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Fazenda brasileira adota integração lavoura-pecuária e mostra caminho sustentável no comércio agrícola

Pelerson Penido, do Grupo Roncador, e Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, veem no modelo um aumento de produtividade com compromisso ambiental

Gilberto Tomazoni, CEO Global JBS (Foto: Paulo Vitale/Divulgação )

247 - A integração entre lavoura e pecuária está se consolidando como uma alternativa viável para produzir mais com menos impacto ambiental. Essa foi uma das experiências apresentadas no workshop “Comércio agrícola: parte do diálogo sobre agricultura sustentável no sistema multilateral de comércio”, promovido pela Organização Mundial do Comércio (OMC), na segunda-feira (22), em Genebra, na Suíça. O encontro reuniu lideranças internacionais para debater estratégias e soluções para o futuro do setor agropecuário.

Segundo informações da própria OMC, entre os casos de sucesso discutidos no evento, ganhou destaque a experiência da Fazenda Roncador, localizada em Querência (MT), no Vale do Araguaia. O diretor-presidente do Grupo Roncador, Pelerson Penido Dalla Vecchia, participou de forma remota e ressaltou a filosofia que guia o trabalho no campo. “Nós vemos a fazenda como um organismo agrícola vivo. E se, nos reconhecermos também como organismos vivos, saberemos que a melhor forma de produzir mais, de alcançar nosso maior potencial, é quando temos saúde – e só podemos ter saúde se respeitarmos o ciclo da natureza.”

Outro nome de peso que integrou o debate foi o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, que falou de Nova York, onde acompanhava a Semana do Clima. Para ele, o Brasil tem uma oportunidade singular de liderar uma transformação na produção de alimentos. “Temos uma enorme oportunidade de ampliar o acesso a inovações, especialmente para pequenos produtores, como recuperação de terras degradadas, adoção de práticas regenerativas, apoio à segurança alimentar global e preservação dos recursos naturais.”

O sistema implantado pela Fazenda Roncador surgiu da necessidade de enfrentar a degradação do solo. A equipe da propriedade desenvolveu um modelo de integração lavoura-pecuária que combina soja, milho e feijão com o manejo estratégico do gado. Após a colheita, os animais são inseridos nas áreas agrícolas para se alimentar e, ao mesmo tempo, adubar o solo. “O período que costumava ser o mais difícil agora é o mais confortável, porque temos toda a área para pastagem”, explicou Dalla Vecchia. Graças ao método, a fazenda consegue realizar até três colheitas por ano e garantir oferta constante de alimento para o gado, inclusive na estação seca.

Para Tomazoni, essa transformação responde a uma demanda crescente da sociedade. “Seguimos comprometidos em alimentar pessoas ao redor do mundo de uma maneira verdadeiramente sustentável. Ainda há muito a ser feito, mas o caminho à frente está claro. Temos confiança em nossa capacidade de mobilizar pessoas, compartilhar conhecimento e entregar resultados concretos.”

O executivo também destacou o papel estratégico da pecuária no enfrentamento das mudanças climáticas. “O balanço de carbono precisa considerar não somente as emissões, mas também as remoções. Pastagens bem manejadas capturam CO₂, e a agricultura tropical precisa de métricas que reflitam suas realidades.”

A fazenda de Dalla Vecchia passou a substituir pesticidas químicos por biodefensivos, o que reduziu em 10% os custos e aumentou em 6% a produtividade. Outro avanço foi a troca gradual da adubação química por pó de rocha e compostos orgânicos à base de esterco, transformando resíduos em solução para o solo.

Os números confirmam o impacto positivo: em dez anos, a produtividade da soja aumentou 15%, e a produção de carne por hectare multiplicou-se por quatro em apenas cinco anos. Enquanto a média nacional é de 5 arrobas por hectare, a Fazenda Roncador alcançou 58 arrobas por hectare.

Na condição de líder do Grupo de Trabalho em Sistemas Alimentares da SBCOP (Sustainable Business COP30), Tomazoni também apresentou as diretrizes para ampliar o alcance dessas iniciativas: metas mensuráveis, acesso a tecnologia e assistência técnica, além de mecanismos financeiros que recompensem a sustentabilidade e reduzam os riscos dos produtores.

O comércio agrícola, nesse contexto, foi debatido não apenas como uma transação econômica, mas como instrumento estratégico para a inclusão social e o fortalecimento de práticas sustentáveis. “O Brasil está bem posicionado para ampliar esse impacto. Como o terceiro maior produtor de alimentos do mundo, o segundo maior produtor de biocombustíveis e líder em inovação agrícola, o país deve proteger seus recursos naturais não apenas para o seu próprio futuro, mas também para ajudar a transformar os sistemas alimentares globais e combater a fome”, afirmou Tomazoni. Ao encerrar sua participação, o CEO da JBS reforçou o apelo por ação conjunta. “Sustentabilidade não é uma meta distante, é o desafio do agora”, disse.

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