BNDES lança programa para impulsionar inovação em florestas nativas e ampliar produção sustentável de madeira tropical
Com investimento inicial de R$ 25 milhões, iniciativa apoia pesquisa da UFSCar e Embrapa e busca tornar o Brasil líder em silvicultura de espécies nativas
247 - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lança, nesta sexta-feira (10), o BNDES Floresta Inovação, um programa voltado a impulsionar o Brasil como protagonista global no mercado de madeira tropical e a fortalecer o uso sustentável de espécies nativas. A informação foi divulgada pelo próprio Banco. A primeira operação do programa é o apoio de R$ 24,9 milhões a um projeto voltado ao desenvolvimento de inovações em silvicultura de espécies nativas plantadas.
Com recursos não reembolsáveis do Fundo Tecnológico do BNDES (BNDES Funtec), o projeto pretende estimular o reflorestamento de áreas degradadas e promover ganhos econômicos e sociais para comunidades locais. A iniciativa será apresentada durante o seminário “BNDES Florestas do Brasil por todo o planeta”, realizado na sede do Banco, no Rio de Janeiro, que também marcará o lançamento do BNDES Florestas, plataforma para reunir e dar visibilidade às ações do Banco no setor florestal.
O projeto apoiado, proposto pelo Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Silvicultura de Espécies Nativas (PPD&SEN) – criado em 2021 pela Coalizão Brasil, movimento que reúne mais de 400 representantes do setor privado, financeiro, acadêmico e da sociedade civil –, será coordenado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e pela Embrapa. A execução administrativa, financeira e logística ficará a cargo da Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FAI UFSCar). O aporte do BNDES representa 80,8% dos recursos, elevando o total do investimento para R$ 30,8 milhões com as contrapartidas.
Segundo a diretora Socioambiental do Banco, Tereza Campello, a silvicultura de espécies nativas é um passo essencial para garantir sustentabilidade e diversificação ao mercado madeireiro nacional. “Com isso, promovemos a conservação da biodiversidade, o sequestro de carbono e a geração de emprego e renda. Mas esse crescimento só é possível com a aplicação do conhecimento e da tecnologia, essenciais para atrair novos investimentos e expandir o mercado”, afirmou.
“O objetivo é criar um setor pujante, assim como fizemos com aviação, energias renováveis e com a silvicultura de pinus e eucalipto, onde o Brasil se tornou um dos líderes mundiais”, completou.
O BNDES Floresta Inovação vai desenvolver pesquisas em cinco áreas principais: sementes e mudas, melhoramento genético, propagação vegetativa, manejo florestal e tecnologia da madeira. Ao todo, serão estudadas 30 espécies nativas prioritárias dos biomas Amazônia e Mata Atlântica, com experimentos em 20 sítios de pesquisa espalhados pelo país. Quatorze desses locais destinarão 160 hectares para novos plantios, enquanto seis já possuem florestas com idades entre 15 e 45 anos que servirão como polos de referência.
A iniciativa, com duração inicial de cinco anos, é considerada a primeira etapa de um programa de longo prazo, que poderá se estender por até 30 anos. Entre os resultados esperados estão novos clones de espécies madeireiras, protocolos de tratamento de sementes e tecnologias para produtos de madeira de pequena dimensão.
Na Mata Atlântica, o trabalho será coordenado pelos professores Fátima Conceição Marquez Piña-Rodrigues e Ricardo Augusto Gorne Viani, ambos da UFSCar. “A nossa iniciativa visa mudar um paradigma: deixaremos de cortar para plantar, estimularemos o plantio sustentável em detrimento da extração ilegal”, destacou Piña-Rodrigues.
Na Amazônia, a coordenação ficará a cargo da Embrapa Amazônia Oriental, com a pesquisadora Noemi Leão, e da Embrapa Florestas, sob responsabilidade de Sílvio Brienza Junior. “A Embrapa foi escolhida pelo histórico de pesquisas no bioma e pela presença consolidada na região, com unidades em todos os estados cobertos pela floresta”, explicou Brienza.
A madeira proveniente de espécies nativas brasileiras é uma das mais valorizadas do mundo, mas a exploração ilegal ainda predomina. O projeto busca mudar esse cenário, ampliando o conhecimento científico e tecnológico sobre a silvicultura de árvores nativas e consolidando um modelo produtivo sustentável.
“O país tem 50 milhões de hectares de pastagens degradadas com baixa aptidão agrícola, que poderiam ser destinadas à produção de madeira. Isso representa metade da área necessária para atender à demanda global até 2050. Apesar dessa vantagem, o Brasil responde hoje por menos de 10% da produção mundial de madeira tropical”, ressaltou Tereza Campello.
O projeto da UFSCar e da Embrapa se insere na estratégia do BNDES de fortalecer a bioeconomia e a restauração ecológica produtiva. O Banco planeja recuperar 6 milhões de hectares até 2030 e 24 milhões até 2050, transformando o atual Arco do Desmatamento em um Arco da Restauração, com ações articuladas entre os setores público e privado.