Sanções, chantagem e um novo Guaidó
A escalada de sanções e chantagens é parte de um roteiro político global, em que a extrema-direita dos EUA age de forma articulada com seus aliados no mundo
O 11 de setembro de 2025 entrou para a história como o dia em que o Supremo Tribunal Federal condenou Jair Bolsonaro e a cúpula militar que tentou um golpe de Estado contra o regime democrático.
A resposta de Washington veio com velocidade e veneno: o secretário de Estado, Marco Rubio, prometeu redobrar a chantagem diplomática, ampliar sanções unilaterais e impor tarifas ainda mais punitivas ao Brasil.
Não por acaso, Eduardo Bolsonaro — o deputado lesa-pátria que permanece nos EUA conspirando contra o país que o elegeu — vem celebrando as sanções draconianas impostas ao Brasil. Em entrevistas, antecipa movimentos e reforça a retórica de desestabilização.
Democracia e soberania não estão em pauta
Essa escalada empurra o Brasil para alianças ainda mais sólidas com a China, os países do BRICS, a União Africana e governos latino-americanos que também enfrentam ingerências espúrias de Washington — uma das obsessões geopolíticas de Trump.
Foi neste contexto que Lula publicou artigo no New York Times, afirmando estar aberto a negociar “qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos”, mas advertindo: “a democracia e a soberania do Brasil não estão em pauta”.
As sanções impostas por Trump se entrelaçam com o cenário eleitoral de 2026. Bolsonaro está inelegível. A direita radical não tem candidato viável. A direita liberal ainda busca um nome que herde o capital eleitoral bolsonarista. Lula, favorito nas pesquisas para ganhar até no primeiro turno, desfila como candidato à espera de um adversário.
Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quinta-feira (18) mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece com chances de vencer as eleições de 2026 já no primeiro turno, indica o diretor do instituto, Felipe Nunes.
Eduardo lesa-pátria, o Guaidó do Brasil
Nesse vácuo à direita, Eduardo Bolsonaro acena com a intenção de disputar a presidência. A ameaça veio em forma de ultimato ao presidente do PL, Valdemar da Costa Neto: se não for o escolhido, muda de partido. A movimentação revela mais do que ambição — revela estratégia.
A especulação sobre Eduardo Bolsonaro como “Guaidó brasileiro” não é nova. O tema já havia sido levantado por setores da mídia brasileira, ainda que de forma tímida. Mas ganhou corpo e robustez a partir do momento em que Eduardo foi alçado à liderança do PL na Câmara dos Deputados — um gesto que, para muitos, sinaliza sua preparação como figura de proa da extrema-direita em 2026.
Em Washington — e na mídia brasileira de forma discreta — circula a hipótese de que Donald Trump prepara Eduardo para atuar como uma espécie de “presidente paralelo”, pronto para contestar os resultados eleitorais e desestabilizar o país caso Lula vença novamente, como até o momento as pesquisas indicam.
A analogia com Juan Guaidó não é gratuita
Guaidó se autoproclamou presidente interino da Venezuela em 2019, contestando a legitimidade de Nicolás Maduro. Recebeu apoio imediato de Trump, que foi o primeiro a reconhecê-lo como chefe de Estado. Hoje, o mesmo Trump ameaça invadir a Venezuela, enviando três navios de guerra à costa do país em agosto de 2025.
A figura de Eduardo, portanto, não é apenas a de um candidato. É a de um operador político transnacional, que atua em sintonia com interesses estrangeiros e com a extrema-direita global.
Sua eventual candidatura pode ser menos sobre vencer nas urnas e mais sobre manter viva a chama da instabilidade e do golpe continuado — com chancela internacional e respaldo partidário.
Nova ofensiva do golpe continuado em 2026
Não é coincidência que as ameaças contra o Brasil se intensifiquem agora. O objetivo da extrema-direita trumpista é enfraquecer o país no presente e preparar terreno para uma nova ofensiva golpista em 2026.
A escalada de sanções e chantagens é parte de um roteiro político global, em que a extrema-direita dos EUA age de forma articulada com seus aliados no Brasil e no mundo.
As atenções devem se voltar para essas movimentações externas — sem esquecer, jamais, dos atentados internos. O mais recente golpe legislativo em curso tem nome e sobrenome: anistia ampla, geral e irrestrita.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.