Práticas agrícolas sustentáveis tornam propriedades mais resilientes às mudanças climáticas
Terraceamento, diversificação de culturas e proteção de nascentes aumentam infiltração da água, reduzem erosão e fortalecem produção agrícola
247 - Pesquisas realizadas no Paraná e no Mato Grosso do Sul comprovam que práticas agrícolas sustentáveis aumentam a resiliência das propriedades rurais diante das mudanças climáticas. Técnicas como terraceamento, plantio direto com diversificação de culturas e proteção de nascentes melhoram a infiltração da água da chuva, reduzem a erosão e aumentam a produtividade das lavouras. As informações foram divulgadas pela Itaipu Binacional, com base em estudos conduzidos em parceria com instituições de pesquisa.
Os levantamentos fazem parte da Ação Integrada de Solo e Água (Aisa), que reúne Itaipu, Embrapa, IDR-Paraná, Esalq/USP e Faped. O programa compara propriedades que adotam boas práticas de manejo com aquelas que não utilizam essas técnicas, demonstrando ganhos significativos para o solo, a água e a produção agrícola.
Atualmente, são monitorados 41 mil hectares de áreas de referência. O engenheiro agrônomo Hudson Lissoni Leonardo, coordenador do programa pela Itaipu, explica os resultados alcançados: “Isso faz com que culturas nessas áreas sejam mais resistentes a períodos de seca, proporcionando melhores índices de produtividade e de estabilidade de produção ao longo do tempo. Isso também ocorre em períodos de muita chuva, porque com a correta infiltração e drenagem evita-se a erosão e a perda de nutrientes”, afirmou.
Um dos estudos mostrou que a infiltração da água no solo pode ser até três vezes maior em áreas com diversificação de culturas. Já o terraceamento agrícola reduz em 90% os gastos dos produtores com reposição de nutrientes e em 85% a perda de solos e de água nas lavouras.
Os benefícios, no entanto, vão além das colheitas. Ao conservar o solo e a água, essas práticas garantem maior disponibilidade hídrica para a geração de energia elétrica. Ao longo de sua trajetória, a Itaipu já viabilizou mais de 116 mil hectares de terraceamento e mantém rede de Assistência Técnica e Extensão Rural que atende mais de 2.500 famílias de agricultores — número que deve chegar a 7 mil com nova parceria firmada com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Para o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Enio Verri, a experiência reforça a interdependência entre produção de alimentos, conservação ambiental e geração de energia. “A Itaipu comprova na prática que existe uma conexão muito forte entre o meio ambiente, água, produção de alimentos e geração de energia. E, ao atuar nessa conexão, a empresa gera benefícios para o bem-estar das pessoas, com consequências positivas para o enfrentamento das mudanças climáticas”, destacou.
O diretor de Coordenação da empresa, Carlos Carboni, reforça que a proteção ambiental é essencial para a sustentabilidade da agricultura e da energia. “Não há geração hidrelétrica que se sustente onde o meio ambiente é degradado. E, como o reservatório da Itaipu está inserido em um dos principais polos de produção de alimentos do País, é imprescindível atuar junto aos produtores rurais para que adotem boas práticas que garantam a sustentabilidade da agricultura, o que é bom para a usina e para toda a sociedade”, afirmou.
Solo e clima
O manejo adequado do solo tem papel central no enfrentamento da crise climática. Quando mal utilizado, pode se tornar fonte de gases de efeito estufa, como ocorre em áreas desmatadas ou com revolvimento excessivo, que acelera a decomposição da matéria orgânica e libera CO₂ na atmosfera. Chuvas intensas aumentam a erosão, enquanto longos períodos de seca reduzem o crescimento das plantas e a captura de carbono.
Por outro lado, práticas agrícolas sustentáveis permitem que o solo atue como aliado no equilíbrio climático: sequestrando carbono, disponibilizando água para as culturas e regulando o ciclo hídrico nas bacias. Dados da Embrapa, por meio do Programa Soja Baixo Carbono, apontam que tecnologias adequadas podem reduzir em cerca de 30% as emissões de gases de efeito estufa associadas ao uso de fertilizantes, agrotóxicos e mecanização agrícola.
Um estudo em bacias hidrográficas do oeste do Paraná mostrou que 75% da produção de água do rio é controlada pelo solo. “A adoção das melhores práticas de manejo do solo pode dar escala ao sequestro de carbono na agricultura, fazendo com que ela se torne uma aliada no enfrentamento da crise climática”, destacou Hudson Leonardo.