Governo encerra sala de situação após estabilização de casos de intoxicação por metanol
País registra dez dias sem novas ocorrências; Ministério da Saúde mantém vigilância ativa
247 - O governo federal anunciou o fechamento da Sala de Situação criada para monitorar a intoxicação por metanol após dez dias consecutivos sem novos registros da doença. A informação foi divulgada nesta segunda-feira (8/12) pelo Ministério da Saúde e consta na Portaria nº 9.169, assinada pelo ministro Alexandre Padilha e publicada no Diário Oficial da União. A decisão ocorre em meio à consolidação de um cenário considerado estável pelas autoridades sanitárias.
Instalada em outubro, a Sala de Situação havia sido criada para coordenar ações rápidas diante do aumento repentino de casos de intoxicação vinculados ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas. O último caso confirmado teve início dos sintomas em 23 de novembro e foi registrado oficialmente em 26 do mesmo mês.
O ministro da Saúde afirmou que a resposta das autoridades foi decisiva para conter o avanço da intoxicação. “O país respondeu de forma rápida, coordenada e eficaz, garantindo diagnóstico, assistência e distribuição de antídoto a todos os estados”, declarou Alexandre Padilha. Ele reiterou que, apesar do encerramento da sala emergencial, a vigilância segue contínua: “Mesmo com o encerramento da Sala de Situação, seguimos atentos e preparados. O cuidado permanece, e a vigilância segue sem qualquer interrupção”.
Estoque de antídotos garantido e retomada do fluxo regular
Segundo o Ministério da Saúde, todos os estados estão atualmente abastecidos com antídotos, além do estoque estratégico nacional. Com a estabilização epidemiológica, o atendimento volta à rotina do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), responsável por monitorar intoxicações exógenas de forma permanente.
Durante os dois meses de funcionamento da Sala de Situação, equipes técnicas analisaram dados enviados por todo o país para orientar ações emergenciais. Entre elas, distribuição de medicamentos, orientações clínicas às unidades de saúde e medidas de repressão ao comércio de bebidas fraudadas.
Origem da crise e ações integradas
Os primeiros alertas de intoxicação surgiram em 26 de setembro, quando a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, emitiu aviso nacional sobre o risco de metanol em bebidas adulteradas. Em 1º de outubro, o Ministério da Saúde ativou oficialmente a Sala de Situação.
O gabinete reuniu representantes de secretarias do ministério, Anvisa, Fiocruz, Ebserh, Conselho Nacional de Saúde, Conass, Conasems, Organização Pan-Americana da Saúde e secretarias estaduais de Saúde. Também integraram o esforço o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).
No período, foram distribuídas 1.500 ampolas de fomepizol e 4.806 unidades de etanol aos estados, priorizando regiões com maior concentração de casos. O governo ainda manteve reserva estratégica de 2,6 mil ampolas de antídoto. “A garantia de antídoto foi fundamental para evitar mais mortes. Atuamos de forma preventiva, reforçando o estoque nacional e ampliando a capacidade de resposta dos serviços de saúde”, destacou Padilha.
Operações de repressão e investigação
O enfrentamento ao comércio ilegal de bebidas adulteradas mobilizou diversos órgãos. A pedido do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, a Polícia Federal abriu inquéritos e iniciou investigações sobre a origem do metanol. “O que aconteceu foi uma ocorrência gravíssima, que trouxe grandes reflexos na saúde pública. O Ministério da Justiça e Segurança Pública atuou rapidamente, determinando que todas as ocorrências fossem apuradas e investigadas, com a abertura de inquéritos para verificar a procedência da droga e a possível rede de distribuição. A estabilidade que alcançamos agora é resultado de todo o esforço e empenho dos envolvidos, principalmente do Governo do Brasil”, afirmou Lewandowski.
Entre as ações, a Operação Alquimia, deflagrada em 16 de outubro, teve como alvo 24 empresas do setor sucroalcooleiro e distribuidoras de metanol. Amostras recolhidas estão sob análise do Instituto Nacional de Criminalística.
Outra iniciativa, conduzida pela Receita Federal, foi a Operação Fronteira, que apreendeu 215 mil litros de bebidas alcoólicas em depósitos clandestinos no Ceará e no Paraná, incluindo aguardente fraudada, álcool etílico, corantes e recipientes lacrados.
No mesmo período, o MAPA realizou 137 ações de fiscalização, resultando na apreensão de 793 mil litros de bebidas irregulares, avaliados em cerca de R$ 11,8 milhões. Vinte e dois estabelecimentos foram fechados cautelarmente, e diversas autuações e coletas laboratoriais foram efetuadas.
A Senacon, ligada ao MJSP, orientou Procons, comércio e distribuidores para evitar a circulação de produtos adulterados, enquanto a Senad treinou peritos e disseminou protocolos técnicos para identificação de metanol.
Balanço epidemiológico e impacto nos estados
Entre 26 de setembro e 5 de dezembro de 2025, foram registradas 890 notificações relacionadas à intoxicação por metanol. Do total:
- 73 casos foram confirmados
- 29 permanecem sob investigação
- 788 foram descartados
São Paulo concentrou o maior volume de ocorrências, com 578 notificações e 50 confirmações. Pernambuco registrou 109 notificações e oito confirmações. Paraná e Mato Grosso tiveram seis casos confirmados cada; Bahia registrou dois e o Rio Grande do Sul, um.
Foram confirmados 22 óbitos:
- 10 em São Paulo
- 5 em Pernambuco
- 3 no Paraná
- 3 em Mato Grosso
- 1 na Bahia
Outros nove óbitos seguem em análise.



