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Pedro Benedito Maciel Neto

Pedro Benedito Maciel Neto é advogado, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007.

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Por que não eu?

Diante da adversidade, seguir com coragem

Ilustração de leucócitos (Foto: Gerada por IA/DALL-E)
Queria ter aceitadoA vida como ela é A cada um cabe alegrias E a tristeza que vier O acaso vai me proteger Enquanto eu andar distraído O acaso vai me proteger Enquanto eu andar (Epitáfio, Titãs)

Sempre me considerei cuidadoso com a minha saúde, fiz os check-ups anuais, nunca fumei, não sou de beber muito (gosto de chopp e dos sanduíches “boca de anjo”, do FACCA e do GIOVANETTI), nem de “fazer madrugadas”, e - apesar de não ter me dedicado aos necessários exercícios em academias de ginástica -, vivi há décadas entre o sobrepeso e a obesidade, como os grandes craques, joguei futebol enquanto os joelhos e o peso permitiram, contudo, em 2019, tomei um susto.

Antes de contar do susto, um registro: nos últimos trinta anos, o médico que me atende é Nadim Elias Thame Junior, meu cunhado, casado com a Ana Lucia, minha irmã psicóloga. O Nadim é um capítulo à parte nas nossas vidas, pois, com incomum generosidade e inegável competência, cuida de todos nós; ele foi para os meus pais não apenas um médico, mas o filho que eles precisavam durante a enfermidade que os levou. Um dia conto por aqui algumas histórias do meu cunhado querido, tanto do médico quanto do ser humano ímpar.

Voltando ao susto de 2019. O susto foi enorme, porque os exames de rotina denunciaram um assanhamento incomum dos leucócitos, fato que já vinha sendo observado pelo meu médico, por isso ele me encaminhou a uma hematologista. Realizaram exames complementares e fui diagnosticado como portador de leucemia linfoide crônica (LLC), uma bomba que explodiu na minha cabeça. Eu tinha 55 anos.

Recebi a notícia da médica Ângela Luzo, hematologista e mãe dos meus sobrinhos do coração, os médicos Fernando e Julia Thame. O mundo desabou abaixo dos meus pés, pensei: “por que eu?”, afinal, desde os vinte e poucos anos faço anualmente o check-up necessário e tenho, no geral, um “bom comportamento” e tinha planos para viver até os noventa e sete anos.

Logo me dei conta de que “por que eu?” é uma pergunta boba, a pergunta certa seria: “por que não eu?”, afinal, com toda certeza, o planeta e seus movimentos de rotação e translação seguirão sem qualquer mudança, desde a minha partida e enquanto eu estiver sentadinho no banco dos “réus” prestando contas a Deus.

Recebido o diagnóstico, o acolhimento e o atendimento humanizado do Nadim e da Ângela me fortaleceram emocional e espiritualmente. Fato é que, por seis anos e meio, os leucócitos mantiveram-se comportados, contudo, o meu último exame revelou um assanhamento preocupante, o que obrigará a mudança do protocolo de acompanhamento e tratamento, além de acrescentarmos mais um especialista à minha lista de visitas, um oncologista.

Por que estou escrevendo sobre isso?

Para compartilhar com o leitor que um diagnóstico não é uma sentença de morte e para que todos saibam que, na maior parte das vezes, a leucemia linfoide crônica não apresenta nenhum sinal e é descoberta durante exames de rotina, ou seja, façam seus exames de rotina e ouçam seus médicos. Além do mais, milagres podem acontecer.

A LLC é uma espécie de erro genético, os linfócitos passam a se desenvolver de forma descontrolada e param de realizar suas funções; ela é considerada crônica porque essa alteração provoca o crescimento desordenado de linfócitos B, o que, geralmente, não impede a produção das células normais. Ou seja, ao mesmo tempo em que há uma produção de células com problemas, causando acúmulo na medula óssea, por outro lado, o processo de fabricação e maturação das células saudáveis continua acontecendo.

É importante salientar que a LLC é uma doença adquirida, ou desenvolvida, e não hereditária, e ainda não se sabe o motivo para o seu surgimento, mas, na maior parte dos casos, ela atinge pessoas com mais de 50 anos. Não há registros de crianças que tenham sido diagnosticadas com a doença e, por mais estranho que pareça, em alguns casos não será necessário realizar o tratamento.

Cientistas estudam continuamente as possíveis relações com o estilo de vida ou com fatores ambientais, mas ainda não foram alcançadas conclusões sólidas. Isso sugere que vários fatores podem estar envolvidos no desenvolvimento da leucemia.

O milagre

Logo depois do diagnóstico, recebi a visita no escritório de uma cliente. Ela me trouxe, num saco de supermercado, uma folhagem chamada CRAJIRÚ; ela me disse que era para eu fazer chá, que me faria bem. Não me lembro se eu contei a ela sobre o diagnóstico, fato é que o Crajirú, nome popular do Arrabidaea chica, é uma planta medicinal com propriedades que podem ser úteis no tratamento de leucemia e anemia, e estudos da EMBRAPA já demonstraram que o seu extrato possui ação antioxidante e cicatrizante.

Coincidência? Pode ser, mas prefiro pensar que foi resultado de lobby de São José lá em cima. Por isso, diante de uma situação que lhe parece difícil ou final, digo ao paciente leitor: apenas creia, pois milagres existem e, se inexoravelmente um dia vamos morrer, em todos os demais estaremos vivos. Portanto, não podemos esquecer de amar mais e nos importar menos com problemas pequenos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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