Autora resgata trajetória histórica e relaciona sustentabilidade à vida em comunidade
Em entrevista na TV 247, Amelia Gonzalez fala sobre seu livro e os desafios de repensar consumo, desenvolvimento e nosso papel diante da crise climática
Beatriz Bevilaqua, 247 - No programa “Brasil Sustentável” dessa semana, na TV 247, recebemos Amelia Gonzalez, referência no jornalismo ambiental, para conversar sobre o livro “Ser Sustentável”, lançado pela editora Pirilampo. A obra reúne artigos publicados ao longo dos anos no blog homônimo e traz reflexões fundamentais sobre a sustentabilidade, suas origens e os caminhos possíveis diante da emergência climática.Amelia lembra que começou a se dedicar ao tema ainda nos anos 2000, quando criou e editou o caderno Razão Social em O Globo (2003-2012), primeira editoria de um grande veículo de comunicação brasileiro voltada a discutir sustentabilidade e responsabilidade social corporativa. Mais tarde, assinou a coluna Nova Ética Social no portal G1 e participou de programas no Canal Futura. Hoje, segue produzindo conteúdos, artigos e reflexões sobre a relação entre meio ambiente, empresas e sociedade.
“Esse estudo sobre sustentabilidade foi me tornando uma outra pessoa. Passei a me conectar muito mais com o entorno. O jornalismo, muitas vezes, nos leva a atirar para todos os lados. Mas, ao focar nesse tema, eu ganhei um novo olhar para o mundo”, afirma Amelia.
Na entrevista, a autora destacou a ambiguidade da relação entre empresas e sociedade. “As empresas têm um grande papel nos impactos ambientais, mas também precisamos olhar para o nosso papel como consumidores. O lixo que criticamos é, em grande parte, resultado do que escolhemos comprar”, lembra.
O livro também resgata a trajetória histórica da sustentabilidade, desde a Conferência de Estocolmo (1972) e a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, IPCC (1988) até a popularização do termo ESG (Environmental, Social and Governance) nos anos 2000. Para Amelia, a obra pode servir de referência a professores, estudantes e todos aqueles que desejam entender as bases desse debate.
Mais do que propor soluções fáceis, Amelia defende uma mudança de percepção. Inspirada pela encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, e pelo livro Ficar com o Problema, de Donna Haraway, ela sugere uma postura de desaceleração e contato com o entorno: “Abraçar uma árvore, caminhar, pensar de onde vem a fruta que você consome. Respeitar o entorno pode transformar a forma como nos relacionamos com o mundo”, afirma.
Essa reflexão abre espaço para dilemas sociais e econômicos: até que ponto diminuir o consumo pode gerar desemprego? E como equilibrar desenvolvimento econômico com preservação ambiental? Amelia reforça que esse é um debate coletivo, que não pode ficar apenas nas mãos de empresas e governos.
Ao citar pensadores como Jonathan Crary (24/7 – Capitalismo e os fins do sono) e Ernst Schumacher (O Negócio é Ser Pequeno), Amelia ressalta a importância de repensar a vida hiperconectada e individualizada. Para ela, ser sustentável também significa reconstruir laços comunitários, fazer contato com vizinhos e cultivar uma vida menos isolada diante das telas.
“Estamos falando de sustentabilidade, mas também de saúde mental, de viver em comunidade. Ser sustentável é perguntar: eu preciso mesmo disso? E, mais do que isso, é ter tempo e sensibilidade para sentir e respeitar o que está ao nosso redor”, conclui.
Assista na íntegra aqui: