'Alívio e raiva': familiares de passageiros mortos na queda do avião da Voepass comentam suspensão de operações da companhia
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) anunciou a suspensão das operações da Voepass por falta de garantias de segurança
247 - Sete meses depois da tragédia aérea em Vinhedo (SP), que deixou 62 mortos, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) anunciou a suspensão das operações da Voepass por falta de garantias de segurança. A decisão foi recebida com um misto de alívio e revolta pelos familiares das vítimas, que questionam por que medidas preventivas não foram tomadas antes da tragédia. A informação foi divulgada pelo UOL.
A jornalista Adriana Ibba, mãe da pequena Liz Ibba dos Santos, de três anos, que morreu no acidente, disse que a notícia lhe trouxe sentimentos conflitantes. "Confesso que senti raiva e tristeza. Teve que cair um avião e morrerem 62 pessoas para que a fiscalização começasse a ser feita de forma adequada e para que os olhos se voltassem ao manejo desses protocolos de fiscalizações. Mas senti alívio porque é a vida humana em jogo", desabafou.
Outro questionamento que ressoa entre os familiares é a responsabilidade da própria Anac. "Onde estava a fiscalização da Anac?", indagou Adriana. "E quando cai um avião com todas aquelas avarias que constavam nele, aquele avião que levou a minha filha, você se questiona: onde está a fiscalização? Mas eu senti um alívio nesse sentido, de que uma decisão foi tomada, mesmo sete meses após o acidente". Liz viajava com o pai, Rafael Fernando dos Santos, para Florianópolis, onde passariam o Dia dos Pais.
Bianca Faller, sobrinha de André Armindo Michel, outra vítima da tragédia, compartilha sentimentos semelhantes. "E talvez uma raiva de tudo que aconteceu não deveria ter acontecido, mas também um alívio que medidas agora estão sendo tomadas para garantir e evitar que acidentes assim aconteçam e que outras famílias não sintam o que a gente está sentindo, que é uma dor muito grande", afirmou.
Fátima Albuquerque, representante da associação dos familiares das vítimas do voo 2283, ressaltou que as irregularidades na Voepass já eram conhecidas antes do acidente. "Já tínhamos denunciado", afirmou, acrescentando que espera que a suspensão da companhia não seja revogada sem a adoção de medidas concretas de segurança. "É um alívio para que outras famílias não passem o que estamos passando hoje. É devastador e revoltante perceber que um avião que carrega milhares de pessoas não segue os padrões de segurança". Ela também reforçou a necessidade de responsabilização criminal: "Nos sentimos um pouco aliviados, mas esperamos também que os responsáveis sejam devidamente apontados na esfera criminal, estamos confiantes no trabalho na Polícia Federal".
A Anac afirmou que a decisão de suspender a operação da Voepass foi motivada pela falta de atendimento às "condicionantes estabelecidas para a continuidade da operação dentro dos padrões de segurança exigidos". Segundo a agência, houve uma "quebra de confiança em relação aos processos internos da empresa, devido a evidências de que os sistemas da Voepass perderam a capacidade de dar respostas à identificação e correção de riscos da operação aérea".
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, reforçou a importância da suspensão, destacando que a pasta já vinha acompanhando as falhas na gestão da Voepass. A companhia, por sua vez, declarou que "sua frota é segura para voar" e que irá "colocar todos seus esforços para retomar a operação o mais breve possível".
O acidente ocorreu no dia 9 de agosto de 2024, quando um avião modelo ATR 72-500 caiu em Vinhedo (SP), pouco antes do pouso. A aeronave havia decolado de Cascavel (PR) e despencou 13 mil pés (cerca de 4.000 metros) em apenas dois minutos, atingindo casas de um condomínio residencial. O piloto, Danilo Santos Romano, chegou a relatar uma falha no sistema antigelo da aeronave, conforme indicado em um relatório preliminar do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). No entanto, a causa exata do acidente segue em investigação.
Os 62 ocupantes da aeronave morreram no impacto, sendo 58 passageiros e quatro tripulantes. O reconhecimento das vítimas foi realizado por meio de análise de DNA, impressões digitais e arcadas dentárias. Segundo os laudos, as mortes ocorreram instantaneamente devido ao impacto com o solo, antes da explosão da aeronave.
A tragédia acendeu um alerta sobre as condições de segurança na aviação regional e reforçou as críticas à fiscalização da Anac. Para os familiares, a suspensão da Voepass é apenas um passo tardio na busca por justiça e segurança no setor aéreo brasileiro.
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