Quando a comunicação inclui, a democracia floresce
Informação acessível é mais do que inclusão: é respeito, igualdade e cidadania para todos
Por Michelle Catarine Machado e Naira Rodrigues Gaspar
A coluna desta semana, às vésperas do Dia Nacional de Luta pelos Direitos das Pessoas com Deficiência, celebrado em 21 de setembro, chama a atenção para um direito muitas vezes ignorado, mas essencial para a vida em sociedade: a acessibilidade na forma de se comunicar. É pela linguagem que se compartilham ideias, sentimentos e visões de mundo. Quando esse processo não alcança a todos, deixa de aproximar e passa a excluir.
Nesse cenário, três ferramentas se destacam. A Libras, Língua Brasileira de Sinais, é uma língua oficial do Brasil, com estrutura gramatical e vocabulário próprios. Com sinais, movimentos e expressões, possibilita a comunicação de sentimentos, pensamentos e experiências tão plenamente quanto qualquer outra língua. Sua presença em escolas, serviços públicos, transmissões e eventos significa garantir cidadania e reconhecimento de identidade.
A audiodescrição é outro exemplo de como derrubar barreiras culturais. Ela traduz imagens em palavras, narrando ambientes, expressões e movimentos em filmes, peças, aulas ou eventos. Não se trata apenas de acrescentar uma narração: é transformar o modo como a sociedade encara o acesso à informação, ampliando a participação de todos em condições de igualdade.
A linguagem simples tem como objetivo tornar qualquer mensagem compreensível de imediato, seja um documento oficial, uma sentença judicial, uma bula de remédio, uma receita médica ou até um cardápio. Ao trocar jargões técnicos e frases complicadas por palavras simples e diretas, garante-se que todos tenham acesso pleno à informação no dia a dia. O Projeto de Lei nº 6.256/2019, de autoria da deputada federal Érika Kokay, aprovado no Senado e em análise na Câmara, busca consolidar esse princípio como política nacional.
A cultura também ajuda a refletir sobre o tema. O romance Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, e sua adaptação para o cinema dirigida por Fernando Meirelles mostram como a falta de acesso expõe desigualdades e preconceitos. É metáfora de uma sociedade que, ao não garantir acessibilidade, escolhe a exclusão. Comunicar sem barreiras é, portanto, mais que técnica: é dignidade e respeito.
O Brasil já possui uma legislação que garante direitos, mas isso não basta. É preciso transformar a cultura para que a acessibilidade esteja presente no cotidiano e alcance todas as pessoas. Só assim o que está previsto em lei poderá se tornar prática de verdade.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
