Latam propõe criar lista de passageiros agressivos para barrar reincidência em voos
CEO da companhia aérea, Jerome Cadier, alerta para risco crescente após aumento de 87% nos casos de violência a bordo e em aeroportos no Brasil em 2025
247 - O aumento expressivo da violência em aeroportos e aviões reacendeu o debate sobre medidas mais duras contra passageiros indisciplinados. No último domingo (7), o programa Fantástico, da TV Globo, exibiu uma reportagem mostrando que os conflitos no setor aéreo cresceram 87% de janeiro a julho de 2025 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Foram 979 ocorrências registradas, contra 523 em 2024, segundo levantamento da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
Diante desse cenário, o CEO da Latam Airlines Brasil, Jerome Cadier, voltou a defender a criação de uma lista que registre o histórico de passageiros agressivos, impedindo temporariamente que eles possam embarcar. “Esse mesmo passageiro que ataca outro cliente, um agente de aeroporto ou um tripulante pode voar novamente no dia seguinte, como se nada tivesse acontecido”, alertou o executivo.
Cadier destacou que a medida já existe em diversos países e reforçou a necessidade de o Brasil adotar o mesmo modelo. “Em vários lugares, há listas que impedem temporariamente o embarque de pessoas com esse tipo de comportamento, até que o caso seja devidamente analisado. No Brasil, ainda não temos essa regulação e há anos estamos discutindo isto sem avanços. Esta mudança é urgente! Não só pela proteção dos trabalhadores do setor, mas pela segurança de todos que voam”, afirmou.
A reportagem do Fantástico mostrou episódios recentes de agressões em diferentes aeroportos brasileiros. Em Guarulhos (SP), um passageiro bloqueou o embarque após perder o voo e exigiu um PIX para sair do local. Já em Viracopos, em Campinas (SP), uma mulher arremessou objetos do andar superior, depredou vasos e chegou a usar sandálias para golpear o chão antes de ser presa.
Em Vitória (ES), João Batista Ramos tentou forçar o embarque após perder o voo, destruiu um portão e usou um pedestal para ameaçar funcionários. O caso terminou em prisão. Em Pelotas (RS), André Burlamaqui, já conhecido pela polícia, atacou um segurança com um pedestal de ferro e quebrou portas de vidro antes de ser contido.
Nem sempre a confusão está relacionada a atrasos. Em um dos casos relatados, a agente da Latam Camila Germano foi agredida por um estrangeiro que não compreendia as orientações. “Aí ele começou a falar e eu não entendia o que ele estava falando e eu fiz com a mão, encerrado, falei pra ele, ‘encerrou’. E ele não estava compreendendo (...). Aí a menina colocou no tradutor e eu virei o celular e ele deu um soco”, contou a funcionária.
Especialistas defendem que o endurecimento das regras pode reduzir episódios desse tipo. Para o diretor de operações de segurança de voo da Abear, Raul de Souza, o problema é justamente a falta de consequências imediatas. “O que a gente tem hoje é um passageiro indisciplinado, ele é retirado do voo. Ele tenta fumar a bordo, agride um comissário e no outro dia volta a viajar. É exatamente isso que queremos evitar”, afirmou.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que está em fase avançada de elaboração de uma regulamentação sobre passageiros indisciplinados. O texto ainda passa por ajustes internos, mas deve trazer novas diretrizes para a proteção de tripulantes e passageiros. Atualmente, a legislação brasileira proíbe o embarque de objetos que representem risco, mas não impede que pessoas envolvidas em confusões retornem aos voos no dia seguinte.