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Petlove alerta que fusão entre Petz e Cobasi ameaça concorrência no varejo pet

Manifestação enviada ao Cade aponta que união das duas maiores redes criaria domínio irreversível no setor, elevando preços e excluindo rivais menores

Petlove alerta que fusão entre Petz e Cobasi ameaça concorrência no varejo pet (Foto: Divulgação )

247 - A Petlove, em manifestação protocolada no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), advertiu que a fusão entre as gigantes Petz e Cobasi pode eliminar a concorrência no varejo de produtos e serviços para animais no Brasil. O documento, a que o Brasil 247 teve acesso, foi apresentado no âmbito do Ato de Concentração nº 08700.009264/2024-29 e se baseia em informações coletadas pelo próprio órgão regulador junto a concorrentes e fornecedores.

Segundo a petição, as duas companhias concentram um poder competitivo inatingível para qualquer outro participante do mercado, tanto no comércio físico quanto no digital. A manifestação pública, assinada pelos advogados da Petlove, afirma que “nenhum outro player concorre com as Requerentes, seja no mercado físico ou no mercado online”, reforçando a preocupação de que a união entre Petz e Cobasi resultaria em uma empresa com características “irreplicáveis” e dominância estrutural sobre o setor.

O documento destaca que o Cade enviou questionários a 92 concorrentes e 127 fornecedores e recebeu 119 respostas válidas — 48 de concorrentes e 71 de fornecedores. A ampla maioria delas confirma que pet shops, supermercados e marketplaces não possuem condições de competir em igualdade de forças com as duas redes.

Varejo físico e online sob domínio das superstores

As respostas ao chamado “teste de mercado” apontam que as lojas físicas de Petz e Cobasi reúnem vantagens inatingíveis para os concorrentes: presença estratégica em regiões centrais, grande poder de compra, mix diversificado de produtos, marcas próprias, forte investimento em marketing e infraestrutura logística de alcance nacional.

No ambiente digital, a diferença é ainda mais evidente. As superstores têm operações integradas — conhecidas como modelo omnichannel — que unem lojas físicas, e-commerce e aplicativos em uma mesma plataforma, oferecendo ao consumidor uma experiência fluida e ágil. Já boa parte dos pet shops menores não possui sequer site próprio.

As pequenas e médias empresas ouvidas pelo Cade relataram dificuldades estruturais e financeiras para competir online. “O custo elevado para manter presença digital relevante, a dificuldade de competir em anúncios pagos e os prazos de entrega colocam as pequenas empresas em clara desvantagem”, afirmou um dos empresários citados na manifestação.

Outro ponto levantado é o poder de barganha das duas redes frente aos fornecedores. Segundo o documento, Petz e Cobasi recebem condições diferenciadas — como descontos, bonificações, prazos estendidos e campanhas promocionais exclusivas —, o que amplia ainda mais o desequilíbrio competitivo.

Riscos à concorrência e exclusividade em plataformas

De acordo com a Petlove, a fusão pode agravar práticas que já prejudicam o mercado. Um dos depoimentos enviados ao Cade relata que plataformas de entrega, como iFood e Rappi, mantiveram parcerias exclusivas com as grandes redes — a primeira com a Cobasi e a segunda com a Petz. Esse tipo de acordo, segundo a empresa, limita o acesso de pequenos negócios aos canais de venda digital e reforça a concentração de poder das líderes do setor.

A Petlove argumenta que a operação elimina “a única pressão competitiva efetiva atualmente existente no mercado de superstores especializadas”, podendo resultar em elevação de preços, fechamento de canais de distribuição e redução da diversidade de produtos disponíveis ao consumidor.

Do total de 48 concorrentes consultados pelo Cade, 33 apontaram riscos concorrenciais claros decorrentes da fusão. Para a Petlove, as evidências coletadas na investigação demonstram que o mercado pet se tornará mais fechado e menos inovador caso a operação seja aprovada sem restrições.

Cade deve decidir sobre operação que pode redefinir o setor

A manifestação pede que o Cade analise com rigor os impactos da fusão e, se necessário, imponha medidas corretivas ou até mesmo a rejeição da operação. “O teste de mercado comprova que a atuação de Petz e Cobasi é completamente diferente dos demais varejistas de produtos pet, sendo as duas Requerentes as rivais mais próximas entre si”, resume o documento.

A decisão final caberá ao Tribunal do Cade, que poderá aprovar, reprovar ou impor condicionantes à operação. O desfecho do caso deve definir o futuro da concorrência e da estrutura de preços no crescente mercado brasileiro de produtos e serviços para animais de estimação.