Karnal revela convite para ser presidente interino em 2016
Escritor contou que foi sondado por autoridades
247 - Durante uma entrevista publicada pelo UOL nesta quarta-feira (24), o historiador e escritor Leandro Karnal revelou que foi procurado por autoridades da República em meio ao golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016. Naquele momento, havia interpretações de que a cassação poderia atingir não apenas Dilma, mas também o então vice-presidente Michel Temer, o que abriria a possibilidade de uma eleição indireta no Congresso para escolher um presidente interino.
Segundo Karnal, nomes fora da política eram considerados para ocupar o cargo. “Eles precisavam de alguém que não tivesse ligação com partidos, fosse conhecido nacionalmente e não desagradasse nenhuma das facções. Nesse momento, altas autoridades da República me chamaram para um jantar e começaram a falar da possibilidade de eu ser um presidente interino”, contou.
Recusa ao convite
Apesar da sondagem, Karnal disse que rejeitou prontamente a ideia de assumir a função. Ele comparou a situação a um episódio da história da Igreja Católica no século XIII: “Eu disse que não tinha vocação para ser o Papa Celestino V. Celestino V foi tirado de uma caverna, tornado papa porque nenhuma facção conseguiu chegar ao poder. Ele acabou preso, morreu na prisão e foi sucedido por um papa terrível”, explicou.
Com tom categórico, o intelectual reforçou que não aceitaria ser usado como figura de transição: “Não me chamem para tapar um incêndio que vocês querem manipular que eu seja o bombeiro. Não me chamem para isso”.
Rejeição à vida política
Karnal voltou a afastar qualquer possibilidade de entrar para a política. “De jeito nenhum. Zero chance. Hoje não. Nunca sei o futuro. Eu não gosto da ideia de administração. Eu não gosto de discursos. Eu não gosto de gente falando mal e enunciando títulos. Eu não gosto desses salamaleques de recepções. Eu não gostaria de ir ver desfiles no 7 de setembro”, declarou.
O historiador também comentou sobre as tentativas de enquadrá-lo em espectros ideológicos. “Nunca me identifiquei com um campo”, afirmou, rejeitando o rótulo de “isentão”. Para ele, a pluralidade de interpretações faz parte do debate democrático: já foi classificado tanto como conservador de direita quanto como progressista de esquerda em diferentes contextos.