“O Brasil tem potencial de liderar soluções globais em ciência e tecnologia”, diz especialista
Lucas Delgado defende política nacional para transformar conhecimento em soberania
Beatriz Bevilaqua, 247 - Em um país onde a ciência pública resiste apesar dos desmontes, cresce uma nova geração de pesquisadores, empreendedores e instituições que enxergam a pesquisa acadêmica como alavanca para soluções de alto impacto. No centro desse movimento, estão as chamadas “deep techs”, inovações baseadas em ciência e engenharia, com potencial de transformar setores inteiros e enfrentar os grandes desafios globais, da crise climática à produção sustentável de alimentos.
“O Brasil tem um potencial científico de impacto global. Mas precisamos transformar esse potencial em política pública, investimento e estratégia de país”, afirma Lucas Delgado, fundador da Emerge, organização referência na conexão entre ciência e setor produtivo. Com experiência em mais de mil tecnologias e diálogo com mais de 2.500 cientistas de todo o país, Delgado é um dos principais nomes quando o assunto é fazer a ponte entre a universidade e o mercado, sem perder de vista o compromisso público da pesquisa nacional.
“Nenhuma sociedade prosperou sem ciência e tecnologia. A equação de desenvolvimento de qualquer país precisa incluir a ciência como prioridade estratégica, não como gasto”, enfatiza.
A trajetória de Delgado converge para um ponto-chave do debate contemporâneo sobre sustentabilidade e soberania: como fazer com que as pesquisas geradas nas universidades brasileiras saiam da bancada e ganhem escala real? Como transformar conhecimento em inovação?
Segundo ele, a resposta passa por criar condições para que cientistas tenham meios estruturados de empreender com propósito, seja por meio da criação de startups, do licenciamento de tecnologias ou de parcerias público-privadas que respeitem o caráter social da pesquisa. É aí que entram as deep techs.
“Uma deep tech, na essência, é uma solução baseada em ciência que resolve problemas estruturais, não questões pontuais. A gente está falando de transição energética, biotecnologia, vacinas, novos alimentos, descontaminação ambiental. São tecnologias que mudam paradigmas”, explica.
Ciência como vetor de soberania
O Brasil é uma potência científica com universidades como USP, UFMG, UFRJ, UFPA e UFPE figurando entre as mais produtivas da América Latina. Mas a transformação do conhecimento em impacto esbarra na falta de investimento contínuo, de cultura de inovação e de uma política nacional que valorize a ciência como eixo de desenvolvimento.
“Nos acostumamos a pensar que ciência é uma etapa isolada. Mas o verdadeiro desafio é completar a jornada: da descoberta à aplicação. Isso requer visão de longo prazo, financiamento público e coragem política para definir prioridades”, diz Delgado.
Para ele, é necessário que o Brasil identifique suas vocações estratégicas e invista nelas com seriedade, em vez de dispersar recursos sem foco. “Decidir é sempre um ato político. Mas sem decisão e estratégia de país, a gente não sai do lugar. Ciência e tecnologia são a base de qualquer projeto de futuro”, afirma.
Essas são algumas ideias que serão debatidas no Deep Tech Summit, evento promovido pela Emerge Brasil nos dias 29 e 30 de setembro, no Complexo Inova USP, em São Paulo. Com mais de 50 palestrantes, exposição de startups e oportunidades de conexão entre cientistas, investidores, empresas e governos, o Summit é uma celebração da ciência aplicada e da inovação de fronteira.
“A proposta é reunir quem está na ponta da pesquisa com quem pode viabilizar sua aplicação. Queremos mostrar que o Brasil já produz conhecimento de excelência e que transformar isso em soluções sustentáveis e competitivas é uma escolha coletiva”, explica Delgado.
Voltado para uma audiência qualificada, o evento inclui temas como transição energética, agricultura regenerativa, inteligência artificial, saúde, biotecnologia e novos materiais. Tudo isso com base na ciência nacional, nascida dentro das universidades públicas brasileiras.
“Deep tech é uma forma de fazer o conhecimento sair da biblioteca e ganhar o mundo. A gente só precisa acreditar e investir nesse caminho”, conclui Lucas Delgado. Saiba mais sobre o Deep Tech Summit: https://emergebrasil.in/deep-tech-summit/.
Assista a entrevista na íntegra aqui:
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