Articulação de Renan driblou Lira e fez governo discutir MP para IR
Senador usou estratégia política e pressão sobre Câmara e governo para aprovar isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil
247 - Uma articulação estratégica do senador Renan Calheiros (MDB-AL) foi determinante para que a Câmara dos Deputados aprovasse o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5.000 mensais, segundo informações de Letícia Casado, do UOL. A proposta, que estava parada havia sete meses, foi finalmente desengavetada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), após intensa pressão política.
Há cerca de três semanas, Renan entrou em contato com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sugerindo que o governo poderia editar uma medida provisória para acelerar a alteração do IR, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No telefonema, o senador alertou que Lira estava segurando a tramitação do projeto, o que poderia impedir que a mudança valesse já para 2026, devido às regras de antecedência de um ano para esse tipo de alteração.
A possibilidade de uma MP chegou a ser discutida internamente pelo governo, mas acabou descartada. Mesmo assim, a conversa serviu para pressionar Lira e criar um ambiente favorável à aprovação rápida do projeto. Renan ressaltou que o Senado já tinha um projeto semelhante, do qual era relator e apresentado por Eduardo Braga (MDB-AM), que poderia servir como instrumento de negociação política.
O projeto no Senado começou a ser trabalhado em julho, quando Renan organizava o material antes da crise gerada pelo anúncio de tarifas do governo americano sobre produtos brasileiros. A proposta foi temporariamente adiada, mas voltou à pauta em setembro, após os protestos contra a PEC da Blindagem e o projeto de anistia, que mudaram o clima político no país.
Renan traçou uma estratégia com Braga para aprovar o projeto em tempo recorde, contando com o apoio da oposição no Senado. A proposta passou pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) em caráter terminativo, seguindo direto para a Câmara. Foi então que Lira desengavetou o projeto, que foi aprovado com 493 dos 513 votos possíveis.
Historicamente adversários na política alagoana, Renan e Lira planejam concorrer às duas vagas do Senado na próxima eleição, buscando apoio do governo Lula e do eleitorado local.
Em contato com o UOL, a assessoria de Arthur Lira negou qualquer atraso ou pressão externa. "A assessoria de imprensa do deputado federal Arthur Lira nega as especulações apresentadas na matéria e afirma que o relator cumpriu o cronograma previsto para a aprovação unânime do PL do IR, com aprovação do relatório na Comissão Especial em julho e aprovação do relatório final na Câmara no final do mês de setembro, lembrando que a votação aconteceu em 1º de outubro, com expressivo apoio de todos os deputados e do governo federal", declarou.