Trump quer ganhar o Prêmio Nobel da Paz
Para ganhar o Nobel da Paz, Trump precisa usar sua autoridade e elevar a diplomacia na Ucrânia e em Gaza. É possível, mas improvável
Como ler acertadamente o personagem Donald Trump? Essa pergunta paira no ar desde 2016, sem resposta conclusiva. O presidente dos Estados Unidos tem perfil extremo em diversos sentidos, mas o seu traço principal é que o ego o governa. A partir dessa constatação, podemos afirmar que ele entende o mundo para além de definições históricas; há vontade incontrolável de moldar e destruir tudo que toca, por puro prazer e divertimento, para que a sua feição horrenda prevaleça. Por isso, Trump retirou especialistas de diversas áreas de órgãos importantes de sua nação e colocou gente que nada entende de questões científicas e técnicas. Robert Kennedy Jr. é bom exemplo: ele “cuida” da Saúde dos estadunidenses e, ao mesmo tempo, é contra a vacina, como o seu chefe. Kennedy Jr. está no campo do negacionismo científico. Há situações semelhantes, intencionais, em todas as searas do governo Trump. Há também casos absurdos de cinismo e hipocrisia: o secretário do Departamento de Energia, Chris Wright, esteve em evento organizado pela Reuters, em Nova York, no mês passado. Ele teve a audácia de afirmar: “os Estados Unidos podem suprir a necessidade europeia de gás. Para isso é fundamental que a Europa pare o seu comércio energético com a Rússia”. Ao ser perguntado a respeito das transações financeiras de urânio entre os EUA e a Rússia, disse: “gostaríamos de parar, mas no momento não é possível”, sem ficar com as bochechas avermelhadas.
Muito bem. As ações políticas e econômicas de Trump também refletem a sua personalidade: ele quer ser reverenciado em todas as ocasiões, seja na Casa Branca, frente a seus colegas, ou na ONU, sentado em uma espécie de trono, em destaque. Ele conseguiu desmantelar o Partido Republicano e o remontou ao seu jeito, ou seja, contra as comunidades negra e LGBTQIAP+, sob o signo do terraplanismo e que tais. Trump é um mentiroso contumaz, todo o mundo sabe. Portanto, as tarifas e sanções praticamente diárias são, antes de tudo, demonstração de poder a outros chefes de Estado. A negociação comercial não é o mais importante de imediato. O ego o governa. Nesse sentido, ele não quer ficar em situação de desnível com Barack Obama. Trump quer, este ano, o Prêmio Nobel da Paz. Acontece, no entanto, que somente com o seu discurso ora beligerante, ora ameno, ele não conseguirá; terá de, por meio da autoridade que o cargo lhe confere, realizar reuniões extraordinárias e imprescindíveis entre Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin. Tal encontro deve ter mediação de outros países, o Brasil, por exemplo. A situação na Faixa de Gaza é mais complexa, mas o presidente dos EUA terá de proceder de forma semelhante para alcançar o Nobel: reuniões extraordinárias com mediação. A opção inicial foi a de colocar à mesa o Egito e o Catar, mas Trump terá de considerar a presença do Irã entre os mediadores; ela é inevitável e necessária. Em outras palavras, para que o mundo entre em um movimento de paz é fundamental que Trump olhe para o espelho e se convença de que pode ganhar o Nobel. Ele tem de acreditar que a via diplomática é importante. Ao tomar tais atitudes, certamente alcançará o Nobel e, por conseguinte, evitaria a Terceira Guerra Mundial. É necessário lembrar que ainda há cheiro de conflito disseminado no ar, como teme publicamente Péter Szijjártó, ministro de Relações Exteriores da Hungria: “Lamentavelmente, não é exagero afirmar que vivemos momento de real perigo”. Ele ainda disse mais: sentenciou que as sanções impostas pela União Europeia à Rússia causaram mais danos ao bloco do que a Moscou.
Como estamos falando de Donald Trump, e de tudo que carrega a sua figura de triste memória, ele também é símbolo de imprevisibilidade política. Por isso, o Nobel é possível, mas não é provável. Ao analisarmos as condições internas horríveis dos Estados Unidos, causadas por Trump, ele terá muitas dificuldades para acalmar os ânimos – coisa que não deve ser de seu interesse. Ele terá de correr contra o tempo para alcançar o nobre objetivo. No frigir dos ovos, Trump pode não ser agraciado, mesmo que consiga parar o conflito na Ucrânia e conter o genocídio na Faixa de Gaza. O fato de ele não ser um Nobel da Paz em dezembro seria justo, pois trata-se de personagem da extrema direita estadunidense que muitos males causou. Donald Trump nunca será um símbolo de paz, nem se ganhar o Prêmio.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
