Vitória da soberania brasileira na ONU
Na ONU, Lula confronta Trump e expõe a disputa entre soberania e o avanço do neofascismo global
O antagonismo entre Brasil e Estados Unidos foi a tônica dos discursos dos dois países. “Ninguém desafia Trump como o presidente do Brasil”. A manchete do The New York Times, após a taxação de Trump ao Brasil, tornou-se exemplo para todos os países. O enfrentamento, a postura de encarar a soberania com decência e procurar sempre o diálogo, mas não abaixar as calças para os desejos americanos, são vistos como heroicos. A França, que foi taxada entre 20% e 25%, e o ministro francês da Indústria, Marc Ferracci, que disse que a Europa responderia de "maneira proporcional" e nada aconteceu, viveu uma situação constrangedora, quando a polícia americana parou a comitiva de Macron para que a comitiva de Trump passasse, e teve que seguir o caminho todo a pé.
O presidente Lula conseguiu ter o discurso mais forte e corajoso na ONU, sem medo de encarar Trump cara a cara. Toda a dúvida que se levantou sobre enfrentamento deu lugar a um Trump que marcou um encontro pessoal com Lula. Mesmo assim, enquadrou os EUA. “O multilateralismo está diante de nova encruzilhada. A autoridade desta Organização está em xeque. Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra". Reafirmou, na cara do presidente americano, o papel do Brasil no enfrentamento democrático à extrema direita, que é hoje uma ameaça mundial. John Ikenberry (2018) considera que o internacionalismo liberal sofre de uma crise pelo seu sucesso no pós-Guerra Fria e que teria futuro se fosse reinventado, mas estamos presenciando uma nova ordem mundial de domínio chinês, com países ao seu redor demonstrando força econômica, como Rússia, Índia e Brasil. E isso incomoda o perdido Trump.
Lula chama a atenção para o extremismo de Israel pelo genocídio. Apesar de França, Canadá e Reino Unido terem recentemente reconhecido a criação do Estado Palestino, Trump defende Israel, mesmo Benjamin Netanyahu tendo afirmado que isso nunca vai acontecer. Afinal, o colonialismo funciona de forma diferente, para que pudesse perpetuar sua ocupação e apartheid. Os Estados Unidos são aliados do genocídio, assim como o Império Britânico desde o início do século XX, quando a Palestina estava sob controle do Império Otomano. Basta lembrar do acordo Sykes-Picot, durante a Primeira Guerra Mundial, para dividir as terras da Palestina para si, com a anuência de uma ONU em formação. Para acabar com os indígenas palestinos, moveram o máximo de judeus para aquela terra. Hoje, a divisão da Palestina interessa aos EUA, para levar suas construtoras e domínio americano, inclusive com torres Trump. A China, na ONU, chegou a falar ao representante de Israel: “Se um assaltante de banco usa funcionários e clientes como reféns, você mataria os reféns para poder pegar os assaltantes?” Fica a reflexão.
Lula defendeu a democracia e a soberania do país, a paz e a luta contra a fome. Foi aplaudido durante muito tempo. A encruzilhada que estamos vivendo diante do antagonismo entre Brasil e Estados Unidos fortalece não só o Brasil, mas todos aqueles que não aceitam mais o fascismo adotado por Trump diante dos dilemas da atualidade. Do lado de Trump estão a fome, as guerras, o genocídio em Gaza e a destruição da natureza. Do lado do Brasil estão a esperança de respeito aos povos, a proteção da Terra e o respeito ao cidadão. Trump acusa a ONU sobre a imigração, é contra o multilateralismo e a favor de que ele próprio salve o planeta. Ele inclusive se autoindicou ao Prêmio Nobel da Paz.
Nesse momento, somente a física busca uma teoria unificada do Universo. A política, que sempre tenta encontrar uma simplicidade parecida para salvá-la do paradoxo do populismo de extrema direita, desafia conceitos básicos sobre povo, democracia etc.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.