Pedro Benedito Maciel Neto avatar

Pedro Benedito Maciel Neto

Pedro Benedito Maciel Neto é advogado, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007.

192 artigos

HOME > blog

Um milhão de consciências

Quando falamos sobre arborização é impossível não lembrar da campanha “1 milhão de árvores”, lançada pelo prefeito Jacó Bittar no início dos anos 1990

Mudas de árvore (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Findo o segundo turno das eleições municipais de 1996 o então prefeito eleito Chico Amaral, um dos “autênticos” do MDB, me convidou para presidir a Fundação José Pedro de Oliveira, a “Mata Santa Genebra”. 

Eu achava que seria fácil gerir uma pequena estrutura da administração pública, ledo engano, pois, nas primeiras semanas à frente do órgão municipal e com apenas trinta e três anos de idade, percebi que no ambientalismo não há espaço para diletantismo, amadorismo, nem é espaço para improvisos, procurei apoio técnico e político. 

O Chico me nomeou presidente de um órgão, criado em 1983, sem nenhuma estrutura, o que havia era apenas uma guarita, a construção de um espaço patrocinado pela Petrobrás e uma cultura esquizofrênica de uso, abuso e abandono daquele próprio público.  

Até 1997, por disposição estatutária, o presidente da Fundação era o secretário de cultura e a fundação era como “um cachorro sem dono”, ignorada por alguns e abusada por outros. Pesquisadores da UNICAMP, por exemplo, usavam a mata para pesquisas, mas sem nenhuma disciplina ou publicidade - foi um escândalo quando passamos a exigir que os pesquisadores depositassem a ementa da pesquisa na secretaria da fundação, que passaram a ser avaliadas e validadas pela bióloga Denise Polidoro, servidora pública de carreira e a primeira diretora técnica da fundação, a qual “raptei” do museu de história natural do Bosque dos Jequitibás.

Se a fundação avançou naqueles anos (até apresentamos o anteprojeto do Plano de Manejo no escritório do PNUD em Brasília), foi graças ao apoio incondicional do Chico Amaral, da ajuda do então secretário chefe de gabinete, Mario Orlando Galvez de Carvalho, do pessoal do MDB, do brilhante Sidnei Furtado Fernandes e dos primeiros servidores da fundação, verdadeiros abnegados. 

Não pretendo sobre essa minha primeira experiência no primeiro escalão da administração pública, mas sobre arborização e da sua importância para o meio ambiente nos espaços urbanos. 

E quando falamos sobre arborização é impossível não lembrar da campanha “1 milhão de árvores”, lançada pelo prefeito Jacó Bittar (PT/PDT) no início dos anos 1990 em Campinas.

Mas por que estou falando sobre esse tema? 

Assisto todas as sessões da câmara dos vereadores de Campinas e algumas vezes as sessões de Sumaré (o Youtube nos oferece essa possibilidade) e ontem na câmara municipal de Campinas ocorreu um debate substantivo sobre o manejo das árvores no espaço urbano. 

Para alguns dos camaristas, o manejo em Campinas seria criminoso e para outros o trabalho realizado é adequado. 

O alvo das críticas foi o secretário Ernesto Paulella, responsável pela poda das árvores. 

Como eu disse ao Wandão (PSB), nosso vice-prefeito, eu não sei avaliar, tecnicamente, se as podas são adequadas ou exageradas, mas, a meu juízo, o Paulella foi exageradamente atacado pela oposição e desnecessariamente protegido pela base do governo; o secretário tem décadas de bons serviços prestados e seu currículo fala por si. 

Mas o que me incomodou foi o fato de o vereador Paulo Haddad (PSD) - para defender o Paulella -, ter feito críticas ao prefeito Jacó Bittar, especificamente ao projeto “um milhão de árvores”, lançado pela administração jacobina.

Haddad insinuou que as árvores plantadas sem critério ou rigor técnico naqueles anos pela administração do Jacó, podem ser a causa das podas que se realizam hoje, pelo menos foi o que eu entendi que ele quis dizer. 

Haddad é um vereador experiente, não precisaria desqualificar o trabalho daqueles anos, especialmente porque todos sabem que o Departamento de Parques e Jardins, era dirigido pelo engenheiro Ary Vieira de Paiva, uma das maiores autoridades em recursos florestais do mundo, doutor em arborização urbana. 

Vamos aos fatos. 

Em 1989 o então prefeito Jacó Bittar, ainda no PT, lançou o projeto de “Um Milhão de Árvores”.

Na época chegou-se à conclusão que a quantidade de árvores era pequena em Campinas e que, com um milhão de árvores plantadas, a cidade melhoraria a qualidade de vida dos campineiros.  

Em várias regiões as árvores, que hoje estão grandes, são daquela época, como as que hoje levam muita sombra e conforto térmico para as avenidas da Vila Padre Anchieta, bairro do distrito de Nova Aparecida (até 1989 a região era pouco ou quase nada  arborizada). 

E, num exemplo de política pública transversal, a Orquestra Sinfônica de Campinas chegou a fazer um hino da campanha e a música foi distribuída em fitas de vídeo para toda a população. 

O mandato do prefeito Jacó Bittar terminou em 1992, tendo sido semeado no coração de mais de 1 milhão de campineiros o sentimento ambientalista. 

Se Campinas tem incorporado nas suas políticas públicas a consciência sobre a importância da arborização urbana isso tudo começou naqueles anos; se temos o plantio de árvores em calçadas, com foco em espécies nativas e adequadas à infraestrutura urbana; se temos as microflorestas em áreas com risco de ondas de calor, buscando trazer sombra, melhorar a qualidade do ar e a temperatura; se a cidade sediou a oficina regional do Plano Nacional de Arborização Urbana (PlaNAU), buscando fortalecer a participação social e a construção coletiva de diretrizes para o plano é porque naqueles anos Jacó Bittar nos convocou para essa militância.  

Gosto de contar que, em razão da nossa atividade no terceiro setor, recebemos muitos jovens e algumas famílias ao longo de mais de vinte e cinco anos de voluntariado; uma das famílias que mais nos visitam vem da Suécia; recebemos os Sandelin, amigos que vivem em Mölndal, uma cidade ao lado de Gotemburgo, algumas vezes e em todas as visitas eles falam que Campinas é uma cidade muito bem arborizada e não escondem o seu encantamento com os “incontáveis tons de verde”.

Para defendermos nosso ponto de vista, não precisamos desqualificar ninguém, nem o Paulella, nem o Ary ou o Jacó Bittar. 

Essas são as reflexões.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Carregando anúncios...