Por que o PIX é tão importante?
O sistema criado pelo Banco Central desafia os lucros bilionários dos bancos e das big techs ao eliminar o custo da intermediação financeira
Neste final de semana, a quase totalidade dos “analistas econômicos” publicados em papel tratou do PIX e de sua relação com o governo Trump. A maioria dos artigos não explica exatamente como e por que o PIX afeta os americanos.
Vamos à mágica! No Brasil dos anos 1980, a hiperinflação fazia os preços das coisas mudarem ao longo de um dia. Vários planos econômicos foram tentados à exaustão e o país, com dimensões continentais, exigia uma integração então impensável.
Esse cenário estimulou a informatização dos bancos, que atingiram um patamar on-line, real time. Essa integração permitiu, especialmente na década seguinte, por exemplo, que um cliente com conta em Marabá pudesse sacar seu dinheiro em qualquer lugar do país, bastando digitar uma senha. Essa integração exigia circuitos de comunicação disponíveis — o que só ocorreria após 1988 (com a privatização, quando os investimentos foram retomados) — além de capacidade de processamento de dados. A rede de transações eletrônicas brasileira é pioneira e foi exemplo para muitos países.
Para administrar essa rede, os bancos criaram uma estrutura arquitetada a partir da utilizada pelos cartões de crédito.
Nesse sistema, as bandeiras são o sistema. Cada uma com suas peculiaridades — como Visa e Mastercard —, respondendo essencialmente pela aceitação de clientes e pelo marketing. Depois, aparecem os adquirentes, empresas responsáveis pela captura da transação e pela conexão entre o emissor e o estabelecimento comercial. Emissores são aqueles que definem o limite de crédito de cada cliente, emitem o cartão e bancam os riscos.
E quem paga esses custos operacionais? As bandeiras cobram royalties do emissor e do adquirente para atuarem em seu sistema; o adquirente cobra uma fee da transação do cliente e taxas dos comerciantes. Os emissores cobram anuidade e juros do portador quando este financia a compra. Isso é a chamada intermediação financeira: o que os bancos cobram dos clientes embute o custo da operação e o lucro dos bancos. No caso dos cartões de crédito, esse valor é de, no mínimo, 3% do valor da transação. Em 2024, as transações por esse mecanismo atingiram R$ 4,1 trilhões, o que significa uma receita só de comissões (fora juros, aluguéis de equipamentos etc.) de 123 bilhões de reais. Esse valor ultrapassa, e muito, os custos e entra nos balanços dos bancos como lucros de subsidiárias.
O custo bancário não é só a diferença entre o custo de captação e o de empréstimo. Inclui outros penduricalhos, taxas e fees. No Brasil, esses valores atingem patamares absurdos, que foram combatidos no segundo governo Lula, especialmente pelo Banco do Brasil.
O PIX nasce na esteira do esforço de redução desse custo e atingiu resultados impressionantes. As contas digitais permitiram a alguns milhões de brasileiros o acesso aos bancos. O PIX permitiu que todos esses milhões de pessoas se relacionassem sem intermediários. Já foram movimentados mais de R$ 60 trilhões sem o custo de tarifas bancárias, tornando os bancos desnecessários nas transações à vista.
O sucesso do PIX incomoda muita gente. Ligar um país grande (como os EUA), culturalmente diverso (muito mais que os EUA), com tecnologia de ponta (desenvolvida por big techs dos EUA) e com uma população pouco alfabetizada (94,7% contra 100% dos EUA) — e ainda fazer um sistema que derruba um dos pilares do sistema bancário, acabando com o custo da intermediação financeira no sistema de pagamentos — é uma revolução.
E o lançamento do PIX a prazo ofereceria uma alternativa aos cartões de crédito, afetando as empresas dos EUA que atuam no país. Isso poderia se propagar para outros países, por apontar alternativas reais aos sistemas dominados pelas big techs americanas, a baixíssimo custo.
A Meta, de Mark Zuckerberg, dona do WhatsApp, desenvolveu aplicativos de troca de valores que ficaram obscurecidos com o sucesso do PIX.
A inovação — traço marcante da digitalização — parece ter em Trump um opositor, que prefere a companhia de seus correligionários àquilo que pode beneficiar toda a população.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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