Último prego no caixão: quase 70% condenam traição à pátria dos Bolsonaro
Resultados da pesquisa Quaest não são animadores para as perspectivas eleitorais e políticas do ex-presidente e seus apoiadores
Publicado originalmente em O Cafezinho
As ações de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos implodiram o apoio popular a seu pai. Talvez seja isso – mais do que sua condenação e prisão – o prego final no caixão político da família do ex-presidente.
Segundo a pesquisa Genial/Quaest divulgada hoje, 69% dos eleitores brasileiros acham que sua atuação nos Estados Unidos visa defender apenas seus próprios interesses.
Ou seja, mais de dois terços dos brasileiros consideram que ele é um traidor da pátria.
Apenas 23% o defendem. 8% não souberam ou não quiseram responder.


O momento atual confirma o que outras pesquisas já vinham apontando: Lula manteve uma tendência sólida de melhora da sua aprovação, que agora chegou a 46%, seis pontos a mais do que tinha em seu pior momento, em maio. Naquele mês, registrava 57% de rejeição contra 40% de aprovação – uma diferença de 17 pontos ou, como dizem nos Estados Unidos, “debaixo d’água”.
Desde então, sua rejeição vem caindo e sua aprovação subindo: hoje tem 51% de rejeição contra 46% de aprovação, estando apenas 5 pontos “debaixo d’água”, uma melhora de 12 pontos em relação ao período crítico.
Essa recuperação se manifesta em diversos segmentos: mulheres e homens (com os homens registrando crescimento de 5 pontos), em diferentes faixas etárias, ensino médio e fundamental, estabilidade entre quem possui ensino superior.
A melhora foi particularmente expressiva nas camadas populares, como será detalhado adiante.
O impacto da traição no eleitorado
Esses dados mostram uma derrota imensa de toda a direita brasileira. Isso porque ela, a direita, está fatalmente vinculada ao bolsonarismo. Por mais que um setor ou outro queira se desvincular de Bolsonaro, não adianta. Quando se fala em direita no Brasil de hoje, se pensa em Bolsonaro. É assim que está na cabeça do povo.
Então, se a maioria esmagadora do eleitorado acha que a família Bolsonaro traiu a pátria, isso contamina fatalmente a reputação da direita no país.
Os dados estratificados das respostas sobre Eduardo refletem o impacto profundo da sua traição sobre o prestígio do campo conservador.
Segundo a Quaest, 69% dos eleitores consideram que Eduardo Bolsonaro vem traindo seu país, em nome de interesses pessoais mesquinhos, como livrar o pai da prisão.

A divisão do eleitorado brasileiro
A pesquisa Quaest revela uma sociedade politicamente equilibrada: 33% se identificam com a esquerda (19% lulistas e 14% esquerda não-lulista), 30% não têm posicionamento político definido, e 33% se posicionam à direita (20% direita não-bolsonarista e 13% bolsonaristas). Esse equilíbrio torna o centro – os 30% sem posicionamento – o fiel da balança nas disputas eleitorais.
Alguns analistas, como o próprio Felipe Nunes, CEO da Quaest, têm enfatizado o conceito de “calcificação” do eleitorado brasileiro – posições políticas que se cristalizariam de tal forma que haveria grande dificuldade para se transformarem. Contudo, essa mesma pesquisa demonstra que tal calcificação é relativa e está intrinsecamente ligada aos fatos cotidianos da conjuntura política. Além disso, ela não se manifesta uniformemente em todos os estratos sociais, havendo segmentos mais receptivos a mudanças de opinião do que outros.

O isolamento de Eduardo Bolsonaro
Quando estratificamos as respostas sobre Eduardo Bolsonaro por esses grupos políticos, o isolamento fica ainda mais evidente. Ao centro, apenas 12% defendem as ações de Eduardo nos EUA, enquanto 78% as consideram egoístas e anti-patrióticas e 10% não souberam responder.
Na direita não-bolsonarista, 52% não apoiam suas iniciativas. Mais impressionante ainda: dentro da própria base bolsonarista, 35% questionam suas motivações (29% acham que defende interesses próprios e 6% não souberam responder).
Na esquerda, como era de se esperar, mais de 90% o consideram um traidor da pátria.

A imagem de Trump no Brasil
A imagem de Trump no Brasil também reflete essa deterioração. Perguntados se o ex-presidente americano está certo em impor taxas por acreditar numa perseguição a Bolsonaro, 80% do centro consideram a medida errada – número que cresceu de 77% em julho.
Entre a própria direita não-bolsonarista, 48% discordam de Trump. Mesmo entre bolsonaristas há divisão: 36% acham Trump errado contra 54% que o apoiam. A capacidade de Eduardo de mobilizar narrativas nas redes conseguiu reverter parcialmente essa rejeição entre a base – em julho, 48% dos bolsonaristas criticavam Trump -, mas não foi suficiente para reverter o quadro geral.

Forte queda na aprovação de Trump nos EUA
A popularidade do atual presidente dos Estados Unidos junto ao eleitorado americano também apresenta sinais de deterioração. A última pesquisa da Reuters/Ipsos demonstra uma queda contínua em sua aprovação desde o início do mandato em fevereiro. Partindo de 47%, os números vêm caindo paulatinamente e hoje se encontram no seu mínimo histórico de 40% – uma das piores aprovações para um presidente americano nesse período de mandato. Em menos de 300 dias de governo – período em que Lula mantinha mais de 60% de aprovação no Brasil, segundo a Quaest -, o republicano já perdeu 7 pontos percentuais.

A tendência dessa aprovação não é animadora, pois está lastreada em uma desestabilização dos fundamentos econômicos americanos. Nos Estados Unidos, assim como no Brasil, a inflação dos alimentos é determinante para a aprovação governamental. Enquanto no Brasil os preços dos alimentos estão em queda, nos Estados Unidos seguem em alta. Além disso, a mesma Pew Research Center revela que 61% dos americanos rejeitam as tarifas impostas pelo governo, com desaprovação generalizada a quase todas as políticas públicas implementadas. O presidente dos Estados Unidos só não enfrenta números piores devido à calcificação do eleitorado americano e à forte lealdade republicana, mas mesmo assim está perdendo o centro político – movimento inverso ao observado com Lula no Brasil.

O centro político empurrado para a esquerda
Assim como ocorreu em 2022, a radicalização bolsonarista voltou causar repulsa no centro.
Apesar da propaganda massiva do bolsonarismo, de colar no governo Lula a pecha de um regime “comunista”, radical, próximo da Venezuela e Cuba, a administração petista é vista como uma força de contenção ao extremismo bolsonarista.
Esse segmento de centro é atraído para as posições do governo Lula em busca de equilíbrio, racionalidade e moderação. É um fenômeno que se repete sempre que o bolsonarismo cruza algumas linhas vermelhas. As novas loucuras anti-patrióticas e anti-econômicas da famíia Bolsonaro ajudaram a forjar a nova frente ampla para 2026.
Segundo a pesquisa Quaest, o presidente cresceu nove pontos desde maio entre o eleitorado de centro, chegando a 42%, sua melhor pontuação no ano junto a esse segmento. Outro indicativo desse movimento é a melhora entre o eleitorado que se absteve em 2022, onde alcançou 39%, igualmente sua melhor marca desde o início do ano.

A recuperação de Lula nas camadas populares
A pesquisa mostra uma recuperação muito forte de Lula entre as camadas populares que possuem renda familiar até dois salários.
O presidente cresceu 10 pontos desde a última pesquisa de julho nesse segmento, saltando de 46% para 55% de aprovação. A desaprovação desabou para 40%.
O problema principal de Lula estava justamente nessa camada mais pobre. A queda acentuada nos preços dos alimentos básicos, portanto, seria a melhor explicaração para o avanço de sua aprovação. Feijão caiu 22% e arroz 19%, no acumulado de 12 meses, segundo o IBGE. Esses são produtos centrais na mesa do brasileiro de baixa renda. Nas classes médias, Lula vem manteve estabilidade ao longo do ano, com oscilação negativa em março, e recuperação desde maio.

A pesquisa Quaest, com entrevistas realizadas entre 13 e 17 de agosto, sinaliza que a família Bolsonaro voltou a perder parte do centro. Num país onde quem conquista os 30% “sem posicionamento político! ganha eleições, Eduardo Bolsonaro conseguiu a proeza de empurrar a maior parte desse grupo na direção de Lula.
O ex-presidente e seus filhos transformaram a defesa da pátria numa bandeira da esquerda e do centro não bolsonarista. É uma ironia histórica que poucos analistas conseguiram prever: aqueles que se apresentavam como os fanáticos patriotas acabaram sendo vistos pela maioria dos brasileiros como traidores da nação que juraram defender.
Baixe aqui a íntegra da pesquisa Quaest.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.