BNDES e Flacso debatem integração entre China, América Latina e Caribe em novo cenário global
Seminário internacional reúne autoridades e especialistas para discutir soberania digital, crise climática e cooperação entre países
247 - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) abriram nesta quinta-feira (2) o II Seminário Internacional de Estudos da China Contemporânea, realizado no Rio de Janeiro. O encontro tem como tema central “China, América Latina e Caribe no novo reordenamento global” e reúne autoridades governamentais, acadêmicos, representantes de think tanks e do setor privado. A informação foi divulgada pela Agência BNDES de Notícias.
Com duração de dois dias, o seminário está estruturado em quatro painéis que tratam de soberania digital, crise climática, cooperação cultural, acadêmica e científica, além de rotas de integração e dilemas regionais. As discussões resultarão em uma publicação especial que servirá de subsídio para a formulação de políticas públicas e de estratégias de cooperação entre os países da região e a China.
Na abertura do evento, o diretor de planejamento e relações institucionais do BNDES, Nelson Henrique Barbosa, destacou a relevância da parceria entre Brasil e China. “O crescimento da China foi muito importante para o crescimento brasileiro. Ajudou o Brasil em várias frentes e continua ajudando. Mas para que essa integração seja sustentável e progressista, ela tem que ir além da complementaridade. Ela tem que ir para a integração produtiva: mais comércio intraindústria, mais geração de emprego de qualidade nos dois países”, afirmou.
Barbosa ressaltou ainda o papel da inovação tecnológica na aproximação entre as duas nações. “Temos hoje o desafio da tecnologia, da digitalização, da inteligência artificial, que já está mudando a nossa vida e vai mudar ainda mais. (…) A China está bem avançada, está liderando o mundo em várias frentes. E o Brasil tem espaço também para participar disso, aprender com a China e desenvolver práticas adaptadas para a América Latina”, analisou.
Segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o comércio de bens entre a região e a China saltou de pouco mais de US$ 14 bilhões em 2000 para cerca de US$ 500 bilhões em 2022, um crescimento de 35 vezes. O Brasil tem papel de destaque nessa relação: apenas em 2023, o comércio bilateral atingiu US$ 181 bilhões, com superávit de aproximadamente US$ 63 bilhões para o país.
Embaixador da China: intercâmbio cultural e político é parte fundamental

O embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, também participou da abertura e enfatizou o papel do Fórum China-Celac como principal canal de cooperação multilateral. “A China vai usar o Fórum China-Celac como o principal canal para ampliar a cooperação em geral. Vamos incentivar e apoiar empresas e instituições financeiras chinesas a participarem do planejamento e da construção da infraestrutura, promovendo assim a conectividade de toda a região”, afirmou.
Para Zhu, o intercâmbio cultural e político é parte fundamental da estratégia: “Promover o diálogo e a troca entre diferentes civilizações é um caminho para viabilizar uma vida melhor para os povos. A China está disposta a aprofundar esse intercâmbio com os países da América Latina e Caribe”, disse.
A secretária-geral da Flacso, Rebecca Igreja, chamou atenção para as rápidas transformações da geopolítica global e seus impactos sobre a região. “Para a América Latina e o Caribe, compreender essa transição significa revisitar a própria trajetória e a partir dela repensar nosso posicionamento frente a essa nova realidade”, afirmou.
Rebecca reforçou que a parceria com a China deve ser analisada não apenas sob o viés econômico, mas também como oportunidade de reflexão teórica e metodológica. “A relação com a China ocupa um lugar decisivo nesse processo. (…) Precisamos de um esforço deliberado de saberes cruzados, articular tradições intelectuais, experiências históricas, instrumentos metodológicos de diferentes contextos, colocando em diálogo a reflexão latino-americana e a chinesa. É disso que trata esse seminário”, concluiu.