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Eduardo Appio

Juiz federal em Curitiba e pós Doutor em Direito Constitucional

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Peter Häberle: um gênio à frente de seu tempo

Somos um, mas somos muitos. Somos diferentes, mas iguais. A língua, a cultura e a religiosidade nos unem

Peter Häberle (Foto: Reprodução Youtube)

Poucas pessoas influenciaram tanto o discurso acadêmico e judicial no Brasil quanto Peter Häberle.
Uma pequena e conceituada editora do Rio Grande do Sul publicou seu livro na década de 1990 — a Sergio Fabris Editora —, causando verdadeira revolução entre os professores da área.

Eu fui afetado diretamente, assim como Lenio Streck, Ingo Sarlet, Andrea Zenker e outros autores.

O conceito de uma grande e democrática comunidade de intérpretes da Constituição, em um país que, como a Alemanha, praticava o sistema de controle concentrado de constitucionalidade, era algo paradoxal.

Em um sistema concentrado ou abstrato de constitucionalidade das leis, somente alguns poucos titulares detêm a prerrogativa de promover o controle de constitucionalidade na Corte Constitucional.

Häberle sugeriu um conceito universal e expansivo, de maneira que a Constituição alemã somente estaria viva se todos a invocassem como um argumento dotado de inquestionável legitimidade.

A democratização desse conceito — algo elementar a alguém que viva nos Estados Unidos — até então era vista com reservas na Europa continental. Havia uma justificada desconfiança contra juízes oriundos do ancien régime.

Uma sociedade aberta de intérpretes da Constituição era um projeto ambicioso e revolucionário. Ela empoderava cada um dos cidadãos para questionar a constitucionalidade de uma lei aprovada pelo elitista Parlamento.

O legado deixado pela obra de Peter Häberle toca diretamente nas deficiências do sistema eleitoral representativo puro no Brasil.

Nosso país comporta muitas raças e sotaques, dada a sua dimensão continental. Nem mesmo a maior rede de comunicação do Brasil conseguiu simplificar e unificar um povo que vive em condições tão distintas.

Ainda assim, somos todos brasileiros e deixaremos um legado de tolerância política e harmonia racial.

O grande experimento americano não se deu nos Estados Unidos, mas sim em nosso Brasil.

Tolerância, redenção e fraternidade são elementos que compõem nossa história e nossa antropologia.

Nenhum governo passageiro de quatro anos irá mudar esta realidade.

Somos um, mas somos muitos. Somos diferentes, mas iguais. A língua, a cultura e a religiosidade nos unem.

Brasil: a utopia realizada de Peter Häberle.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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