Expedições científicas pelos biomas brasileiros aproximam o público da natureza
Projeto idealizado pelo biólogo Thiago Silva-Soares leva o público a experiências imersivas que unem pesquisa, educação ambiental e turismo consciente
Beatriz Bevilaqua, 247 - A Amazônia, o Pantanal, a Mata Atlântica, o Cerrado. Biomas que ainda resistem, mesmo diante do avanço das queimadas, do desmatamento, da crise climática e da negligência de governos. Para o biólogo capixaba Thiago Silva-Soares, doutor em Zoologia pelo Museu Nacional/UFRJ, o caminho para frear esse colapso passa pela reconexão. Mas não uma reconexão mística ou abstrata e sim concreta, selvagem, educativa e transformadora.
Criador da Biotrips, projeto que integra ciência, turismo de natureza e educação ambiental, Thiago tem reunido grupos de brasileiros em expedições científicas por diferentes regiões do país e também do exterior. A ideia surgiu de uma inquietação: como romper a bolha urbana que nos afasta da biodiversidade que sustenta a vida? Como transformar o ato de viajar em uma ação política de afeto, cuidado e conscientização ambiental?
"Costumo ouvir que as pessoas querem se conectar com a natureza, mas esquecem que elas são natureza", afirma. “Quando preservamos o planeta, estamos preservando a nossa própria existência. Não é sobre salvar o mundo, é sobre nos salvarmos como espécie.”
Natureza viva, ciência aplicada
Especialista em herpetologia, estudo de anfíbios e répteis, Thiago também é autor de livros e artigos científicos. Na Biotrips, aplica seu conhecimento técnico para guiar os viajantes pelas trilhas da biodiversidade, mas vai além: promove atividades práticas como a observação de animais em campo, coleta de dados ambientais e até análises de espécimes encontradas durante os trajetos.
O impacto é duplo: as experiências financiam pesquisas e também mudam a relação das pessoas com o meio ambiente. Não raro, os próprios participantes relatam ter passado a enxergar a natureza com mais empatia e responsabilidade após vivenciar as expedições.
“A educação ambiental é um antídoto contra a apatia climática. Quando você vê uma serpente no mato e entende que ela não é um monstro, mas uma peça essencial do ecossistema, você começa a desestigmatizar o que foi rejeitado, inclusive dentro de você.”
Thiago costuma dizer que trabalha com os animais fora da chamada "fofofauna", aquele conjunto de bichos considerados socialmente adoráveis, como pandas, gatos e golfinhos. Ele escolheu estudar sapos, cobras, lagartos e outros seres marginalizados pelo imaginário coletivo.
“Minha missão é desestigmatizar. A partir do momento em que você vê beleza em um sapinho dourado ou entende o papel de um gambá no controle de pragas urbanas, você muda. Cria empatia. E a empatia é a porta de entrada para qualquer transformação.”
Contra o turismo predatório, uma vivência ética
Para Thiago, o turismo tradicional, predatório e superficial, esvazia os territórios e desrespeita as comunidades e o meio ambiente. Por isso, todas as viagens da Biotrips seguem princípios éticos: sem garrafas plásticas, com envolvimento de pesquisadores locais e foco na educação coletiva.
Além do Brasil, as expedições já alcançaram lugares como a África, Galápagos, Patagônia e, em breve, a Noruega, para observar a aurora boreal. Mas a missão é clara: valorizar os biomas brasileiros, ampliar a consciência ecológica e formar uma nova geração de protetores da vida.
Thiago enxerga nas crianças e jovens um terreno fértil, mas também ameaçado. “Estamos criando uma geração que sabe manusear tablets antes de falar. Muitos crescem sem ter colocado o pé na terra ou olhado um bicho nos olhos”, alerta. Para ele, projetos que unem educação, esporte e ecologia, como os que já acontecem em canoas polinésias, escolas públicas ou comunidades tradicionais, são caminhos possíveis para formar cidadãos que não apenas habitam o mundo, mas que cuidam dele.
“A crise climática não é mais futura, é presente. Está aqui, agora. Mas também está em nós a chance de virar esse jogo”. Veja a entrevista na íntegra aqui:
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