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      Cândido Vaccarezza

      Dr. Cândido Vaccarezza é um médico e político formado pela Universidade Federal da Bahia e atualmente mora em São Paulo. Ele tem especializações em ginecologia e obstetrícia, saúde pública e saúde coletiva. Durante a pandemia, foi diretor do Hospital Ignácio P Gouveia, referência para o tratamento de Covid na Zona Leste de São Paulo. Como político, ele participou da luta pela democracia no Brasil na década de 1970 e foi deputado estadual e federal pelo PT. Além disso, ele também foi líder na Câmara do Governo Lula e Dilma e secretário de esporte e cultura em Mauá. Reg

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      Trump anuncia taxação ao Brasil e ameaça o mundo

      Com arrogância imperial, Trump ataca a soberania do Brasil, ameaça a economia nacional e tenta impor sua vontade ao mundo como se fosse dono do planeta

      Donald Trump (Foto: REUTERS/Umit Bektas)

      “L’État, c’est moi” – (O Estado sou eu) Luís XIV
      “I rule the world” – (Eu mando no mundo) pensamento de Trump

      Para começo de conversa, quero esclarecer que Luís XIV teve o reinado mais longevo da Europa, mas nunca disse esta frase; apenas agiu como se tivesse dito. Trump também nunca falou a frase mencionada, apesar de achar que pode mandar no mundo.

      O presidente dos Estados Unidos da América anunciou que aplicará ao Brasil as suas famosas tarifas punitivas de 50%, vistas por ele como um castigo a quem ousar desagradá-lo. No caso do Brasil, sua motivação é uma franca tentativa de interferência em decisões do Judiciário, de proibir a negociação do Brasil com os BRICS usando as moedas dos respectivos países em vez do dólar, e de impedir que, em nosso país, haja qualquer tipo de regulamentação das Big Techs. Ele reclamou também do comércio na Rua 25 de Março, em São Paulo, e do uso do Pix pelo Brasil, pois este diminui o lucro de várias empresas americanas como Visa, WhatsApp, Google e Mastercard.

      Ao ser perguntado por uma jornalista o porquê de taxar o Brasil, se os EUA eram superavitários, ele simplesmente respondeu: “Porque eu posso fazer isso. Ninguém mais conseguiria". É muita petulância e falta de noção.

      Enquanto escrevia este texto, ouvi que Alexandre de Moraes e mais alguns ministros do Supremo foram punidos com a perda do visto americano, pois hoje houve uma busca e apreensão na casa de Bolsonaro, com estabelecimento de medidas restritivas ao ex-presidente. Independentemente de a ação do Supremo ter sido certa ou errada — acho, por exemplo, a proibição de Bolsonaro falar com seu filho Eduardo incorreta; quem é pai ou quem é filho sabe o quanto isso dói — considero, no entanto, que o deputado Eduardo Bolsonaro age contra o Brasil e que a Câmara deveria puni-lo antes que o Supremo o faça. A atuação de Eduardo Bolsonaro atenta contra a soberania do Brasil.

      O slogan Make America Great Again (MAGA) expressa a ideia de “os Estados Unidos acima de todos os países e seu presidente, chefe de todos os governantes”! Não vai dar certo. O mundo tem, sem contarmos o Estado da Palestina e o Vaticano, 195 países, cada um com sua história, seus costumes, suas línguas e suas tradições. Nenhum império, em momento algum da história, governou o mundo. Senti vergonha alheia de ver o governador de São Paulo vestindo o boné da MAGA. Que desmantelo!

      Não contente com a estultice, no mesmo momento em que o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, reunia os principais empresários do setor atingido pelas medidas de Trump — entre eles o presidente da Embraer, o presidente da Fiesp e o presidente da Abimaq —, Tarcísio de Freitas, para se contrapor a esta iniciativa, promoveu uma reunião em São Paulo com outros empresários, o encarregado de negócios da embaixada americana e o cônsul dos EUA em São Paulo. Nenhum dos convidados de Geraldo Alckmin deixou de ir a Brasília, e nenhum dos presentes na reunião do governador de São Paulo foi convidado para a reunião que definiria as ações principais. Ainda de quebra, Tarcísio tomou um “chega pra lá” de Eduardo Bolsonaro. A reunião promovida pelo governo federal sugeriu o adiamento das medidas de Trump e uma série de ações junto às empresas americanas para envolvê-las na solução do problema. Quanto à reunião do governador, ninguém sabe os resultados.

      Vivemos hoje o começo de uma nova Guerra Fria, diferente da iniciada depois da Segunda Guerra Mundial, num mundo cada vez mais multipolarizado, com situações e tipos de disputas muito diferentes do período em que o mundo era dividido entre EUA e URSS. Trump quer criar um fluxo econômico para fortalecer ainda mais a economia americana, sugar capital do mundo inteiro para empresas americanas, para o governo americano e retomar a velha ideia, há muito cultivada por alguns movimentos americanos: “os EUA são o centro do mundo, a sede do império; os demais são subordinados ou colônias”. Este bloco, na cabeça deles, vai se contrapor, sob o tacão americano, à China.

      Porém, o mundo é outro. A China, diferente da União Soviética, investe no mundo, não distribui armas nem incentiva revoluções; defende (a partir dos seus interesses) o livre mercado, faz a Rota da Seda e é a opção de mercado para diversos países, sendo o maior parceiro comercial do Brasil. Para sermos justos, esta disputa com a China vem sendo empreendida pelo Estado americano desde que perceberam que, para eles, a China era mais “perigosa” que a União Soviética.

      Trump, até agora, não conseguiu uma vitória definitiva. Disse que acabaria a guerra entre Rússia e Ucrânia em 24 horas; ameaçou uma taxação gigante para produtos chineses e recuou; falou em comprar a Groenlândia e anexar o Canadá, mas não toca mais nesses assuntos; ameaçou e bombardeou o Irã, mas não destruiu as usinas de enriquecimento de urânio; humilhou Zelensky na Casa Branca e continua gastando dinheiro americano na guerra. Sucesso mesmo só na deportação dos estrangeiros que lá estavam ilegalmente. A cada dia apresenta uma prosápia e, alguns dias depois, recua ou deixa de falar sobre o assunto. O fato é que este comportamento já está criando dificuldades nos EUA. Muitas empresas americanas têm manifestado discordâncias, e não podemos prever como serão os desdobramentos do seu governo depois das próximas eleições para a Câmara, em 2026.

      O comportamento de Trump, por mais que agrade aos seus apoiadores e segmentos de ultradireita, além das incertezas no interior dos EUA, gera uma certa insegurança no mundo; abre maior espaço para a presença da China socialista, dirigida pelo Partido Comunista, crescer na disputa de hegemonia e na geopolítica mundial, causando um efeito contrário ao pretendido por Trump. Sua postura contribui também para o enfraquecimento ainda maior das organizações mundiais como ONU, OEA, entre outras; aprofunda a disputa entre as nações; estimula a corrida armamentista e a guerra comercial sem freios.

      Os EUA ainda são o país mais forte econômica e militarmente. Seu PIB é maior que os da China, Japão e Alemanha somados; sua capacidade militar supera as da Rússia, da China e da Índia juntas. Caminhamos para um cenário complicado. A maior potência do mundo joga para aprofundar os conflitos e disputas mundiais. Essa situação exige de todas as nações equilíbrio e articulação para conter a calamidade anunciada. Devemos defender a primazia da diplomacia para resolver os conflitos — e não a guerra.

      Em relação ao Brasil, Trump rompe com uma longa tradição comercial de amizade e respeito mútuo, consolidada por mais de dois séculos. Em nenhum momento da nossa história o Estado ou a nação brasileira teve qualquer postura hostil aos EUA, fator importante para o equilíbrio da América do Sul, mesmo se considerarmos as dificuldades impostas pela Guerra Fria no século passado, quando o Brasil reconheceu o governo de Cuba em 1962; os EUA apoiaram o golpe militar de 1964 e, durante o governo Carter, exerceram forte pressão contra o programa nuclear brasileiro e pela defesa dos direitos humanos; mais recentemente, durante o governo Obama, os EUA espionaram a presidente Dilma.

      Vivemos atualmente, senão a pior, uma das piores crises entre EUA e Brasil, pois o quadro interno do Brasil é de muita fragilidade política, polarização exacerbada, falta de projeto nacional e um cenário, desde a segunda eleição de Dilma, de conflito insolúvel.

      Os EUA têm superávit comercial com o Brasil há mais de 15 anos. É o destino de investimentos de muitas empresas brasileiras, assim como o Brasil é destino de muitos investimentos americanos. Os EUA são o nosso segundo parceiro comercial. O quadro é delicado: se Trump levar a efeito as ameaças, os EUA vão sofrer, mas nós sofreremos mais, pois nossa economia é muito mais frágil do que a americana e não existe um país do tamanho dos EUA para importar, principalmente, os nossos produtos industriais, que têm maior valor agregado.

      Independentemente desta consideração, o Brasil tem direito de estabelecer acordos comerciais, políticos e militares com qualquer nação soberana do mundo, sem se submeter à aprovação ou anuência de nenhum chefe de Estado de outra nação. O momento é de valorizar a diplomacia, unir os brasileiros e reforçar os caminhos para sair da crise. As ameaças de Trump devem ser — e estão sendo — rechaçadas.

      Destaco a fala do senador Hamilton Mourão, ex-vice-presidente da República no governo passado: “Não aceito que Trump venha meter o bedelho em caso interno nosso. Há uma injustiça sendo praticada contra o presidente Bolsonaro? Há, mas compete a nós, brasileiros, resolvermos isso”.

      Cabe ao governo brasileiro, com prudência e firmeza, reafirmar a nossa soberania e não se vergar diante das ameaças trumpistas; procurar acordos com empresários americanos e brasileiros para pressionar os EUA a negociar saídas; ao mesmo tempo, deve aproveitar a oportunidade para abrir novas fronteiras para o mercado brasileiro. Foi muito positiva a reunião do vice-presidente Geraldo Alckmin com a Amcham e empresários de diversos setores para definir encaminhamentos a fim de equacionar esta crise provocada pelo presidente dos EUA.

      Acho também que temos que observar com cautela, se os acordos falharem, como serão as contrapartidas; deveremos preservar sempre os nossos interesses e não priorizar medidas que atendam ao nosso orgulho, mas que nos fragilizem.

      Está em questão a soberania do Brasil. Devemos cerrar fileiras entre todos os brasileiros que defendem o Brasil, deixar claro para o mundo que a nação brasileira não bate continência para governante de outro país e que defendemos a autodeterminação dos povos.

      Considero que o governo federal, nesta crise, está indo bem — e dizer isso não significa apoiar a reeleição de Lula ou apoiar o PT. Considero também que, em questões cruciais como a defesa do desenvolvimento brasileiro, o governo tem se rendido ao fundamentalismo climático antinacional e tem impedido a exploração dos recursos minerais e energéticos na região amazônica. Há segmentos que se escondem atrás da defesa da preservação ambiental — que todos defendemos — e prejudicam o desenvolvimento do Brasil com argumentos canhestros, que impedem a exploração do petróleo da Margem Equatorial e fragilizam nosso país.

      É neste contexto que o Brasil se aproxima das eleições do ano que vem. Precisamos ter coragem para mudar. Devemos superar as disputas de “lacrações” e não confundir a necessidade de todos os brasileiros reagirem unidos contra a ingerência de um chefe de Estado de outro país em assuntos internos do Brasil — e contra as medidas econômicas que nos fragilizam — com o processo eleitoral de 2026.

      Eu apoio o governo brasileiro contra o tarifaço de Trump e apoio Aldo Rebelo para presidente do Brasil. Ele está viajando pelo país, levando na bagagem sua capacidade política e sua longa experiência administrativa para apresentar ao Brasil um projeto de desenvolvimento econômico e social de longo prazo, centrado na questão nacional e na construção da paz interna para o Brasil.

      O Brasil tem jeito!

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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