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André Barroso

Artista plástico da escola de Belas Artes da UFRJ com curso de pós-graduação em Educação e patrimônio cultural e artístico pela UNB. Trabalhou nos jornais O Fluminense, Diário da tarde (MG), Jornal do Sol (BA), O Dia, Jornal do Brasil, Extra e Diário Lance; além do semanário pasquim e colaboração com a Folha de São Paulo e Correio Braziliense. 18h50 pronto

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Só ofende os bons quem poupa os maus: o império de Trump contra o Fed

Trump afronta o Fed e ameaça transformar os EUA na Roma de Calígula

O presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca - 25/08/2025 (Foto: REUTERS/Jonathan Ernst)

O assunto que não ganha destaque nos noticiários é o quanto Trump está cada vez mais autoritário, passando por cima das leis americanas apenas para impor suas vontades e as da extrema direita. O presidente americano demite a diretora Lisa Cook, mesmo não tendo esse poder. Assim como no Brasil, o Banco Central é autônomo em suas decisões econômicas, pois tem como função conduzir a política monetária do país e garantir segurança ao sistema financeiro. O Federal Reserve, criado em 1913, tem como principal objetivo controlar a inflação e promover o pleno emprego.

Sem compreender o funcionamento do sistema econômico, Trump busca aprofundar a tensão com o Fed, alvo constante de suas críticas por não reduzir os juros com mais rapidez. Ele acusa Lisa Cook de fraude hipotecária, sem apresentar provas, alegação que será investigada pelo Departamento de Justiça, mas sem validade legal para justificar a demissão. A lei prevê que membros do conselho do Fed só podem ser removidos “por justa causa”. O cargo é protegido por mandato. Em 111 anos de existência, não há precedentes de uma ação semelhante à de Trump.

Lisa Cook pretende resistir na Justiça, mesmo ciente de que Trump não tem esse direito. Por enquanto, o resultado é a queda do dólar, a alta do ouro e incertezas sobre os títulos do Tesouro americano. A quebra de confiança na independência do Banco Central é preocupante, pois a autonomia garante decisões técnicas sem pressões políticas. É evidente que Trump pretende ocupar espaços em todas as esferas da sociedade, incluindo universidades, jornalismo e órgãos autônomos. Forçar um corte de juros para maquiar a situação econômica, criando uma falsa sensação de estabilidade, pode gerar problemas ainda mais graves a longo prazo — como mostra o exemplo de Erdogan na Turquia, que adotou estratégia semelhante e levou a inflação a 80% ao ano.

Trump está disposto a levar adiante essa demissão a qualquer custo, à maneira de um imperador romano, impondo tarifaços não apenas para controlar a autoridade monetária, mas também para tomar o comando do Board of Governors. Assim, poderia demitir presidentes regionais que integram o FOMC (Federal Open Market Committee) e ditar os rumos da política monetária americana, com impacto direto sobre os mercados globais, dada a centralidade do dólar como moeda internacional.

O governo americano se comporta como uma Roma de Calígula. Naquele império, a megalomania, o abuso de poder para fins pessoais, a má gestão financeira e campanhas militares desastrosas conduziram ao caos. Lembra alguém? Sim. Trump já atacou a liberdade acadêmica e de expressão, afrontou juízes que tentaram conter seus excessos e perseguiu imigrantes. Calígula acreditava ter o direito de fazer o que quisesse com qualquer pessoa. Trump também já declarou que podia aplicar tarifas à sua vontade e, se não conseguisse, usaria chantagem e qualquer recurso necessário para alcançar seus objetivos.

O que está em curso vai além da figura de Trump: trata-se de um movimento saudosista de um capitalismo selvagem, semelhante ao do início do século passado, sem consciência, sem coração e sem medo. Calígula anexou o reino da Mauritânia como província e acabou assassinado em uma conspiração de oficiais da Guarda Pretoriana. Hoje, muitos ao redor do mundo apostam que a saúde debilitada de Trump ou um golpe interno possam interromper sua escalada autoritária. Enquanto isso, os Estados Unidos enfrentam agruras crescentes em temas como fome, fronteiras, famílias e finitude. F em tudo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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