutas e vi o quanto de alimento bom era jogado fora. Conheci o app Too Good to Go e pensei: por que não criar algo assim no Brasil?”

A startup conecta consumidores a comércios que têm produtos próximos do vencimento, com estoque em excesso ou de baixo giro. “O Brasil é um país de contrastes: de um lado, toneladas de alimentos vão para o lixo; de outro, milhões vivem com insegurança alimentar. A gente atua nesse meio”, explica Monique.

Com participação em programas como o Hub Salvador e o Inventivos Tech, a WasteZero pretende aproveitar a COP 30 para mostrar seu modelo a um público global. “A inovação está em repensar a forma como consumimos. E, para isso, precisamos de apoio: capital semente, redes colaborativas e políticas que enxerguem além do lucro.”

Oportunidade única para ampliar o alcance da inovação verde

A presença de startups brasileiras com soluções sustentáveis na COP 30 reforça o protagonismo que o Brasil pode assumir em uma economia verde e de baixo carbono. Ao dar visibilidade a negócios que aliam tecnologia, ciência e impacto social, o evento pode ser um divisor de águas para o fortalecimento das green techs no país.

Empreendedores e especialistas, no entanto, alertam: sem estrutura de financiamento, estabilidade regulatória e conexão com grandes cadeias produtivas, o potencial de transformação dessas startups pode ficar restrito. Como resume Gil Pletsch, da Quiron: “Estamos prontos para contribuir com soluções reais. O que precisamos agora é de um ecossistema que nos permita continuar existindo.”

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