Agricultura urbana transforma cidades em espaços de comida saudável e justiça social
Educador climático Cauã Messinetti defende produção orgânica em centros urbanos como ação de educação, consciência ambiental e combate à desigualdade
Beatriz Bevilaqua, 247 - O educador climático e gestor ambiental Cauã Messinetti participou essa semana do programa “Brasil Sustentável”, da TV 247, onde falou sobre como a agricultura urbana pode transformar cidades em espaços de produção de alimentos saudáveis, conscientes e socialmente inclusivos. Para ele, plantar em casa ou participar de hortas comunitárias vai muito além de produzir comida: é um ato político, educativo e ambiental.
Com mais de 14 anos de experiência, Cauã já facilitou mais de 100 oficinas e 20 cursos sobre compostagem, permacultura, consumo consciente e abelhas sem ferrão. Filho de professores da rede pública, ele acredita que a educação é a chave para transformar a realidade e despertar protagonismo nas pessoas. “Sempre vivi a realidade do ensino público e sempre acreditei que é por meio da educação que podemos gerar mudanças significativas”, afirma.
Para ele, a educação climática não é apenas educação ambiental. Trata-se de traduzir ações cotidianas em impacto direto no clima, conectando pessoas ao ciclo natural do alimento e da água. “Plantar um vasinho em casa ou cuidar de uma composteira influencia o clima, ajuda na conscientização sobre consumo e resíduo, e devolve às pessoas o protagonismo de transformar seu entorno”, explica.
Cauã alerta que a geração atual enfrenta desafios inéditos, como a desconexão com a natureza e a saturação de informações digitais. Para reconectar crianças e jovens, ele utiliza abordagens lúdicas e práticas: mostra abelhas sem ferrão em caixinhas pedagógicas, ensina compostagem com minhocas e promove experiências diretas com plantas e insetos, despertando interesse e quebrando paradigmas. Segundo ele, “quando a pessoa se envolve com o que planta ou cuida, ela compreende os ciclos naturais e passa a valorizar a produção orgânica e o cuidado ambiental”.
A agricultura urbana vai além da produção de alimentos e carrega uma forte dimensão social e de justiça ambiental. Muitos projetos estão presentes em territórios vulneráveis, oferecendo oportunidades de geração de renda e fortalecimento comunitário. É o caso do coletivo “Mulheres do Gau”, formado por imigrantes nordestinas que atuam como agricultoras no Viveiro Escola União de Vila Nova, em São Miguel Paulista. Em áreas públicas e sob viadutos, hortas comunitárias e iniciativas de compostagem transformam o espaço urbano, garantindo acesso a alimentos saudáveis mesmo em regiões periféricas.
Cauã critica o modelo convencional de produção agroindustrial, que prioriza lucro e exportação em detrimento da comida local e segura. “O uso de agrotóxicos mata a biodiversidade do solo e prejudica a saúde. Produzir em casa ou coletivamente, respeitando as necessidades das plantas, é possível e é um ato de autonomia”, diz. Ele explica que o sucesso da agricultura urbana depende de fatores básicos como luz, água, nutrientes e respeito às estações do ano. Um alface no verão, por exemplo, cresce menos do que no frio, mas ainda assim fornece alimento saudável e reforça a consciência sobre ciclos naturais.
Além da produção de alimentos, a agricultura urbana promove educação sobre resíduos e consumo consciente. Cada brasileiro gera, em média, meio quilo de resíduo orgânico por dia, e projetos de compostagem aproveitam esses materiais para nutrir hortas e transformar o lixo em recursos. “Não é preciso produzir tudo que você consome, mas pequenas ações cotidianas como plantar, compostar, participar de hortas coletivas fortalecem o vínculo com a natureza e contribuem para a mudança climática”, afirma.
Para Cauã, o futuro da agricultura urbana depende da mobilização popular e do protagonismo local. Ele acredita que cada indivíduo pode fazer parte do movimento: seja compostando em casa, incentivando hortas coletivas, participando de iniciativas comunitárias ou pressionando por políticas públicas de sustentabilidade. “Não estamos mais em tempo de esperar que a mudança venha de fora. Cada ação importa e pode transformar a realidade das nossas cidades e das próximas gerações”, conclui.
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